UM HOMEM, UMA MULHER, UMA NOITE
O hotel era simples. Enquanto o aguardava no saguão, pensou no paradoxo divertido entre sua vida calculada para não correr riscos, e o desejo de conhecer aquele homem. Lembrou-se do primeiro telefonema: um engano, prolongado por dois meses antes do encontro.
Tudo que poderia viver ao seu lado caberia numa noite. Provavelmente foi isso que Paulo imaginou, quando conversaram pela primeira vez. O número errado tocou em sua casa e a ligação aconteceu entre os dois. Ele procurava alguém com seu nome. Ela não era sua Helena, mas desejou ser.
A recepcionista chamou um funcionário do hotel e sua atenção voltou-se novamente para o saguão. Estava à espera de um homem que viria com uma camisa azul. Na última conversa, alguns momentos antes do encontro, ele perguntara:
- O que você prefere? Camisa azul ou bege?
Helena era uma mulher de poucas cores. Escolheu bege. E, então, como se fosse de extrema importância, recuou:
- Não. Definitivamente azul. Venha de azul.
Por sua vez, na maior transgressão de sua vida, escolheu a roupa mais discreta de seu armário. O terninho preto sem detalhe algum. Entretanto nem toda discrição a protegeria de sentir-se nua no instante em que o viu.
- Você não pretende se esconder agora?
A voz dele a fez sorrir como uma criança que reencontra sua família. Paulo olhava para aquela mulher com uma naturalidade desconcertante. Helena não sabia exatamente o que fazer. Desajeitada, inclinou-se para beijá-lo. Sentiu o contato da pele sem barbear arranhar a sua, e mesmo assim seu rosto parecia existir para estar colado ao dele. Entraram no elevador e ela não se conteve:
- Era mais simples quando conversávamos ao telefone. Fale alguma coisa antes que eu não saiba mais o que dizer.
Paulo apertou a tecla que correspondia ao andar do restaurante e sorriu. Helena sentia que iria corar em instantes. Ele percebeu seu constrangimento:
- Como alguém tão inteligente pode ser tão tola?
Helena olhou-o perplexa. Se alguém pudesse descrever exatamente o momento em que a paixão acontece, ela teria a sua resposta. Ali, diante da pergunta que a definia. Pensou na sensação de nudez – apesar da roupa – e entendeu que estava nua para aquele homem desde o primeiro olhar.
Ela, finalmente, era visível para alguém.
- O que você quer beber, Helena?
Sentiu-se obediente ao responder:
- Vodca.
Durante o jantar, conversaram como dois amigos que não se veem há muito tempo e depois do segundo drinque, Helena achou que o conhecia de uma vida inteira. Abençoou a vodca e sorriu ao pensar que era o álcool que a tranquilizara.
- Você deve ter percebido que nunca fiz isto antes.
- Isto, o quê, Helena?
- Sair com um estranho. Nem com os conhecidos eu...
- Não me importa o que você fez antes desta noite. Estou muito mais interessado em você aqui comigo.
Helena sabia que tudo só teria sentido apenas por uma noite. Aquela noite. Teve vontade de pedir mais tempo. Diante de algo tão passageiro em sua vida – aquele breve encontro – deu-se conta do que persistiria. Achou a vida injusta.
Naquele instante, Paulo tentou segurar sua mão e ela impediu. Ficou surpresa com a rapidez do seu reflexo. E a voz dele soava tão triste quanto a verdade:
- Você pretende mesmo se esconder.
(*) IMAGEM: Google
(*) versão modificada
http://www.dolcevita.prosaeverso.net
O hotel era simples. Enquanto o aguardava no saguão, pensou no paradoxo divertido entre sua vida calculada para não correr riscos, e o desejo de conhecer aquele homem. Lembrou-se do primeiro telefonema: um engano, prolongado por dois meses antes do encontro.
Tudo que poderia viver ao seu lado caberia numa noite. Provavelmente foi isso que Paulo imaginou, quando conversaram pela primeira vez. O número errado tocou em sua casa e a ligação aconteceu entre os dois. Ele procurava alguém com seu nome. Ela não era sua Helena, mas desejou ser.
A recepcionista chamou um funcionário do hotel e sua atenção voltou-se novamente para o saguão. Estava à espera de um homem que viria com uma camisa azul. Na última conversa, alguns momentos antes do encontro, ele perguntara:
- O que você prefere? Camisa azul ou bege?
Helena era uma mulher de poucas cores. Escolheu bege. E, então, como se fosse de extrema importância, recuou:
- Não. Definitivamente azul. Venha de azul.
Por sua vez, na maior transgressão de sua vida, escolheu a roupa mais discreta de seu armário. O terninho preto sem detalhe algum. Entretanto nem toda discrição a protegeria de sentir-se nua no instante em que o viu.
- Você não pretende se esconder agora?
A voz dele a fez sorrir como uma criança que reencontra sua família. Paulo olhava para aquela mulher com uma naturalidade desconcertante. Helena não sabia exatamente o que fazer. Desajeitada, inclinou-se para beijá-lo. Sentiu o contato da pele sem barbear arranhar a sua, e mesmo assim seu rosto parecia existir para estar colado ao dele. Entraram no elevador e ela não se conteve:
- Era mais simples quando conversávamos ao telefone. Fale alguma coisa antes que eu não saiba mais o que dizer.
Paulo apertou a tecla que correspondia ao andar do restaurante e sorriu. Helena sentia que iria corar em instantes. Ele percebeu seu constrangimento:
- Como alguém tão inteligente pode ser tão tola?
Helena olhou-o perplexa. Se alguém pudesse descrever exatamente o momento em que a paixão acontece, ela teria a sua resposta. Ali, diante da pergunta que a definia. Pensou na sensação de nudez – apesar da roupa – e entendeu que estava nua para aquele homem desde o primeiro olhar.
Ela, finalmente, era visível para alguém.
- O que você quer beber, Helena?
Sentiu-se obediente ao responder:
- Vodca.
Durante o jantar, conversaram como dois amigos que não se veem há muito tempo e depois do segundo drinque, Helena achou que o conhecia de uma vida inteira. Abençoou a vodca e sorriu ao pensar que era o álcool que a tranquilizara.
- Você deve ter percebido que nunca fiz isto antes.
- Isto, o quê, Helena?
- Sair com um estranho. Nem com os conhecidos eu...
- Não me importa o que você fez antes desta noite. Estou muito mais interessado em você aqui comigo.
Helena sabia que tudo só teria sentido apenas por uma noite. Aquela noite. Teve vontade de pedir mais tempo. Diante de algo tão passageiro em sua vida – aquele breve encontro – deu-se conta do que persistiria. Achou a vida injusta.
Naquele instante, Paulo tentou segurar sua mão e ela impediu. Ficou surpresa com a rapidez do seu reflexo. E a voz dele soava tão triste quanto a verdade:
- Você pretende mesmo se esconder.
(*) IMAGEM: Google
(*) versão modificada
http://www.dolcevita.prosaeverso.net