A vida com amor é bela

A ajudante a observava, a cada ato praticado. Ajeitando o lençol, separando os remédios, olhando o soro, fechando a cortina. Atenta às horas.

Assim deveria ser...atenção, sempre.

Todas as providências precisavam ser, no tempo certo, adotadas, afinal, era para isto que estava ali, para ajudá-la; dar a devida assistência ao idoso senhor, que se encontrava doente.

A enfermeira bem sabia o que fazer, mas, compreendia que a vida a dois, durante 45 anos, fortalecera aquela relação. Ela tinha o direito de querer todos os cuidados, a mais, daquela sua maneira. Afinal, foi assim que sempre fez, quando ainda mais nova, nas crises dele, daquela doença que permaneceu e se agravou com o tempo, apesar de todo tratamento.

Ele, adormecido por causa dos efeitos dos remédios. Ela, cansada, preocupada, mas cedendo a vez à profissional contratada pelo filho.

Passaram algumas horas e o paciente acordou.

Procurou por sua esposa, com seu vagaroso olhar.

Ela se encontrava lá, próxima à cama; havia descansado um pouco, tomado seu banho e ficado pronta para mais uma noite de zelo, já há um mês, em companhia, no quarto da casa.

Sorriu e perguntou se estava tudo bem. Ele acenou a cabeça com sinal de positivo, para não assustar ninguém. Apertou a sua mão.

Perguntou pelo filho, que estava meio longe e foi chamado.

O encontro foi comovente. Pediu-lhe um abraço e disse-lhe ao ouvido: - Meu filho, Deus lhe pague por tudo.

O filho, comovido, respondeu:

- Não é nada, pai; queremos que fique bom logo, saia desse quarto e passeie conosco, tome sol, veja a vida lá fora.

Sorriu, como quem soubesse da sua situação. Sentiu uma forte dor.

Beijou a mão da esposa.

Então, trocaram olhares de eternidade.

E assim selaram a despedida.

Cada ato ligava ao outro, como uma corrente em rolamento, passagens do tempo acontecendo.

A enfermeira, entre todos presentes, que mais aprendeu com todas aquelas cenas. Os outros já sabiam, sentiam e praticavam.

Doar e receber amor, lição profunda e linda.

A troca mais que perfeita.

Todos nós precisamos do outro e podemos fazer algo por ele.

Dar e receber, sem cobranças, mas com liberdade e vontade própria.

A vida com amor é bela, mesmo na triste despedida, sente-se o poder desse sentimento, eternizando memórias de momentos vividos.