América

Estava em East Los Angeles quando a conheci. Um bar de nome “Monterrey”. O paraíso dos infernos latinos se encontrava lá, e ela também. Imigrante ilegal. Ela ganhava a vida vendendo o corpo nas noites quentes de Los Angeles, para os cavalheiros que se encantavam contemplando o movimento de seu belo corpo ao ritmo da salsa, no palco sujo de Monterrey.

Era a mais bela criatura daquele universo latino suburbano. Seus cabelos eram castanhos, longos, e embora embaraçados, extremamente bonitos. Os olhos castanhos hipnotizavam, enlouqueciam. Os lábios eram carnosos, atiçavam em qualquer um o desejo de experimentar seu gosto. Seu corpo era tão bem desenhado e curvilíneo quanto o violão tocado pelo músico do bar. Seus seios eram fartos, seus quadris eram largos e suas pernas... Ah, suas pernas eram o mais belo artifício de sedução. Toda aquela beleza era ainda coberta pela mais macia e ardente pele parda.

Paguei pela primeira noite. Depois pela segunda, pela terceira... E logo me via em minha 14ª viagem ao paraíso. Porém, não foram necessárias as quatorze noites para percebermos que havíamos nos apaixonado. O sangue quente latino que corria por entre suas veias, passou a aquecer não apenas o meu corpo, mas a minha alma e o meu coração. As paredes do quarto já deviam estar cansadas de ouvir os sons de nossos corpos ao conversarem sem precisar dizer uma só palavra, sem falar das inúmeras tardes que passávamos escondidos do mundo, revelando apenas um ao outro a imensidão de nosso amor, sendo ele por vezes declamado em seu intrigante dialeto, o qual eu muito mal entendia, mas podia sentir o verdadeiro significado das palavras.

Três meses se passaram, e decidimos nos casar. Em uma quarta feira, verão de agosto, ela viria comigo para a Califórnia, se o destino tivesse permitido que a felicidade continuasse a delinear nosso caminho. Um terrível infortúnio interrompera nossos planos, quando ela deixava Monterrey. Outro alguém também clamava pelo amor de minha americana. Ela saía do bar possuindo apenas as malas. Ele vinha logo após, e em suas mãos, a morte. Ele gritava. Ela apressava o passo. Eu me aproximei dela. Ele apontou a pistola em minha direção.

Ouvi o som, mas não senti o tiro. Não em meu corpo, naquele momento. Sua mira era péssima. Seu erro foi fatal.

Eu jamais amei ou amarei qualquer outra mulher. Sinto aquele tiro até os dias de hoje. O buraco feito pela bala em seu peito esquerdo, agora é uma imensa vala em minha alma. E assim continuo a viver meu eterno desperdício, tentando aniquilar a dor nesses inúteis goles de tequila, que ocupam minha mente, enquanto meu coração se ocupa com a saudade deixada pela ausência de meu amor latino, meu amor americano.

Lmaslchik
Enviado por Lmaslchik em 16/07/2011
Código do texto: T3099264
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