RUNAWAY

Na cabeça dele martelava Del Shannon (ou seria Traveling Wylburys?) enquanto ela descansava calmamente a cabeça na sua perna esquerda. Sentiu um leve amortecimento no músculo, talvez resultado do cansaço excessivo de que ambos já davam mostras. Havia algo de perturbador naquela cena, apesar da aparente calmaria.

Fechou os olhos. A discussão fora áspera, dura. Ele enfrentara o pai dela e toda sua teimosia tentando argumentar, de maneira pueril, que amava a filha dele e vociferando todo blábláblá que conseguia articular naquele discurso que já parecia infindável. A irredutibilidade do cara e a sua insistência em dizer que ambos não passavam de dois irresponsáveis, fê-lo exasperar-se ainda mais. Acabara de conhecer o cara, por insistência dela, e o sujeito já transtornado daquela maneira!

“Bosta” – ruminou consigo. Rosnou algo ininteligível, virou-se afastando em direção à porta e, alguns passos depois, voltou-se novamente já empunhando um frasco âmbar. Atirou todo o líquido no rosto do sujeito. O cara urrou de maneira lancinante. Ele apenas gritou, sem olhar para trás, “vem, porra!” e sentiu u’a mão grudar-se à sua.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 08/06/2011
Reeditado em 08/06/2011
Código do texto: T3022006