Peter e Mel no embalo de um doce amor
( Como tudo não começou-Parte I )


Era fevereiro de 1999. Um ano como outro qualquer.
A vida seguia o seu rumo. Um novo ano, Mel não tinha grandes projetos, porém iniciava seu ensaio para uma nova experiência de vida.
Estava receosa em trocar o conforto que supostamente lhe era oferecido, não estava certa de suas escolhas, nem sabia o que fazer exatamente.  Mas algo a deixava inquieta, em nome do conforto, muitas de suas vontades ficavam aprisionadas, bem como talentos adormecidos.
Mel passara a questionar valores, ficava desapontada em alguns momentos por não poder expressar muitas de suas vontades, de ter que aprisionar muitos gritos de êxtase ou de insatisfação. Havia muita discórdia do seu eu interior com o exterior em que vivia.
Deixara já tão jovem, que seus sonhos de menina fossem envolvidos pela responsabilidade de uma mulher. De menina sonhadora à mulher realizadora, foi à mutação.
Mergulhava com afinco no trabalho, sua entrega a toda e qualquer atividade realizada era verdadeira e total. Realizava com amor, felicitava-se com suas realizações, e eram muitas, lhe concediam status, poder e um contentamento temporário.
Como na vida acontecem coisas inexplicáveis, Mel trilhava um caminho que nem mesmo ao certo sabia por que lhe foi apresentado. Não podia imaginar quantas surpresas ao longo da caminhada, quantos risos, sorrisos, choros, abraços, cansaço, conquistas, derrotas, vitórias, alegrias e tristezas estavam previstas para o roteiro de sua caminhada. Personagens dos mais variados, uns amáveis, outros nem tanto, uns gentis, outros nem tanto, uns verdadeiros, outros nem tanto.
Fato é que, os personagens que aos poucos compunham o cenário, transformaram Mel menina em Mel mulher, que acreditou e desacreditou nas pessoas, mas que, sobretudo aprendeu com cada olhar, expressão e palavra que há sempre mais o que aprender do que lamentar, que viver é uma virtude, que o mérito não é sentar a sombra embaixo de uma árvore, mas plantar uma sementinha, cuidar, regar e se dedicar para que o seu jardim esteja florido e perfumado,  deixando que o vento leve o perfume pelos mais distantes caminhos...
Para Mel, as coisas nunca foram fáceis, mas as dificuldades apresentadas em cada novo desafio sempre funcionaram como combustível para impulsionar sua caminhada e a busca pelos seus ideais, para as concretizações de seus sonhos, para o alcance das metas impostas. Muita tempestade, e também calmaria.  Muitas vezes, lágrimas e sorrisos estiveram tão aparentes na sua moldura facial, que puderam revelar um coração tão nobre e frágil ao mesmo tempo.
Mas o caminho exigia suas pegadas, percebeu que fugir da trilha atrasa o crescimento, prolonga a dor, permanecer por ele e aprender com as mais variadas cenas, permite uma deliciosa colheita.
E como tudo não aconteceu?
Há tempo para todas as coisas, Mel perceberia lá na frente que foi colocada numa cena passada apenas para reconhecer cenas futuras, havia ainda muito que aprender.
Por um curto período sua rota foi desviada.
Mel conheceu alguém que lhe encheu o coração, não de amor naquele momento, mas de admiração, respeito, carinho. Não pretendia nada mais, do que daquele homem absorver conhecimento, aprendizado. Ele exercia certo poder de aprisionar seu olhar e atenção, tinha um sorriso encantador, inteligente, sarcástico, irônico, profissional. Muitas de suas falas estariam preservadas na memória de Mel ainda que inconscientemente, por longos anos, ela mesma constataria depois.
Era uma sala de aula, Mel aluna, Peter professor. A relação era tão somente esta, aluna x professor...
Insegura e receosa, do breve desvio da sua caminhada Mel retornou ao seu habitat, que parecia mais seguro. Mel desistiu das trilhas do novo percurso, estava apenas engatinhando e não ousou ficar de pé e dar os primeiros passos.
A vida ainda lhe reservava tantas surpresas, aquele ainda não era o momento de mudança. Se há tempo para todas as coisas, definitivamente, aquele não era o seu tempo. Havia ainda muito que aprender.
Desistindo de uma de suas vontades, fugindo de sua própria necessidade de mudança, de uma busca que nem mesmo ao certo sabia aonde levaria, Mel deixou então, a sala de aula da faculdade para aprender nos pátios da vida.
O ano era 2000, e desta data, por um longo período os olhos de Mel e Peter não mais se cruzariam, por mais de uma década...

Como tudo não começou naquele momento... felizmente chegará um dia em que o roteiro muda para: como tudo começou...

(cenas do próximo capítulo... Mel e Peter no embalo de um doce amor)