Pré-amor.

Era um cara de seus vinte e poucos anos, diferente dos outros dalí. Barba por fazer, óculos, tênis desamarrado, cabelo bem curtinho e os olhos castanhos mais intrigantes que eu já havia visto. Sabe aquele ar de homem abandonado que te faz querer cuidar dele, cozinhar pra ele, estar em cima dele? Então.

No meu primeiro dia de trabalho, nos apresentamos tímida e rapidamente e logo cada um seguiu para sua mesa. Se todas as outras pessoas ali tivessem um AVC coletivo, nem ia ligar.

Ele -com aqueles olhos que pareciam ter no lugar de cílios, dentes- me olhou.

Eu -tentando disfarçar a minha assustadora vontade de agarrá-lo ali mesmo- sustentei o olhar e sorri.

Os outros(aqueles que durante o dia me chamavam pro café, pra almoçar, pra fumar, pra sair...) eram só corpos animados, que constantemente me atrapalhavam na única atividade que eu exercia naquele escritório com algum sentido: observá-lo.

E eu acabava respondendo um "A-hãn" pras perguntas idiotas sem sequer ouví-las, disperça em descobrir que música ele ouvia, o que ele estava lendo, que nível da perfeição aquela barba e aquele olhar tinham atingido hoje. Sempre disfarçadamente. Sempre sem dar bandeira de que todas as vezes que ele vinha me falar bom dia com aquele sorriso apagado e aqueles lábios tão beijáveis, eu me contorcia, lutando contra o meu próprio corpo para beijar apenas sua bochecha. Eu me segurava, para apertar apenas as suas mãos ao invés de seu corpo contra o meu. Pra chamá-lo apenas de Thiago, e não de "meu amor". Eu disse "meu amor"? Nossa.

31/08 - 15h00

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Comecei escrever esse texto hoje, queridos leitores, com a intenção de que essa história estivesse apenas começando. Amanhã, eu chamaria Thiago pra almoçar, pra tomar café ou pra sair. Mas, exatamente há trinta minutos, o meu departamento entrou em reunião. Cinco pessoas seriam demitidas. Eu, tranquila, quase deixei escapar um sorriso inadequado ao momento. Com cinco pessoas a menos, eu sentaria ao lado de Thiago. Com o Thiago entre essas pessoas, agora eu sento ao lado do arrependimento e da dor de perder um pré-amor.

Enquanto ele arrumava suas coisas, escrevi num pedacinho de papel meu telefone e coloquei em seu caderno. Ele, deixou a garrafa de Jack Daniels na minha mesa, aquela que fez iniciar a nossa primeira conversa com um "você sabe beber, hein". Espero que esse texto e a nossa história, não acabem por aqui.

ainda 31/08 - 17h30

nes_ste
Enviado por nes_ste em 31/08/2011
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