O cantor

Ele era um tenor, sua voz alcançava os mais altos tons que alguém podia alcançar, a beleza do seu timbre era inexplicável. A sua presença era desejada por todas as cidades do seu país, pois todos ansiavam ver a sua fantástica apresentação. As mulheres queriam ter a oportunidade de um dia sair com ele, mas o cantor era um homem muito sério e não gostava de entregar-se às paixões da vida, pois acreditava que um dia encontraria seu verdadeiro amor.

Era uma noite linda. Ele estava preparado para fazer a sua mais bela apresentação. Subiu no palco, todos levantaram e o aplaudiram , o cantor agradeceu curvando humildemente a sua cabeça. Os músicos começaram a tocar e um som limpo de belas melodias chegou aos ouvidos da platéia. Ele começou a cantar. Sua voz era como uma onda de emoções que inundava todo aquele lugar . As pessoas choravam e sorriam, todas emocionadas com aquela inigualável beleza musical.

Chegou o momento da canção mais esperada. Todos estavam ansiosos para ouvir aquela música. O tenor estava feliz, pois confiava no talento incomparável que possuía. Entrou no palco novamente, após uma apresentação de danças, todos levantaram e o aplaudiram emocionados, alegres em vê-lo outra vez no palco.

Ele começou a cantar. Era a música mais linda que ele cantava. Tudo mudou naquele momento, pois aquela não era uma canção normal. Ela tinha o poder de despertar o amor no coração daquele que a ouvia, de levar a esperança para uma alma que não acreditava mais e de ressuscitar a paz que estava perdida em uma mente.

Enquanto cantava, o tenor olhava para a platéia, pois nunca havia visto pessoas tão felizes com sua apresentação. Ele observava normalmente o seu público até que viu uma bela mulher. Ela era linda, seus cabelos negros chamavam muita atenção, seus olhos brilhavam e refletiam as emoções que estava sentindo. Sua pele clara e limpa era tão envolvente, que não havia como não apaixonar-se.

O cantor ficou extasiado, nunca havia visto alguém como aquela mulher, sua formosura ultrapassava todos os limites de beleza dados à sociedade. Encantado com a bela jovem, o tenor decidiu tentar algo novo. Ele desejou alcançar um tom que ainda não havia alcançado com o intuito de impressionar a moça.

Confiante em si mesmo, ele subiu uma oitava, mas sua voz não agüentou e um falsete acompanhado de uma desagradável rouquidão foram emitidos por suas cordas vocais. O tenor desafinou e isso era inacreditável. Rapidamente parou de cantar.

Ele sentiu uma vergonha profunda pelo que havia feito e chorou. Suas lágrimas eram de arrependimento e de dor, pois apesar de possuir um grande talento, ele deveria ter pensado em seus limites. O cantor saiu do palco completamente envergonhado, não procurou mais a moça e adentrou pelas cortinas decepcionado, deixando sua platéia confusa e aflita.