* DIÁLOGO CARDÍACO *
– E se ele não me corresponder?
– Você o conquista.
– E se eu não conseguir?
– Fica como uma experiência. É a melhor forma de aprender.
– Mas vai doer, coração. – A melancolia tomou conta de sua voz, ainda que estivesse só no pensamento.
– Se você tirar a dor de amar, o amor não existirá. Deixe-a para trás, caso ela apareça.
– Sabe o que acontece? Toda vez que eu estou a ponto de me recuperar, eu caio. Você sabe como é e você sabe o quanto machuca.
– E o que você vai fazer? As lembranças dele vivem em você. E a esperança disse que não vai te abandonar.
- É você que as alimenta com cada olhar dele. Eu não posso te controlar.
- Eu não posso me controlar também, sinto muito.
– Eu sei. - Quando estava em silêncio, a imagem dele tomava conta de seus pensamentos.
– Posso bater normalmente agora?
– Você sabe que não. Ele está a uma quadra daqui. A razão me impede de ir até lá e você, ao invés de apoiá-la, coração ingrato, faz com que minhas pernas se movam em direção a ele.
– Eu não quero que você o deixe escapar, como fez em todas as outras vezes, com todos os outros. Você já seu deu conta de que poderia ser e me fazer feliz nesse exato momento se tivesse a companhia de alguém, especialmente a dele? Mas você sempre segue esse monte de massa cinzenta que não sente e que você acha que quer o melhor para você.
– Eu não me arrependo quando sigo minha razão.
– Simplesmente porque você tem vergonha de se arrepender de algo que sequer fez. Você deveria ter tentado todas as outras vezes. E eu sei que você concorda comigo.
– Eu tenho medo!
– E eu tenho pena de você, por levar consigo apenas os beijos nunca dados, os carinhos nunca demonstrados e a pele nunca tocada.
– Quando ele me disser adeus, vai ser pior.
– E se ele nunca te dissesse adeus?
– Ele já abandonou tantas outras... Eu teria o mesmo destino.
– E você prefere seguir o outro, o de seguir sozinha, mesmo sentindo tudo aquilo quando o vê?
– Não sei o que você chama de “tudo aquilo”.
– A palpitação que me faz bater rápido e cansar, o tremor nas pernas, a falta de ar, as lágrimas se formando nos olhos, o sorriso brotando nos lábios. Não negue, eu sei que todas as músicas o lembram, que o perfume dele é único, que todas que se aproximam dele têm segundas intenções, que seu sobrenome combina com o dele e que a foto que você tirou com ele é sua preferida. Está bom para você ou quer que eu estenda a lista?
– Eu não quero que você me convença, coração.
– Eu só quero o melhor para nós dois.
– Eu não quero passar por tudo de novo. As lágrimas derramadas, a dor imensurável, ser ignorada... Não quero sofrer novamente, não quero que você sofra comigo. Não quero me apaixonar por ele. Esqueça-o, coração.
– Não consigo.
– Esqueça-o! - Gritou e sua razão a ajudou. O coração perdera as forças, batia mais lentamente.
– Não posso. - Sussurrou.
– Mas eu posso. É o melhor que faremos, para nós dois. Um dia você me entenderá, coração, a razão é o melhor caminho a se seguir.
Deu meia volta e foi para casa. Chegando lá, chorou. Por não fazer o tipo dele, por saber que nunca seria amada por ele. A desilusão cobriu o coração, que batia suavemente, entristecido por ter perdido mais uma batalha.