Uma cançao de amor.

Uma canção de amor

1991

Lara escovava com força o cabelo que voava ao sabor do vento que entrava por uma janela ao fundo, sorria o pensamento pairava longe. Rock in rio, era o show esperado por ela, sobre a cama a calça jeans surrada e companheira de tantas aventuras, apesar de ter dezoito anos, os pais não permitia que ela fosse. Teria que arquitetar um plano para ir. Janaina não parava de falar na noite anterior, kid abelha, legião urbana estaria cantando as musicas do momento, a-há com certeza lhe faria vibrar. E Lara queria ir.

Olhou os pais na frente da Tv, concentrados na noticia, as forças armadas dos EUA invadem o Iraque, não pensaram muito ao dizer que ela podia sim dormir na casa de Janaina, o verão ia alto, o calor e a adrenalina ao sair juntou a jaqueta de couro, iria proteger da chuva que caia livremente, Mariza monte cantava em sua mente, e ela saia livre e pronta para a noite de estreia.

Encontrou Janaina cantarolando Madona, o jeito em que ela dançava não dava para não rir, ali duas adolescentes pronta para a noite, o pai de Janaina lhe entregava a chave do carro enchendo as duas de recomendações, os cabelos, o batom, a camisa de malha e o riso solto, foi naquela noite que Lara conheceu Marco Antônio, claro, alto e com um sorriso lindo, ele conversava com André amigo de Janaina, Lara não sabia exatamente o que acontecia, ate aquela noite achava os garotos chatos e sem assunto, gostava de curtir musica e amava dançar, uma boa conversa. Ate então gostava dos estudos e vencer metas e tirar boas notas era o que mais pensava no momento, o vestibular naquele ano era um desafio, o inicio de uma nova fase, e o pai lhe prometera um estagio na empresa, ela sonhava com a independência e o sonho de ter um apartamento só seu. Após o show o dia amanhecia no Rio de janeiro e o mar com sua beleza estonteante, o sol tímido no inicio da manha, na areia apenas o barulho das ondas que chegavam perto demais dos dormentes e eles estavam ali, os quatro sem saber o que aconteceria a seguir.

Lara e Janaina se olharam teriam que voltar logo e isso já estavam indo longe demais, as conversas, os beijos, o abraço, seria bom ir além? Tudo que sua mãe lhe dissera agora chegava como uma bomba em sua mente.

Naquele olhar estava também a resposta, e juntas saíram correndo em direção ao local onde deixaram o carro, entraram depressa sem dizer nada, o caminho foi em silencio, e a chegada um alivio, não entendiam porque corriam, porque sentiram medo apenas estavam assustadas, nunca tinham ido tão longe, nem fizeram algo que pudessem se arrepender, ao chegar à casa de Janaina, depararam com os pais, olhos vermelhos, cabelos desalinhados a espera na sala, no sofá ao canto os pais de Lara cochilavam recostados um no outro.

Paralisadas não souberam o que dizer e apenas entraram nesse instante os pais de Lara a tomaram pelo braço a encaminhando para casa, e Janaina sentou-se no sofá, não tinham que explicar, apenas ouviu o sermão e daquele dia em diante não sairia de casa por pelo menos um mês; mas Lara não sairia mais, nem teria o presente que ganharia dos pais, essa irresponsabilidade tirara a sorte de ter seu carro, seu sonho e estava proibida de ver Janaina novamente.

Diariamente de Mariza Monte cantava no radio e a voz e os dedos mágicos tentava acertar a nota no violão.

Marco Antônio não concentrava mais, apenas pensava em Lara e no motivo que a fez sair correndo daquele jeito com um sorriso no canto dos lábios lembrava e relembrava a reação daquela garota ao simples toque de suas mãos em seu corpo. Ainda sentia o tremor e o medo nos olhos doce e a meiguice de menina no corpo de mulher. Decidido procurou André esse sentado na calçada pensativo também, um cumprimento e o mesmo assunto que encucava os dois.

Não tiveram duvida, naquela noite foram procurar por Janaina. Ao atender ao telefone ela ouviu a voz de André e sem saber o que fazer, desceu para conversar, como explicar o que aconteceu? Não podia dizer que estava de castigo, nem que os pais de Lara a colocaram de castigo por saírem escondidas e sem dizer aonde iam.

Para não parecer infantil, entrou no carro e foram em direção a casa de Lara, ao chegarem não viram nenhum sinal da família. Voltaram para casa, onde Janaina levou uma bronca e dessa vez, não foi só de castigo que ela ficou levando do pai em plenos dezenove anos uma surra, aquilo ficou gravado em sua memoria, e de Lara nenhuma noticia.

Já era mês de outubro e naquela madrugada Ayrton Senna conquistava o tricampeonato mundial, Marco Antônio assistia, vibrava e fazia mais uma canção, sem tirar do pensamento Lara, Janaina sabia apenas que os pais mudaram e que ela não estava estudando. A amizade de infância fora interrompida naquela manha, mas as lembranças e os sorrisos ficaram o vestibular estava a mil por hora e Janaina estudava dia e noite, André a encontrava nos intervalos da escola, e se encontravam escondidos, os pais dela não aceitavam o namoro, juntos apesar de tudo, se preocupavam com o que havia acontecido com Lara, e Marco Antônio que não a esquecia. Por quê?

O mês de novembro chegou com uma forte chuva e um resfriado forte para Lara, ao lado de sua cama em um berço branco com flores azuis e rosa uma menina dormia tranquila, Gabrielle tinha os cabelos negros e grandes cílios, os lábios pareciam um botão de rosa se abrindo, as mãos dedos longos e os olhos verdes dormiam tranquilos.

Lara se levantava para ir trabalhar, a baba chegava as sete e meia, era a conta de tomar um banho, um café e sair. Mais uma olhada na filha que dormia e sair. Lara mais uma vez se lembrou de sua mãe, que falecera antes mesmo de ver a neta nascer, assim ela teve que tomar a rédea da família e seguir, trabalhava e cuidava da casa, o pai chegava cada vez mais tarde , a bebida foi o refugio das noites de solidão, e sempre chegava alterado, preferindo ir para o quarto.

A canção “hoje a noite não tem luar” de Renato Russo cantava no radio, ela murmurava essa canção sempre ao fazer a filha dormir, sorriu ao se lembrar do pai de Gabrielle e da forma como fora obrigada a se afastar de tudo e todos após a gravidez. Isso a incomodava, mas não iria desistir. De procurar saber tudo sobre aquele homem que só vira uma vez na vida e que trouxe a vida dela tanta mudança.

Naquela manha, quando Lara desmaiou, fora levada ao medico, ao constatar a gravidez os pais trataram de mudar de casa e a tiraram do colégio, a mãe teve uma parada cardíaca e essa culpa a punia de forma que passou a ser mais que submissa, sem opinião e sem o apoio, se sentindo envergonhada aceitou tudo quanto os pais lhe impunham, dois meses antes de Gabrielle nascer, arrumaram tudo, lavaram e passaram a ferro as roupas, fizeram um painel no quarto, colocaram forro branco com tons em azul, rosa e verde-água.

Mae e filha se tornaram tão amigas que não sabiam ir de um lugar a outro sozinho, e foi na emoção de ver a ultrassonografia e a certeza de que teria uma neta que sua mãe tivera o infarto fulminante, morrera sorrindo e com os olhos brilhando, levando consigo toda a emoção de ser avó. O pai depois disso ficou ali, sem ação, olhava a filha e começava a dizer dos sonhos que tivera e de como teria sido diferente a vida sem aquela criança, mas Lara não deixava as palavras do pai abater, feliz com a gravidez e com a filha que iria chegar, não deixou nada a abalar.

Agora estava ali ouvindo a canção e dizendo a filha palavras de carinho, prometendo que em sua adolescência ela seria diferente, não usaria de violência e seriam grandes amigas, dividindo segredos e em harmonia.

O mês de dezembro chegou, natal e a falta da mãe a deixava triste, não havia mesa posta, arvore de natal nem o pai estava em casa, conhecera uma mulher mais jovem, funcionaria da empresa e todas as noites era assim, não havia alegria de natal, nem presentes, nem abraços e nem Janaina.

Arrumou-se e pegou Gabrielle para dar um passeio, colocou o presente do pai ao pé da cama e saiu, a noite estava linda e não parecia que iria chover, estacionou o carro e desceu com a filha indo para frente do mar, ali se sentou começando a mostrar para a filha o mar, as estrelas, sentindo as lagrima rolarem por seu rosto jovem começou a cantarolar a musica Como eu quero de kid Abelha que tantas vezes cantou com Janaina e que cantaram juntas naquela praia e pensou em Marco Antônio, foi ali que tudo aconteceu, antes mesmo do dia nascer. Não percebeu que alguém chegava devagar, com medo e assustada virou para trás o jovem se aproximou e a claridade fez que Lara reconhecesse era ele que a olhava surpreso, a única coisa que ele conseguiu dizer era que nunca a esquecera e não entendia porque sumiu e fugiu dele daquela maneira, e ao ver nos braços a menina ficou ainda mais triste, perguntando se havia casado, e ela apenas ria, ele saiu correndo, para esconder as lagrimas, ela então percebeu que não adiantaria nada contar a ele e que talvez não valesse a pena, ela entrou no carro e foi embora.

Janaina e André estavam mais unidos e naquele final de ano ficariam noivos, as faculdades fariam juntos e casados.

Fazia um ano da travessura das amigas e a saudade apertava, o pai de Lara cada vez mais envolvido com a namorada nem sequer lembrava-se da filha, e dividindo os bens deu a parte que cabia a Lara, essa comprou o sonhado apartamento, mudando com a filha para o prédio novo em um lindo condomínio, e foi assim que ao sair com Gabrielle para um passeio, cantando “porque eu não desisto de você, “ que ela encontrou no corredor, Janaina, André e Marco Antônio, ali os quatro frente a frente, sem entender nada, as amigas abraçadas emocionadas com as lagrimas entre sorrisos, e as mesmas perguntas, foram para o parque e lá descobriram que seriam vizinhas, e ao apresentar a filha, olhou para Marco Antônio que chorava, ele tinha medo de que Lara tivesse casado, ou que não fosse dele a criança daquela noite.

Janaina e André tomaram Gabrielle no colo e se afastaram para curtir a menina que sorria tentando alcançar o brinco na orelha, naquele momento não existiu som além do beijo que os unia.

Marco Antônio era vocalista de uma banda e tocava nos bares da cidade, Lara voltara a estudar, Janaina e André se casaram e Gabrielle completava seu primeiro aninho, o papai orgulhoso tocava em seu aniversario uma canção feita para ela. E no final da festa apenas os quatro e os cinco e o bebe que Janaina esperava ouviram no som “take on me” e deram risada ao lembrarem-se do susto da noite que se conheceram.

2011

Vinte anos depois, Gabrielle chega em casa com a filha e a avó começa a cantar velhas canções que a fizeram feliz.

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crisviana
Enviado por crisviana em 23/07/2011
Código do texto: T3113887
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