Sublime

Tenho andado entre os corredores, mural de minhas imagens passadas. Ao tempo brindei as bebidas, os sabores que ainda não deixei perder o gosto. Quando criança, o que importava era ser feliz. Agora não vejo diferença. Somos crianças, com alguma inocência escondida, brigando com o desgaste e o rancor de todas as tristezas, que apesar das lágrimas derramadas, deixamos que as secassem enquanto vivos, enquanto ainda temos algo a demonstrar. Por ti, juntei todos os cacos do que me restava. Não sei se ainda se lembra quando lhe disse que estava despreocupado, sem ânimo, quando apareceu você. Tornei-me necessário, tive que fazer. Não só por mim, por nós. Eu tive que ter você perto de mim. Busquei as mais belas palavras para te dar, e você as aceitou com um sorriso terno. O seu sorriso, ha, o seu sorriso! Breve e ao mesmo tempo longo, em que passo minutos, horas olhando, e você rindo, rindo sem perceber mais nada, apenas eu que a desenho, deitando em você, sem medo.

O que mais iria importar além dessas lembranças, se eu soubesse o que os outros sabem? Velho é o feto do nascimento de tudo, de todas as coisas. Talvez já se tenham dito que não existe certeza diante delas. Diante da boca, os olhos não querem enxergar mais nada, os olhos só querem o fim das palavras, um pouco de um beijo mascado, estalado, enfim, que se faça o amor em todos os sentidos. Eu não vou. Você também não vai me dizer. Deixa os ventos falarem, me deixa assanhar teus cabelos, brincar com teu rosto e com tuas mãos. E depois, quando formos embora, ter a certeza de que vamos voltar à mesma casa, ao mesmo lugar, ao mesmo recanto, nem que seja pela última vez, meu grande e vivido amor.