O Poeta e o Amor

A vida prega peças aos corações amantes. Neste mundo, onde o amor, cada vez mais, toma um papel de cafona, aqueles que amam, na maioria das vezes, sofrem por amar. Então, alguns destes amantes tornam-se, aos poucos, pessoas frias e comuns, vagando em busca de prazeres momentâneos enquanto a felicidade está na fixação de um alicerce, alicerce este que encontramos em nossos companheiros, companheiros que tomamos como nossa casa, onde moramos e nos cuidamos.

Henrique era um desses amantes. Jovem sonhador, poeta, musico, já havia feito teatro, era estudante das leis, funcionário público. Era um homem capaz de fazer qualquer mulher feliz, mas nunca encontrou quem o encantasse. Ele acabara de fazer vinte e seis anos, era solteiro, nunca tivera uma namorada, fora alguns casos passageiros em que se envolveu. O que acontecia era que o jovem visionava um amor novelesco, destes que encantam as plateias e fazem suspirar as garotas. Caso é que ele não era feio nem físico e nem mentalmente, era um doce de pessoa, educado, prestativo, honesto, o seu problema era acreditar no amor.

Em um determinado dia, quando saía da faculdade de Direito, ele avistou uma jovem à porta do estabelecimento. Henrique, que descia as escadas, logo parou com medo de cair, pois seu coração freou, suas pernas ficaram tremulas, junto com suas mãos. Um suor frio exalou de sua pele e a sua boca ficou tão seca quanto o Saara. Estava hipnotizado, como se os mitos gregos fossem realidade, um cupido acertou-lhe a flecha do amor. Parou alguns instantes até se recompor, respirou fundo e continuou andando. Passando o portão, ele cumprimentou a moça, que respondeu com um sorriso. Todos os sintomas que ele havia sofrido na escada voltaram quando ele repousou seu olhar sobre o de Ângela, que aparentava ter em torno de vinte e cinco anos, alta, corpo esbelto, olhos sedutores, uma pele tão alva como a lua prateada e macia como só a pele dela era entre todas as mulheres, coberta por seu longo cabelo preto. Conversaram por algum tempo e então Henrique a chamou para tomar alguma coisa em um bar que ficava ali por perto.

Eles se gostaram e resolveram se encontrar novamente. Depois do quinto encontro, Henrique escreveu um poema para Ângela, pedindo-a em namoro. O jovem expôs toda a vontade de que o relacionamento dos dois perdurasse. Com um sorriso e sem dizer palavras ele entregou os versos a ela. O poema dizia assim:

Dos presentes que ganhei, um é especial...

Ele me faz mais que rei, um ser celestial.

Toda a sua candura, seu sorriso iluminado.

Me traz tanta ternura ter você aqui do lado.

Se um dia eu fui triste, hoje conheço a felicidade.

Você me amostrou o que é amar de verdade.

Por isso eu te peço, já que és tão amada,

Te pergunto neste verso, Quer ser a minha namorada?

Ângela leu o escrito com um sorriso desabrochando, logo após ergueu a cabeça e fitou Henrique, aflorou seu sorriso, junto com a contração de seus olhos, com toda a luz que um ser pode emitir, ela repousou suas mãos no rosto do poeta e lhe beijou com todo o amor que tinha a oferecer. Palavras não traduzem aquele momento, foi algo tão mágico e tão lindo que tradução nenhuma seria capaz de descrever as cores que pintaram aquele beijo.

Henrique chamou Ângela para ir pra casa dele, o que ela aceitou com um misto de felicidade e ansiedade. Amaram-se como nenhum dos dois nunca amou outra pessoa. Fervilhava o ar em volta do casal, que parecia se incorporarem num só, criando um ser perfeito.

Porém, nem os amantes se livram do sono, e, apesar de tudo que aconteceu naquele quarto, eles dormiram.

No manhã seguinte, quando Henrique acordou, antes de abrir os olhos, ele teve a impressão de que havia sonhado, então apressadamente abriu seus olhos e olhou pro lado. A cama estava vazia. Estou louco? Pensava Henrique. Não, ele viu um papel sobre o criado-mudo. Pegou-o, era um bilhete de Ângela:

“Foi muito bom te conhecer, sinto muito!”

De certa forma ele estava certo, foi apenas um sonho. Alguém como ela não iria querer se comprometer, pensava consigo mesmo. A questão é que sua vida continuou, mas aquela noite estaria gravada para sempre em sua memória.

Orestes Benedictis
Enviado por Orestes Benedictis em 22/07/2011
Reeditado em 20/11/2011
Código do texto: T3111415
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