A Família (Os Gentleman Gentalha)

Dois rapazes amavam uma mesma mulher.

Um dos homens não tinha bens, não era pobre, mas não possuía bens materiais, apesar de se dotar de um ótimo humor, um bom conhecimento intelectual, cultural e disposição para enfrentar as barreiras, coisas estas que são bens mais valiosos que qualquer material, pois são estes bens que criam os materiais e nos mostram a beleza das artes. A ela, ele mostrou a beleza através de uma música, ao mundo, através de sua vida simples que, com toda simplicidade, alcançara complicados conhecimentos.

O outro homem era filho de uma família rica, que com toda a riqueza compraram tantos dotes quanto os de bom coração poderiam ter, porém, conhecimentos tão artificiais e automáticos quanto os sorrisos que imprimem, transmitindo, quase sempre, sentimentos adversos dos do seu íntimo, coisas de gentleman, pois a nobreza nunca está por baixo.

Caso é que estes dois rapazes amavam uma mesma mulher. Ela os conhecia, eram amigos. Com um ela tinha o improviso sincero, simples e gostoso, e com o outro ela tinha a saga, recheada de aventuras e coisas que só dinheiro proporciona: oportunidades.

Quando ela teve de se decidir com qual dos homens ficava, ela não levou nada em conta, pensou “simplesmente!” na oportunidade. Por horas ela imaginou como seria toda a sua vida ao lado de cada um dos rapazes. Com o primeiro ela se imaginou mãe de família, numa casa simples, o rapaz a tocar violão ao chegar em casa do trabalho, e às vezes eles a passear por um parque, uma praça. Com o outro ela se imaginava nas festas das grandes rodas da cidade, nas portas abertas, viagens, cruzeiros, sem filhos, aproveitando a vida! Pensou e decidiu. Aconteceu que, decidida, casou-se com o segundo, e todas as coisas que ela imaginou realmente aconteceram. Ela acreditava ser feliz.

Mas como ela não tinha pensado em tudo, acabou que se esqueceu de algo que nunca nos esquece, o tempo. O tempo passou e a mulher não resistiu a ele, apesar de todas as suas cirurgias, Botox e dolorosos métodos anti-idade. Envelheceu, já chegara aos cinquenta, não tinha filhos, seu marido já não a levava às grandes festas, preferia sair sozinho. E ela, sentindo-se tão só, numa manhã de domingo, pensava em seu passado e analisava de novo o seu futuro com os dois rapazes.

A família passava a ter um valor muito maior em seu intimo, ela sentia a necessidade de ter uma. Como estaria hoje se tivesse ido com o primeiro, pensava ela. Logo voltou a si, nobres não se arrependem, levantou seu nariz e foi ao shopping fazer compras.

Orestes Benedictis
Enviado por Orestes Benedictis em 04/09/2011
Reeditado em 05/10/2011
Código do texto: T3200138
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