VOLTA ÀS AULAS

3 conduções embaixo de chuva e no meio da lama, a estrada tal e qual uma montanha-russa, sacomé? Poças como uma piscina de chocolate só que fedido.

Cara amassada de sono gelada contra a janela.

Caras amassadas de sono e ressentidas pelo tempo que aturaram os gritos e a bagunça pela casa, reclamando que o recesso foi longo, longuíssimo.

Carinhas amassadas, olhinhos remelentos te procurando por entre as grades do portão, gritinhos de 'Vigia, vigiaaaaaaaa... Tia já chegou?'

A blusa nova e limpa cheia de saliva, restos de picolé, farelo de paçoca, catotas e suor de milhões de abracinhos.

O rosto fedido de beijos de bocas mal escovadas e o batom distribuido em série, nas bochechas, obrigatoriamente, até os lábios formigarem.

A garganta dói, caralho, quando vão trocar o quadro de giz por um de fórmica?

Pedacinho de pão com ovo do lanche, meio biscoito recheado, uma fatia de maçã, um punhado de pipoca murcha.

Quer suco, Tia? Não amore, que é seu e tem pouquinho.

Eles estão pegando fogo, depois de tantos dias soltos nas ruas.

As costas doem, eles cresceram, engordaram, querem colo.

As pernas doem, não dá pra sentar no primeiro dia, senão o bicho pega e acaba um matando o outro.

Os olhos ardem, o pó de giz entrou pelo nariz, pela boca, embaixo das unhas, nos cabelos e agora tem um pedacinho incomodando a visão.

A merenda estava uma delícia, mas não deu pra repetir, primeiro dia sempre é assim.

Cadê o Didão? Quero falar com a mãe dele, que coisa, falta no primeiro dia?

Não, senhora, nada disso, ele foi quem bateu primeiro, eu vi!

Que marcação que nada, ele que começou, estou dizendo que eu vi!

Quem vai sozinho?

Você não, florzinha, espere seu irmão, ele já chega...

Quando o ônibus passar, me avisa?

Já vem, aí?

Já voooouuu, pede pra esperar!

Amo sim, bebê, amo!

Eita, tchau, bebês, façam a tarefinha, está bem?

Ai, ai...

Isso é que é vida!

Amanhã, volto pra casa com as baterias recarregadas.