CORAÇÃO FERIDO

Foi um dia depois da pagodeira na Fazenda Lajeado, a aurora não chegava romper, mas o Jesuíno caieira já havia arreado sua mula e colocado seus pertences em duas grandes canastra que estavam acomodadas no lombo de um burro.

A intenção do homem era sumir dali para nunca mais retornar. Havia conversa esparramada de que ele estava perdido de amor pela Lúcia Carvalho de Menezes. Logo com quem que o Jesuíno foi se encasquetar. A Lúcia era ninguém menos que a filha do Coronel Bento Carvalho de Menezes, ricaço de invernada cheia de bois e de armazém lotado de sacas de café.

Jesuíno botou o traseiro no lombilho, segurou firme o cabresto do burro que carregava as duas canastras, e começou aquela viagem para qualquer lugar que fosse muito distante da Fazenda Lajeado.

Mas ele sabia que tinha que sumir dali, escolheu não botar mais os olhos no semblante trigueiro da Lúcia Carvalho. Sumindo no mundo ele achava que iria sofrer menos. Mas Jesuíno cogitava outras vertentes para o desenrolar da sua desdita, não tava excluído do seu peito magoado até uma vingança; do tipo: o que não pode ser meu não vai ser de mais ninguém.

Num gesto quase instintivo pegou o corredor boiadeiro de Riachão das Perobas, no cruzamento deste com a estrada de rodagem, ele marcou rumo do sul de goiás e jogou sua mula, que era destra e firme no rumo que o coração ordenava. De inicio chegou a alimentar no coração algum desejo de vingança. Mas pouco a pouco, o contato com a pastaria verde e com os grandes riachos ricos em peixes, pôs o bardo Jesuíno em contato com uma verdade salvadora. De agora em diante Jesuíno iria viver a vida do jeito que ela fora feita para ser vivida.