Um quase amor
Seu nome era Carmélia, tinha incontáveis admiradores, precoce, inteligente, gostava de música e de política, só sobre religião preferia não falar.
Quando viu Carmélia o jovem Caio tremeu, temeu não possuir maturidade suficiente para chamar atenção daquela moça e, de súbito imaginou-a em seus braços, falante, sedutora com aquele baton carmesim.
Tontamente irresponsável seguiu em sua direção, recitando : “ Noites loucas- Noites loucas! / Estivesse eu contigo / Noites loucas seriam / Nosso luxuoso abrigo…” da Dickinson, instigada a moça olhou-o incandescente .
Ele rompeu os seus limites.
Enviesaram-se por noites e noites para desespero e excitação de seus vizinhos, gostava de tudo a menina, nada era assustador ou doloroso.
O roteiro de suas vidas seguia seguia lépido, lívido e ele a queria para sempre, de aliança e papel passado, vendeu sua casinha que recebera de herança , vendeu o carro velho, compraria um romântico sobradinho, cheio de flores e de janelas... Ela pulou em seu pescoço, cobriu-o de beijos sem fim, gritou aos quatro cantos, sem vergonha, sem tremores e medos: “ Aceito! Aceito! Aceito!
Mas a lingua do tempo que o nosso pensamento não alcança, escurecia as cores das alianças, escurecia o desejo e as ardências, onde estaria a louca e adorável Carmélia, com seu gemidos, gozos típicos? Só restou fotografias e lembranças, e algo tépido na balança e nenhuma esperança.
Calou-se a música do sucesso que incomodava ou excitava alguns vizinhos, o carmesim perdeu a cor, desbotou, o sonho acordou, Caio agora é só dor, e Carmélia afoga-se na vodka, o sombrio sobradinho agora é só solidão, a solidão acompanhada que um dia foi uma linda história de paixão.
Nenhum dos dois sabe dizer adeus, não conseguem mais amar, mas deixarem-se também não sabem.