O cartão
Eram duas da tarde quando Veronica, estacionou seu carro na porta do banco, seus óculos escuros escondiam o choro duradouro da terrível noite que tivera, e que a cada segundo daquela segunda-feira ela tentava esquecer. O relógio de seu novo ex ainda estava em seu porta luvas, ela ainda não sabia se deveria ligar para ele buscar, ou pedir que sua amiga Monica fosse a intermediadora.
O mais importante para verônica era esquecer, o resto, ficaria para depois. Ao colocar os pés no estacionamento, logo foi recepcionada por um garoto pedindo para vigiar seu carro em troca de umas moedas, ela nada disse, apenas afirmou com a cabeça que o garoto poderia cumprir a sua nova missão.
Ao olhar fixamente para o posto de atendimento do banco, logo se deparou com a longa fila que teria que enfrentar, para ela tanto fazia perder horas em uma fila do que ficar trancada em seu escritório de contabilidade, para ela o mais importante naquela segunda-feira era se esconder do mundo.
Ao passar pela porta giratória, ela mexe em seus cabelos longos de cor acaju e ajusta seus óculos escuros no rosto, percebe que algumas pessoas a observa atentamente ela logo pensa: “deixa esse povo pensar que eu estou com conjuntivite”, depois disso ela sorriu discretamente de seu próprio pensamento.
Mais cedo, na panificadora, ela havia tentado comprar alguns pães e iogurte mais descobrira que seu cartão de crédito, por algum motivo estava bloqueado. Tentou sanar seu problema ligando na central de atendimento do cartão, mais foi informada que havia pendências que só poderia ser sanadas na sua própria agencia, ela não ficou chateada, pois o que mais queria naquela segunda, era se esconder de tudo e de todos.
Após o seu discreto sorriso no passar da porta giratória, pegou sua senha e sentou-se na cadeira abaixo do ar condicionado, devido a grande quantidade de pessoas a serem atendidas, ela calculava que só sairia daquele banco no fim da tarde.
Com a sua mania de observação, de longe, olhava uma senhorinha baixinha, cabelos grisalhos acompanhada por uma suposta neta , tal senhora não parava de resmungar e a jovem garota somente passava suas músicas em seu mp4. Mais a frente uma mulher de vestimenta simples, cabelos presos e um lenço que levava a cada três segundos ao nariz, atrás dela um adolescente munido de papeis, ela deduziu que ele fosse oficce boy devido ao capacete que levava na altura da cabeça.
A confecção de personagens que Veronica estava fazendo, foi interrompida com as mãos em seu ombro direito de uma atendente do banco que com um sorriso aberto logo perguntou:
- A senhora aceita uma água?
Veronica respondeu:
-Não, obrigada querida.
Veronica sorriu e observou a mocinha indo até a pessoa que estava ao seu lado, fazendo a mesma pergunta. Não se ateve muito aos detalhes da cena, preocupou-se com o batom dentro de sua bolsa e ao mexer ouviu uma voz dizendo:
-Todo banco é igual, amarguei duas horas de manha em um outro, e lá também tinha uma mocinha fazendo essas mesmas perguntinhas. É um saco mesmo, as leis que tratam de espera em bancos deveriam ser respeitadas.
Veronica ouviu atentamente a queixa e virou-se de lado para saber quem as estava proferindo, era um rapaz de por volta trinta anos, alto , cabelos pretos , olhos castanhos terno e gravata.Ela apenas sorriu e disse:
- É verdade.
Ao passar o batom em seus lábios, percebeu que estava sendo observada por aquele rapaz, cada movimento seu retocando o batom em seus lábios até o momento em que ela o guardou na bolsa o rapaz a observava com um sorriso e um olhar terno.
Veronica fingiu que não havia percebido, pegou seu celular e começou a teclar umas mensagens de texto. Ouviu outra vez aquele rapaz:
- Hoje não é o meu dia de sorte mesmo, tinha muitas coisas para fazer em meu trabalho e no meu prédio onde sou sindico, perdi uma manha e estou perdendo uma tarde em uma fila de banco.
Veronica respondeu:
- Se fosse só você!
Veronica continuou teclando em seu celular, e o rapaz continuou a observa-la , ela não revidou, apenas correspondeu rapidamente ao olhar dele, e voltou a teclar. Novamente o rapaz com um lindo sorriso disse:
- Desculpe eu te observar tanto, mais acontece é que você parece com uma pessoa que eu conheço.
Veronica perguntou:
-Quem?
Ele respondeu:
-Minha mãe.
Ela ficou observando o rapaz e ele a observou durante poucos segundos seus olhares se cruzaram, ele puxou uma leve gargalhada e ela o acompanhou.
Ele tirou um cartão do bolso e entregou para ela, ela recebeu o cartão e viu que ele era professor universitário e advogado. Em seguida ele estendeu sua mão e disse:
-Lauro, prazer!
-Veronica, prazer!
-Desculpe a comparação, mais tenho a nítida certeza que te elogiei, pois minha mãe apesar de ter o dobro da sua idade, é uma mulher linda, estonteante.
- Obrigada, mais não é para tanto.
Os dois riram, e o atendente da mesa tocou o a campainha,era a vez de Lauro ser atendido, ele levantou-se e rindo foi até a mesa. Ela ainda feliz pelo elogio olhou para a sua senha e percebeu que o tempo voara e que ela seria a próxima a ser atendida.
Procurou em sua carteira seus documentos pessoais, mais não conseguiu encontrar o seu cartão de crédito , sua razão de estar ali. Disse para si mesma:
-Droga!
Foi quase correndo para fora do banco, sua esperança era de que seu cartão estivesse no carro, chegou próximo ao carro e o garoto ainda estava lá abriu a porta rapidamente, nem percebeu o menino. Abriu o porta-luvas e o relógio de seu novo ex estava lá ela o jogou com um certo desprezo para longe e por sorte sua encontrou o cartão.
Voltou para o banco, o rapaz da mesa de atendimento, acenou para ela, ela se dirigiu até a mesa e o rapaz pediu que ela aguardasse pois seria a próxima a ser atendida.
Veronica percebeu que do tempo em que perdeu em sua busca, foram atendidas quatro pessoas incluindo Lauro. Assustada percebeu que havia perdido o cartão de visitas de Lauro, triste aguardou atendimento.
Saiu do banco, deu umas moedas para o garoto que cuidou de seu carro, quando estava acelerando foi surpreendida com o garoto em frente a seu carro pedindo para parar. Ela abaixou o vidro do carro e o garoto entregou para Veronica o cartão de visitas de Lauro juntamente com um bilhete:
“Essa foi a segunda –feira de maior sorte dos meus últimos anos, logo cedo encontrei uma linda moça na padaria, e essa mesma moça sentou-se ao meu lado no segundo banco em que eu fui hoje. Ao sair deste mesmo banco encontrei um lindo relógio masculino próximo ao pneu de meu carro. Depositei minha esperança em um garotinho para que ele levasse a minha felicidade ao conhecimento desta linda princesa que Le este bilhete.”
Verônica gargalhou e encostando a cabeça no banco do carro, não parou de sorrir.