LUNA NA JANELA - II

Moça com beleza diferente, não podendo ser classificada como uma “miss”, mas com muito brilho no olhar, com sonhos e ideais a serem realizados. Hoje vive em uma cidade grande, mas sua infância e juventude foram vividos no interior do estado, onde ao lado de seus irmãos fazia suas peraltices através de brincadeiras infantis.

Sua infância foi feliz. Nasceu em um berço de família unida, onde ela e seus irmãos viviam a criar brincadeiras que lhes eram permitidas, pois viviam em uma cidade pequena e moravam em uma casa com um grande jardim, pomar com muitas árvores frutíferas e um canil. Enfim, espaço para crescer livre, cercada de natureza e amor, nunca lhe faltou.

Luna desde cedo, na fase da escolaridade, era brilhante, e com sua facilidade em assimilar os conteúdos escolares, sempre conseguia atingir os objetivos, sendo que com seus dezoito anos já era professora formada, iniciando logo a trabalhar na função que tanto lhe trazia satisfação.

Mas seus sonhos continuavam. Precisava iniciar faculdade. E assim o fez e, quatro anos após, aos 22 anos concluía o curso superior tão almejado.

Como tinha metas, mesmo sentindo-se realizada profissionalmente, sabia que ainda dependia dela buscar seus outros ideais, como casar, ter filhos e aperfeiçoar-se mais na área profissional que atuava, fatos estes que não demoraram a acontecer. Casou, teve três filhos e concluiu o mestrado. Tudo como sempre almejou.

Mas agora tinha chegado a hora de tomar sua decisão. Os filhos estavam criados. As palavras neste momento fogem, a separação é muito doída. Ela não sabia se conseguiria seguir seu destino, mas sabia que iria com o coração na mão, mas mesmo assim vacilava quando pensava na separação.

Ela já tinha parado muitas vezes e ficado a pensar porque está sempre fugindo, talvez seja do passado que ainda a perturbava e gostaria de voltar nele e fazer tudo diferente. Mas não conseguia entender o quê a atormentava. E essa busca interior estava apenas iniciando.

Só sei que ela queria ter estes filhos, pois cada um tinha um lugar especial em seu coração. O passado deveria ser apagado da mente humana, somente lembranças boas deveriam ficar registradas. Mas como tudo, o tempo não para e, além disso, não volta. Ela sentia que era preciso encarar a realidade, ser forte e começar um novo caminho, ela e seus filhos. Talvez precisasse deixar as emoções e seguir somente com a certeza que os laços são eternos e que os filhos são de espírito e que assim nunca os perderá de vista. Tentava acreditar que estava fazendo a coisa certa, para livrar um filho do inferno e sabia que precisava se sacrificar e que com a atitude que decidira magoaria sua família. Sabia que sua filha precisa também escrever seu próprio destino, fazer a sua estória.

Luna tinha muitos amigos, muitos clientes e alunos que por admirá-los os ensinou alguns caminhos e que agora terão que seguir conforme o vento levar. Terão que decidir sem muito tempo, terão que ouvir suas intuições. Em suas súplicas conversava com Deus, sobre o quanto é difícil a ruptura de um mundo que sonhou, de um lar que planejara, construído com amor e muito cuidado para que o tempo não o destruísse. Sabia ela que teria que construir outro lar, fazer outros amigos, outros clientes, outros alunos, para novamente ensiná-los a caminhar com intuição e com o vento.

Hoje, através dos vidros da janela de seu “atelier”, onde os raios de sol iluminam e dão brilho ao ambiente, Luna olha para trás e vê o quanto cresceu, aprendeu a olhar o mundo de fora para dentro. Aprendeu com algumas perdas a olhar os outros e caminhar com os outros, pois a vida é cheia de surpresas, sempre nos colocando a prova de algo para aprendermos que precisamos caminhar deixando pegadas boas a serem seguidas.

Soninha Rostro
Enviado por Soninha Rostro em 23/07/2011
Reeditado em 30/07/2011
Código do texto: T3113638