Teu eterno médico.
Tínhamos 7 anos de idade, andávamos juntos e brincávamos aos finais de semana. Recordo-me do dia 11 do mês de agosto, o dia em que te vi, escutei, senti com outros olhos, ouvidos e dedos. Você provavelmente não percebeu, consegui disfarçar bem, o suficiente para até eu mesmo me confundir com o sentimento. Mas vamos à história.
Era mais ou menos 4 horas da tarde e brincávamos no quintal de sua casa, eu ainda inocente não via maldade em ser o seu médico, você dizia estar doente, eu dizia me preocupar contigo, você estava brincando e eu dizendo a verdade. Então, você dizia sentir uma dor, eu era médico, tinha que ver qual era seu problema. Resolvi escutar seu coração... Ah! Um “Tum Tum “ diferente dos que eu já havia ouvido, parecia música em belos tons harmônicos. Diagnostiquei: coração em ótimas condições. Resolvi medir tua temperatura. Com minhas pequenas mãos toquei-te a testa e me impressionei, temperatura, pele, textura perfeitas. De imediato diagnostiquei: ótimas condições. Então, por que não ver teus olhos? Buscar algum sinal de fraqueza ou o motivo da dor... Foi ali que te vi de verdade, teu olhos em tom castanho me tocaram e focaram de tal maneira que já não sabia mais o que era brincadeira e realidade... Sentia-me estranho, afinal, tinha 7 anos de idade.
Já entardecia, havia chegado minha hora, eu tinha que ir pra casa... Peguei minha bicicleta e durante todo o percurso fui pensando no acontecido, sentido, pensado, visto... Nenhuma conclusão, nada! Passaram-se dias e eu me iludia com novas brincadeiras.
6 anos depois, agora nós com 13, eu já havia adquirido mais experiência; um conhecimento visto nos filmes. Procurei-te e fomos a uma lanchonete com alguns amigos, eu olhava teus olhos, peito (este agora não mais inocente) e escutava sua voz, quando senti tua temperatura ao passar minha mão na sua por acaso, diagnostiquei: a doença que carrego desde os 7 anos de idade se chama Você, sem precauções, sem atrasos, sem cura. Tratamento? Muitas doses de “Umeterno Teter”!