Sentimento de Posse.

Estou olhando há horas pro papel em branco, as palavras teimam em fugir de mim.

Lá fora o Sol já se cansa, começa a se esconder por entre as núvens.

Aqui dentro, eu sentada na cama, costas na parede fria, papel e caneta na mão e a sua imagem na cabeça.

Como botar em palavras tudo isso?

Assim, entenda que meu coração bate involuntariamente, é óbvio. Entenda que o motivo para que ele continue batendo dia após dia, hora após hora.. é você.

Imagine que o verde dos seus olhos é o combustível que faz tudo aqui funcionar, que o seu sorriso é a luz que ilumina o meu caminho sempre que me perco no mar de dúvidas que vive me rondando, que a sua boca me chama baixinho na calada da noite e me faz continuar andando só pra te alcançar.

Entenda que você é meu tudo, meu mundo, meu bebê, minha menina, minha mulher, minha vida.

Consegue captar a essência disso tudo?

Conseguiu? Agora multiplique por dez, cem.. não, multiplique por mil! Feito? É, isso é um décimo do que eu realmente sinto. Gigante não é? Tudo seu.

A Lua ja vem chegando la fora, a noite caindo aqui dentro.

Quarto escuro, música velha tocando no rádio, eu e você.

Se os olhos se fecham por instantes procurando palavras, a sua mão já toca meu rosto. De leve, mansinho. Você me espreita entre as árvores lá fora, eu sinto o seu olhar em mim, como uma leoa que ronda a sua caça minutos antes de atacar. Ronronando você vem. Olhos fixos nos meus, eis que me prende, hipnotiza. Mas, diferente da leoa, o seu bote não vem com garras e mordidas na jugular. Vem com dengos e sorrisos, chantagenzinhas bobas e carinhos inesperados.. e eis que sou sua. Sua presa, sua refeição.

Degusta-me com calma. Tudo aqui tem gosto seu.

Os cabelos que tantas vezes tiveram suas mãos leves passando incansavelmente num agrado. Os olhos que todos os dias se perdem nos seus, hipnotizados. A boca que cola na tua como que por impulso, querendo sentir o teu gosto por vezes infinitas. As mãos que percorrem toda a sua extensão, que sabem cada detalhe seu sem ter que pedir ajuda aos olhos para se guiarem. E o corpo. Corpo que é seu, não mais meu. Posto que o seu nome está escrito em letras grandes aqui dentro, ocupa o peito inteiro, quiçá na esperança de que não sobre espaço para mais nenhum nome ser gravado ali.

Como se fosse possível.

Como se fosse realmente possível te apagar de mim, me apagar de ti. A ferro e fogo eu fui marcada com suas iniciais, e a dor instantânea produz furor e êxtase, vontade de te ter aqui me amando, me rasgando a roupa, tomando posse do que é seu. Sempre foi, sempre vai ser.

Chuva caindo na calada da noite, estendo meu corpo na cama. Vazio. O travesseiro ao lado do meu sente a sua falta. Os lençóis permanecem frios. Me encolho na cama para tentar diminuir o vazio que é a sua ausência. Mar de sonhos. Te vejo ali, aquela que me sorri, que me chama, que me ama.. incansavelmente ali. Suspiros.

Que os sonhos saiam da minha inércia noturna.

Que você me caçe. Que me possua. Que me tome para si.

Se é que já não o fez.

Lorrayne T
Enviado por Lorrayne T em 05/06/2011
Código do texto: T3016746
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