RECORDANDO O AMOR -III
O tempo passa e as lembranças continuam. Na sala onde se encontrava, Luna visualizou um quadro, lindo, que há tempos encontrava-se pendurado na parede de seu atelier, mas que tinha perdido seu encanto. Mais uma peça decorativa que ali estava.
Era um gobelin, presente de seu pai, que retrata uma cena da idade moderna por volta do século XVI, um casal sugerindo movimentos de dança.
Olhou-o e imaginou ser aquela dama, com seu vestido em seda azul turquesa, cabelos alinhados ao alto da cabeça a bailar com um belo jovem ao som de um instrumento de corda tipo bandolim.
Recordou-se dos tempos que adorava dançar, “sacudir os quartos” como sua avó não cansava de dizer e reclamando sempre que “esta menina vive a passear, não fica em casa”. Coisas de avó. Mas sua avó não sabia que o que ela mais gostava era de sair para encontrar com seus possíveis namorados, curtir a vida junto com as amigas. Era o encanto da juventude, paquerar, namorar.
Esta volta no tempo trouxe-lhe lembranças. Boas lembranças.
Procurava sempre ir bem vestida, pois sabia que se não estivesse a contento, seria alvo de chacotas da ditas inimigas intimas, por isso usava todo esmero possível para sempre ser notada, e o era.
Estas lembranças despertaram nela a curiosidade de rever um álbum de fotografias. E ao abrir-lo notou uma foto que estava descolada da página em que deveria estar. Nesta imagem estavam ela e João Pedro, seu marido, sentados sobre uma duna de areia à beira da praia, onde ambos observavam que as idas e vindas das ondas do mar, apagavam as pegadas das pessoas que por sua orla circulavam. Lembrou-se da doce sensação ao caminhar na areia morna e fofa que a pessoa sente. Sabia que as pegadas deixadas eram um caminho a ser seguido e que somente dependeria dela qual o rumo que deveria ser tomado. Deveria deixar que o mar viesse apagar suas pegadas para sempre ou deixar ele apenas apagá-las, limpá-las para que aconteça um novo recomeço?
E fez uma analogia com sua estória de hoje. Relembrou-se sobre o quanto a vida é sábia. Pois foram bons momentos vividos. Como foram lindos aqueles instantes. Uma lágrima caiu de seus olhos escorrendo em sua face e ela pôs-se a pensar, questionando-se sobre a causa de tanta desilusão, sobre o por quê de tal atitude hoje. Será que estava agindo de forma correta? Só sabia que a vida pode pregar algumas peças, mas era dona de suas atitudes, sentia-se uma lutadora e que suas pegadas jamais serão apagadas.