Vice-Versa
Tudo aconteceu numa tarde comum de outono, sem cor e sem cheiro como todas as outras. Eu senti o seu perfume e o gosto da tua boca através de palavras.
-Eu sou etérea por ser ou por não me tocar, pela distância?
- Se você fosse assim tão etérea eu não teria você dentro de mim. Fumaça não se pode tocar, mas o cheiro gruda no corpo. Eu me lavo todos os dias na esperança que você saia, mas teu cheiro continua aqui.
- Você me faz mais real.
- Você se faz real em mim.
- É tudo tão elucidado que eu me pergunto se você, sou eu.
Você sempre me define tão bem...
- Acho que você já está tão em mim que eu não reconheço meu começo, meio e fim.
- Você, eu, quem começou , quem termina...quem é quem.
- É nessas horas que eu penso que eu e você, pertinho, seria primavera o tempo todo.
- É. Falar o que você respira. Sê você meu fim, eu teu início. Vice e versa.
Se perder em outro alguém de um modo tão avassalador e confuso é uma das sensações mais deliciosas do mundo. Somos figuras mitológicas que correm atrás da própria cauda, serpentes inebriadas que fecham um circuito cíclico sem começo, meio ou fim. Sê meu fim, eu teu início... Vice e versa. Eternamente.