A Casamenteira
Eu não sei se essa profissão oficialmente existe, mas as pessoas costumavam me chamar de A Casamenteira.
Tudo começou como que numa brincadeira. Eu convenci um rapaz de conhecer a minha amiga, que o admirava. Em apenas três meses os dois se casaram e vivem juntos até hoje.
Depois fui trabalhar numa empresa de eventos. Por ironia do destino eu era quem cuidava dos casamentos. Preparava a festa, alugava as roupas, decoração, enfim, as pessoas na verdade contratavam o casamento e eu cuidava de tudo.
Em maio de 1998 estava organizando um casamento pra lá de badalado. O noivo era muito rico e a noiva de uma família tradicional paulistana. Quando esse tal noivo foi contratar nossos serviços disse que pagaria o que fosse preciso, mas que precisaria de mim o tempo todo para auxiliá-lo, como uma secretária. Pediu para cuidar exclusivamente do casamento deles. Por dinheiro, acabei aceitando.
Os dias se passavam depressa. Havia muita coisa para organizar e o estresse foi tomando conta de mim. O rapaz era exigente, queria o melhor para sua noiva. Sem querer, comecei a prestar mais atenção nele do que devia, mas isso morreria comigo, jamais seria capaz de expressar tal sentimento. Durante os vinte dias de organização rejeitei esse sentimento maluco e fui o mais profissional possível.
Quando faltavam apenas dois dias para a festa notei que tal noivo rico estava um tanto desanimado. Atrevidamente pergunte-lhe se estava tudo bem e inesperadamente ele me fez uma grande revelação: disse que não amava a noiva e estava se casando apenas por uma exigência familiar. Diante de tal libertinagem por parte dele arrisquei um conselho, sob o risco de perder todo aquele trabalho: disse-lhe que deveria dar mais ouvidos ao coração. Imediatamente ele me disse que isso seria impossível.
No dia da cerimônia o inesperado aconteceu. A noiva não veio. Isso mesmo. A tal socialite embarcou num avião para Porto de Galinhas com um colega de faculdade, para escândalo da família.
Muito corretos, os familiares pagaram por tudo, principalmente pelo vexame. Os comentários vieram de todos os lados, afinal eram uma família tradicional.
Um mês depois alguém chegou à empresa de eventos e me procurou. O tal noivo abandonado no altar me pediu em casamento ali mesmo, argumentando que havia ouvido a voz do seu coração, como eu tinha dito. Surpresa, aceitei imediatamente e nos casamos três meses depois em uma cerimônia simples, que eu mesma organizei.
Hoje, já se passaram mais de dez anos. Nos separamos dois anos depois do casamento. A última notícia que tive foi que a tal socialite fez as pazes com ele.
Eu continuo ainda na profissão de casamenteira. É interessante, mas tem coisas nessa vida que vem e passam por nós. Com essa frase, meu atual marido ganhou meu coração. Pena que ontem brigamos e, ele disse que não volta mais pra casa. No mínimo deve ter feito as pazes com outra ex-namorada e eu, novamente só vou continuar casando as pessoas.