Vocêcaína.
Incrível não saber o que fazer com os dias que ficam extremamente longos sempre que você some ou se afasta, difícil saber lidar com o vazio enorme que fica no peito feito buraco negro sugando toda e qualquer tentativa de produzir uma luz independente lá dentro, complicado fazer você sumir do meu pensamento diariamente para que eu possa, finalmente, me concentrar nas coisas que faço.
Hoje eu sentei no alto de uma montanha e vi seus pensamentos invadindo a cidade, nuvens claras e outras densas e acinzentadas tomaram conta do céu que, em minutos, ficou carregado de neblina devido à sua confusão. Você olhou pra mim lá no alto e um raio de sol atravessou a grossa neblina e atingiu um jardim florido, você sorriu. É bom saber que eu te faço bem, tão bem quanto você faz a mim, mesmo que esses pensamentos densos e pesados atrapalhem a sua visão de tempos em tempos.
Eu, aqui do alto da montanha, brinco distraidamente com as flores vermelho sangue que nascem apenas nesse canto do mundo, bem me quer, mal me quer... bem me quer! Te quero tanto bem, meu bem. Encosto uma das pétalas avermelhadas nos lábios meus querendo que fossem os lábios seus à me beijar, juntos, unidos, intensos... finalmente.
Sinto a minha caixa toráxica gritar em desespero sempre que tento encher os pulmões de ar e eles não me são suficientes, o peito grita querendo algo mais intenso pra preencher esse vazio que outras pessoas deixaram um dia, ele grita teu nome em várias frequências, sussurra entre a neblina, te chama de leve como a cortina que balança na janela durante a madrugada, te acaricia como a coberta que cobre o teu corpo enquanto dormes, eu te chamo vinte e quatro horas do meu dia, me ouve?
Vocêcaína em doses nada homeopáticas, é disso que eu preciso.