MORANGOS ENCANTADOS
Como sempre, todos os anos íamos à cidade natal de mamãe para passarmos o dia de Finados.
Sempre a mesma rotina, mas os fatos que aconteciam faziam a diferença e, o mais interessante era que neste dia sempre o dia estava lindo, com o sol brilhando e transmitindo um calorzinho de primavera adorável que sugeria o quanto um sorvete cairia bem, como também ir colher e comer moranguinhos direto do pé.
Como toda a criança obediente, meus irmãos e eu, primeiro íamos ao cemitério com vovó e mamãe onde era rezado todo o terço para depois sairmos a passear e ir tomar o tão esperado e merecido sorvete, como se fosse um prêmio pelo bom comportamento. O que sempre acontecia, e o degustávamos como se fosse a primeira vez. Imagine, sorvete com fruta natural, feito pelo Zadra, sorveteiro famoso da cidade, que além de ser um ótimo doceiro, acrescentava um pitadidinha de amor em tudo o que fazia.
Foi em um destes um dias que conheci um belo guri. Lindo mesmo. Ele chamou minha atenção por ser gentil, pois no embalo de pegar o meu sorvete, de uma forma um tanto desajeitada, estabanada, tropecei, indo ao chão e lógicamente sujando minha roupa e o pior, sendo motivo de risos de meus irmão e outras pessoas que ali estavam. Até o guri riu, mas ele era tão encantador quem não me incomodou seu riso disfarçado, pois foi o único que me auxiliou a levantar. Parecia que eu tinha visto um “passarinho verde”. Coisas de guria. Imaginem, sorvete de morango e um guri encantador. O que mais eu poderia querer na minha linda adolescência além de criar sonhos?
Esta fruta doce, macia, com seu frescor incontestável, marcou demais minha vida, pois hoje quando os como, lembro de quando os colhia e dos sorvetes que me deliciavam, fazendo com que hoje sinta minha boca salivar e voltar meu pensamento aos tempos dos novembros que vivi.
E aquele guri encantador seguiu seu rumo. Nunca mais o vi, mas quem sabe um dia o sorvete de morango não nos atrairá novamente?