A Partida da Bella
Tem coisas que acontecem sem a gente planejar. São amores que vem e que passam, mas que deixam marcas em todo lugar.
Me lembro quando havia acabado de entrar na faculdade. Tinha muitos amigos e adorávamos nos divertir, em muitos casos, às custas dos outros.
Certo dia estávamos sentados no refeitório quando passou por nós uma garota, de aparência tímida e cabelo engraçado. A pobrezinha com a bandeja de lanche tropeçou e caiu no chão. Ficou toda suja de suco e molho de tomate. Todos ficamos rindo da cara dela e ela começou a chorar. Por algum motivo aquilo me chamou a atenção e resolvi ajudá-la. Muito nervosa, ela me empurrou falando palavras duras.
Quando se virou de costas eu puxei os seus cabelos, os quais saíram, todos nas minhas mãos. A menina era careca e usava perucas.
Muito nervosa e chorando, me tomou a peruca, colocou-a de qualquer jeito e saiu correndo aos prantos. Aquilo ficou a noite toda na minha cabeça.
No dia seguinte tentei me aproximar dela e novamente fui rejeitado. Lhe pedi desculpas e depois de muito insistir consegui aproximar-me dela. Bella sofria de um tipo raro de câncer e não tinha mais que três meses de vida.
O mais estranho é que ela não saia mais da minha cabeça. Dias depois, quando já éramos amigos eu a chamei pra sair e começamos a namorar. Era estranho namorar alguém que já está para morrer. Não teríamos tempo de nos amar, casar, ter filhos, enfim. Isso sem contar que, à medida que a doença foi se agravando, passávamos a maioria do tempo num hospital.
Comecei a me desesperar. Como seria agora? Eu estava apaixonado, perdidamente apaixonado por alguém que, brevemente partiria para sempre. Ela dizia me amar e não conseguíamos mais ficar distantes um do outro.
No mês seguinte os pais dela me entregaram uma caixinha. Ali estavam depositadas as cinzas de Bella, as quais eu deveria depositar num jardim que costumávamos namorar. Recebi também um caderninho com vários poemas que ela me escreveu, mas pediu aos pais só me entregarem após sua partida.
Hoje completaram-se dois anos que estou sem a Bella. Eu sofri muito no começo de sua partida mas hoje algo me faz sentir bem. Sei que, apesar de terem sido poucos meses, pudemos nos amar, e eu a fiz feliz na ocasião de sua partida, que, de alguma maneira parece ter sido menos dura para ela.
Então assim é o amor. Amor que vem e que passa, curto, mas poderoso para deixar marcas em todos os lugares.