UM AMOR INTERNETÁRIO
UM AMOR INTERNETÁRIO
Marcial Salaverry
A Internet, com seus encontros internetários sempre gera controvérsias. Alguns acham ser impossível haver seriedade nesse tipo de relacionamento, enquanto outros acreditam ser perfeitamente possível surgir um amor, mesmo sem o contato físico, e o amor firmar-se mais ainda após o conhecimento físico.
Isso aconteceu com Corola e Gineceu (os nicks que usavam...)
Corola morava em um cidade grande do Sudeste brasileiro, tinha uma vida boa, bem estruturada, mas teve a infelicidade de fazer um péssimo casamento, com uma criatura que conseguiu desmanchar todo um patrimônio arduamente conquistado com o esforço de ambos. E mais ainda, tinha uma família paralela. Por causa desses percalços todos, Corola ficou com a saúde abalada e, após uma série de desilusões, resolveu mudar para outra cidade no região Sul, onde conseguiu uma boa colocação, que lhe permitiria continuar a cuidar de seus filhos. Preparou-se para curtir a solidão de uma vida sem amor, já que não pretendia relacionar-se com mais ninguém. Estava desiludida com o amor e com os homens.
Instada por uma amiga, resolveu penetrar no mundo da Internet, mas apenas com a idéia de “conversar” mesmo à distância com pessoas de sua idade, preferencialmente com mulheres, com as quais poderia trocar idéias, receitas, e manter aquele papo gostoso, construir novas amizades.
Fez uma busca nos perfis masculinos, curiosa com as buscas do sexo oposto, mas achava difícil aos 48 anos um homem com idade próxima a sua ter interesse nela. Os homens, pensava ela, querem mulheres mais novas pelo menos 20 anos. Teria que encontrar alguém próxima aos 70 anos? Muito velho!.
Ginece, sempre viveu muitos anos em São Paulo, onde constituiu uma família feliz. Sofreu um drama, quando sua esposa descobriu estar com uma doença terminal. Seu penar durou muitos meses. Após seu falecimento, sentiu o mundo desabar de vez, pois a amava muito. Não tinha mais ânimo para nada. Seus filhos conseguiram convence-lo a comprar um computador, e trataram de ensinar seu funcionamento. Mas ele não tinha vontade para tanto. Contudo, foi convencido a entrar numa sala de bate papo para ver se encontrava alguém para conversar. Deixou seu perfil cadastrado, mas apenas porque seu filho, depois de muito insistir, acabou fazendo ele mesmo. Quatro meses após a morte da esposa, perde o filho também, aumentando sua tristeza e sua solidão.
Corola só procurava conversar com mulheres, e Gineceu queria mulheres apenas para não ficar sozinho, pois não acreditava num outro envolvimento. Conheceu duas ou três pessoas mas não passou de um encontro com um bom papo. Ele sonhava com uma nova companheira, pois não conseguiria passar os seus dias sozinho. Procurava perfil de loira, ruiva, japonesa. Morena nem pensar. Nunca havia namorado com uma morena... Não era seu tipo.
Quase que por acaso, numa das vezes que Corola entrou, teve sua atenção atraída pelo perfil de Gineceu, ainda mais pela coincidencia dos nicks escolhidos... Corola e Gineceu poderiam fazer uma boa combinação. Escreveu para ele, e começaram a conversar. Descobriram que ambos apenas queriam esquecer suas dores. Assim, nasceu a amizade entre eles. Sentiram-se ligados por laços de tristeza, mas nas conversas que se seguiram, descobriram muitas afinidades. Não queriam trocar fotos. Corola queria primeiro conhecer a alma de Gineceu antes de travar conhecimento, e "formar um jardim florido". Ele imaginava como seria essa morena, mas apenas por curiosidade. Com morena ele não pensava em se envolver.
Apesar de não desejarem qualquer envolvimento, a amizade foi crescendo. Ao mesmo tempo, ambos sentiram que poderia surgir algo mais forte entre eles. De uma amizade muito sincera para o amor, foi um pequeno passo. Corola e Gineceu sentiram que poderiam dar um novo rumo à vida. Havia aquele receio de que no conhecimento físico, pudesse haver alguma decepção. Mas não poderiam continuar naquela situação. Sentiram que esse amor assim surgido, sem qualquer procura, sem que eles o quisessem, poderia terminar com a tristeza em que ambos viviam.
Gineceu insistia para jogar a cartada decisiva, e, como morava numa cidade próxima , após 40 dias de haverem tomado a decisão de se conhecerem, e com a concordância de Corola, resolveu ir até onde ela morava para conhecer sua já querida amada, e ela por seu lado, não via a hora de conhece-lo. De receber aquele abraço e aquele beijo tantas vezes trocado via Internet. Tantas vezes trocado por telefone, nas intermináveis conversas que faziam a alegria da Embratel.
E foi o que aconteceu. Quando se conheceram, parecia ser apenas um reencontro de velhos conhecidos após uma prolongada ausência. Quando se encontraram, ambos tímidos, apenas conversavam. Conversavam e pensavam nos beijos que poderiam dar, mas tinham receio. Despediram-se, e Corola tomou a iniciativa de dar o chamado selinho. Gineceu aproveitou a oportunidade, a abertura e lhe deu um beijo ardente, e viveram no real aquele amor tão anelado, tão sonhado em longas noites de solidão, e o amor que era apenas virtual, com o conhecimento físico, revelou-se em sua plenitude, terminando com aquela solidão que os atormentava.
E assim, Corola e Gineceu conseguiram transformar um lindo amor virtual, num maravilhoso amor real.
E estão vivendo essa linda história já há um ano e oito meses, e agora vão se casar.
Parabéns crianças... É gostoso ver que a Internet, ao lado de hackers, disseminadores de vírus, e tanta gente mal intencionada, também tem seu lado bom. É certo que existem muitos casais que, a exemplo de Corola e Gineceu, encontraram sua felicidade, encontraram o amor, começado sem qualquer idéia preconcebida, meio que a contra gosto numa sala de bate papo da Internet.
E que essa felicidade se perpetue, é que desejam todos aqueles que conhecerem uma história tão linda. Realmente, esse amor é muito lindo, e que seja eterno, enquanto é terno.