Compatibilidade

A gente desabrocha ao contrário.

Enquanto o meu corpo se abre, lento e temoroso, revelando aos poucos que poderia ser ainda perfeito caso o mundo também o fosse, os seus movimentos possuem coragem, não tem medo de exaltar uma beleza extrema, absoluta. Não tem medo de se abrir, nem a necessidade de esconder nada, simplesmente porque não lhe caberia esse direito já que tantas coisas belas cabem dentro de si.

Aos poucos, porém, revela-se ainda humano, deixando escapar seus defeitos e linhas invertidas, mas sem deixar de exalar o mesmo perfume. As suas imperfeições o acompanham na extremidade da beleza que consegue alcançar, como se fizesse parte de um mundo paralelo.

Se permitirem, nossos ciclos irão se esbarrar no meio do caminho. Se completar até, quem sabe. Mas eu já não sei mais em que etapa estamos. Não consigo compreender se concluímos um longo percurso, ou se mal conseguimos sair do lugar. Além disso, o vento pode carrega-lo para longe daqui, outras rosas poderão surgir, mais semelhantes com aquilo que somos, ou com aquilo que julgamos mais fácil parecer.

Ainda assim, eu insistiria em chama-lo de meu. De amor, de complemento. É difícil acreditar na inexistência de uma compatibilidade entre nós quando tudo parecia se encaixar de forma tão simétrica. Pois se assim for realmente, nada temos então. Apenas nossos sonhos nos restam, agora atirados ao chão.

Mas com você irei ainda viver, ao menos enquanto a imensidão da noite me permitir crescer tudo ainda o que julgo ter direito. Quero que o tempo passe depressa, que voe bem alto, mas que não nos leve para caminhos distintos. Se assim for, que nos reencontremos então, no momento exato em que eu tiver coragem suficiente para desabrochar na sua frente. Mas o tempo é grande, e é capaz de carregar muitas outras coisas. Não se pode prever as suas escolhas.

Por isso, pensando bem, é melhor que permaneçamos aqui, onde paramos. Não temos nada aparentemente, mas talvez, tenhamos tudo, não sei. Talvez a certeza de qualquer dúvida possa ser revelada somente com o tempo, nada mais. Mas se eu o apressá-lo, perderei os motivos que a vida há de encontrar para fazer com que eu mesma busque por um caminho mais fácil que você. Mas se pertencermos realmente à um mesmo ciclo, então nem o tempo, por maior que seja, poderá impedir-nos de realizar aquilo que tanto desejamos um dia.

(Texto também no blog, pra quem se interessar: http://pensando-emvozalta.blogspot.com.br/2012/07/compatibilidade.html )

Louise Hammer
Enviado por Louise Hammer em 03/07/2011
Reeditado em 11/07/2012
Código do texto: T3073484
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