Shophie

O desespero se fazia presente no caminho. A garota branca de cachos morenos, cujos cachos se estendiam por sobre seus ombros. Como de forma costumeira sentia o horizonte estampado em seu rosto, tinha os olhos imprevisíveis, firmes para lugares incertos. O céu era uma massa plúmbea de nuvens acima da linha da água e o oceano atingia a praia com uma força que prenunciava a tempestade. Aspirando a penetrante maresia, cerrou os punhos. Shofhie lutava para superar a profunda tristeza enraizada na sua alma.

O fardo se tornara difícil de carregar. Lembrara amargamente na sua caminhada os cruéis gracejos que ouvira de seu pai, cujas palavras expulsadas da sua boca a deixara envaretada e a fazia se sentir um peixe fora d’água, deixando seu habitat natural a qual era sua forma de sobrevivência.

Shophie não tinha culpa do que acontecera, a culpa que seu pai insistira em lembrá-la e, em sua alma uma raiva estava brotando indevidamente. Ela pensara que o destino tinha acabado á dois dias atrás, quando sua mãe faleceu ao dar a luz a seu irmão Lucas, a qual ela mesma havia colocado o nome. Meneou a cabeça. Não. Não podia culpar o destino. Não havia um verdadeiro responsável, mas, aquela fatalidade havia destinado a ela à incerteza e ao desespero.

A vizinhança admirava a sua capacidade de andar sozinha sem ajuda de ninguém. Ela costumava andar com a ajuda de uma muleta. Para Shophie, cada voz tinha um nome e cada lugar tinha um cheiro. Ela não podia enxergar a vida como ela era, pela sua deficiência visual, mas, seus sentidos a ajudara á descobrir o que não conhecia.

Ela caminhava rumo ao cemitério. Abrindo o velho portão de ferro, ouviu o estridente ranger das dobradiças. As folhas do outono caídas ao redor dos túmulos, marrons e avermelhadas agitadas pelo vento. De repente, o vento morreu e o silêncio dominou tudo. Seus sentidos a avisara que algo estranho estava acontecendo ao seu redor. Olhou com seus olhos incertos a sua volta pousando-os sobre uma pequena árvore, cujo barulho havia despertado a sua atenção já que não podia enxergar e, ouviu o barulho de asas se batendo, era um corvo solitário.

Percorreu os túmulos com as mãos solícitas. Um calafrio percorreu seu corpo e o medo estava por perto, a pobre Shophie estava sentindo uma preocupação inexplicável. O coração batia rápido demais e os ner¬vos estavam à flor da pele enquanto procurava sentir o cheiro de alguém ou ouvir uma voz conhecida. Podia jurar que alguém a observava.

Apenas uma vez Shophie tinha experimentado uma sensação tão forte. Naquele dia, seu mundo balançara e tudo que ela considerava seguro e bom tinha se despedaçado em um ins¬tante. Lembrou-se da voz de sua mãe, que a chamava, do som agudo e da dor. Sim, lembrava-se bem da dor, assim como da mãe morta, que não mais dizia seu nome, estava num sono profundo. A saudade era plena e a dor estava muito presente.

Ela ouviu passos e, vinham em sua direção.

- Quem está aí? É você Sebastião? – ninguém respondeu e não era o coveiro..

Shophie ficou preocupada. Mas não escutava mais nenhum som. Ela se virou para o túmulo de sua mãe e se distraiu novamente. Colocou as flores sobre o túmulo e, se agachou despedindo-se de sua mãe. Ao virar-se, sentiu um cheiro que não conhecia. Era uma fragrância suave e parecia masculina. Ela apoiou sua mão direita sobre a bengala e foi em rumo á saída do cemitério com o coração acelerado, pois sabia que havia alguém ali, mais seguiu confiante. Quem poderia ser? Todos a conheciam.

Antes de chegar ao portão ela sentiu novamente a fragrância suave e embriagadora. Estava mais perto do que ela poderia ver, então, ela ficou parada. Ela não se sentia ameaçada e era corajosa o suficiente para encarar aquele estranho, que devido á seus sentidos, ela sentia que ele estava observando-a.

- Quem é você? Eu tenho certeza que não é daqui. E porque não respondeu quando perguntei quem era da primeira vez? – ela olhava para o nada.

- Como sabe que não sou daqui? Parece que você não pode enxergar – o estranho franziu o cenho.

- Minha alma enxerga por mim e sei que não é daqui porque nunca senti esse cheiro antes, os homens daqui não costumam usar esse tipo de perfume.

- Você é boa nisso. Qual seu nome moça?

- Eu perguntei primeiro. – ela esperava uma resposta. Pensara mil coisas da presença de um homem estranho no cemitério em plena manhã de domingo.

- Desculpe. Meu nome é Alejandro González.

- Você é latino? Fala meu idioma tão bem. E o que está fazendo aqui? – perguntou curiosa.

- Minha mãe era brasileira e meu pai é mexicano. Viemos morar no Brasil há pouco tempo e, agora estou morando aqui, e tive que estudar o seu idioma, é muito mais difícil que a língua espanhola.

- E o que um jovem mexicano faz numa manhã de domingo no cemitério? Porque não está explorando a cidade?

- Porque vim visitar minha mãe.

- Como? Mas não veio para cá com seus pais? Como... – Ela passou as mãos nos cabelos e mordeu o canto da boca.

- Minha mãe faleceu tem três meses. Ela que pediu para virmos para o Brasil, não sei por que, mas, acho que ela já sabia que ia morrer. Ela estava com câncer. E queria ser enterrada no seu país de origem.

- Sinto muito. Eu compreendo a sua dor, sei o que está passando, deve ser muito difícil, perdi minha mãe há dois dias, ela estava dando a luz a meu irmão Lucas e... – ela parou de falar e lágrimas rolavam em sua face. – desculpa, mas, agora tenho que ir. Lucas precisa de mim.

- Espere! Eu a levo até em casa. – Alejandro sabia da sua dor e também havia derramado algumas lágrimas.

Alejandro deixou Shofhie na frente de sua casa, ou seja, na frente da pousada de sua família. Ela agradeceu e saiu do carro rumo á pousada. Alejandro havia se encantado com Shophie, admirou sua força e coragem de encarar o mundo sem conseguir enxergá-lo. Sua doçura e esperteza despertaram um desejo de querer conhecê-la melhor. A dor que vira em sua face o fez ficar triste também parecendo que sentia a mesma dor.

Alejandro sabia exatamente o que Shophie sentia, uma mágoa insistia em deixar uma parte de seu coração oca. Sentado na varanda da sua casa em uma cadeira redonda, com as mãos cruzadas sobre os joelhos e a cabeça baixa, olhando para o nada, mas, com a mente preenchida de lembranças que vivenciara com Shophie.

Alejandro não reparava na natureza linda ao seu redor, com o pensamento a solta, ele nem notara as lindas árvores e arbustos ao seu redor, os pássaros cantando, o vento uivando.

A dor que sentia era árdua e imprevisível. Meneando a cabeça pensava em sua mãe. Suas madeixas castanhas escondiam seu rosto triste, formando uma cortina em seu olho esquerdo. Seus cílios negros e espessos mostravam rastros de gotas de lágrimas que se alojaram há pouco tempo entre eles. Após limpar as lágrimas de seu rosto com as costas das mãos, ele levantou-se decidido a fazer algo, depois de tanto pensar.

A noite chegou sem medo de expandir, a lua estava iluminando a terra e o vento soprava lento. Nas estradas vazias ouvia-se somente o som do vento e o barulho dos galhos de árvores se batendo. As folhas caiam no chão e se arrastavam pelas ruas da cidade.

Shophie tentava sem sucesso acalmar o pequeno Lucas que não parava de chorar. Ela não sabia mais o que fazer, até tentara ajuda na vizinhança, mas todos estavam ocupados. O leite que o bebe podia tomar era muito caro e já acabaria no outro dia. Shophie esquentou uma água e arranjou uma banheira com uma vizinha. A pousada não dava muito lucro nesta época e o rendimento era baixo. Shophie conseguiu acalmar o pequeno Lucas, depois de dar um banho quente nele e colocar uma roupa bem quente, ele logo adormeceu.

Logo a manhã chegou e Lucas já estava chorando. Shophie preparou o último leite para Lucas, com lágrimas nos olhos, ela olhava para o pequeno em seu colo e cantava a canção de ninar que sua mãe lhe ensinou. Seu pai era um homem bom, mas, se tornara frio após a morte de Nadir se fechou ainda mais. Falava o necessário.

Após Alejandro pensar muito na vida sofrida de Shophie decidira ajudá-la e já sabia como. Ele tinha uma tia que morava perto de sua casa e que tinha acabo de dar a luz á uma menina e pediria a ela ajuda com seu leite materno para amamentar o pequeno Lucas.

Após umas semana. Em uma manha de sábado ele saiu do quarto e rumou para casa de sua tia Melina Gouveia.

- Oi tia Melina? Como tem passado? E como está Nicole? – com sorriso na fase Alejandro estava sem jeito de perguntar algo que não saberia a resposta. Mas, sua tia o adorava muito e travava como filho. – tia... Preciso muito de sua ajuda. – agora ele estava com os olhos apertados.

- Claro meu amor, pode falar. – ela segurava Nicole em seus braços. Ele sorriu de alívio e começou a explicar a situação.

Alejandro juntamente com sua tia Melina rumaram para a pousada. Chegando a Pousada Alejandro bateu na porta e seu coração acelerava e ele não sabia por que. Atendeu um homem alto e com cara de marrento.

- Boa tarde. – Saldou Alejandro educadamente para o homem alto. Gostaria de falar com Shophie, por favor. Ela está?

- E quem gostaria? – olhou com ar misterioso e franzindo o cenho e olhando de soslaio para Melina e para o bebe de colo.

- Sou Alejandro González.

Neste momento Shophie estava passando perto da entrada e ouviu a voz de Alejandro e que por ventura já soava muito conhecida para ela, já havia um nome para aquela voz doce e amigável. Com entusiasmo ela foi até a porta.

- Pode deixar papai, já o conheço.

Com uma alegria estampada em sua face, exibia um sorriso encantador. Seus olhos brilhavam como duas esmeraldas de tão verdes e grandes. Segurava em uma de suas mãos uma rosa branca que acabara de ganhar de um casal de velhinhos que se hospedaram na pousada, felizes pela atenção que Shophie dara á ambos e na outra a sua bengala.

- Alejandro é você mesmo? – ela não tirava o sorriso da face.

- Sou eu sim. – ele também sorria admirado com sua alegria.

- Reconheci sua voz e senti seu cheiro quando ia subindo as escadas. A que devo a honra de sua visita? – ela estava sentindo algo a mais e sentia mais umas presenças ali. Continuou a falar.

- Tem alguém com você? Pois sinto que há alguém do seu lado com cheiro de lavanda e mais um cheirinho de bebê, igual ao do meu Lucas. Quem é?

- Oi Shophie, eu sou Melina, tia de Alejandro. E realmente tem um bebê aqui, é minha Nicole que tem uma semana de vida.

- Verdade? Posso tocá-la?

- Claro querida! Ela é meiga e nem chora muito. Apenas quando esta com fome ou quer ser trocada.

- Desculpe, podem entrar, fique á vontade. – disse Shophie.

- Querida, onde está Lucas? Podemos Vê-lo? – disse Melina.

- Claro. Venham comigo.

Melina ficou admirada com Shophie, ela seguia confiante e os levava até Lucas, que estava dormindo. Alejandro ia atrás de Shophie e só a observava. Ao chegar ao quarto onde Lucas estava dormindo, Melina foi até o berço com Nicole em seus braços, dando privacidade a Alejandro e Shophie para que ele pudesse explicar porque estava ali.

Alejandro perguntou se tinha outro Lucas mais sossegado para ambos conversarem e, Shophie o levou até uma pequena salinha onde seu pai costumara ficar para resolver assuntos relacionado à pousada e também onde ficara produtos de escritório. Havia duas cadeiras e Shophie procurava uma para se sentar, Alejandro a ajudou a se sentar e fez o mesmo em outra cadeira. Shophie olhando na altura de seus olhos para o vago esperava que Alejandro falasse algumas coisa e em seguida ele pegou nas mãos de Shophie, ambas estavam entrelaçadas sobre seu colo.

- Shophie, gostaria muito de te ajudar de alguma forma.

- De que jeito, não entendi. – Shophie franzia o cenho sem entender porque Alejandro gostaria de ajudá-la sem ao menos conhecê-la.

- É que eu sei que um bebe precisa de leite materno e... – ele olhava para ela direto nos olhos de esmeraldas brilhantes e grandes. Ela interrompeu.

- Quer dizer que trouxe a sua tia para amamentar meu Lucas? – ela não acreditava que aquilo estava acontecendo, ninguém nunca fez nada parecido para ela antes. – Mas por quê? Você nem me conhece direito.

- Porque eu gostei de você... Quer dizer... Eu... Gosto de você e... Só queria ajudá-la, se me permitir e ficaria muito feliz em fazer isso. O pequeno Lucas precisa de leite materno para crescer bem. Deixa eu te ajudar Shophie, por favor? – ele ainda segurava em suas mãos e Shophi e sentia seu coração pulsar.

- Eu não sei o que dizer Alejandro... Mas, você tem certeza disso... Porque não nos conhecemos muito bem e... Ocuparia muito tempo de sua tia, como pretende fazer?

- Bom, minha tia paisagista, e agora está em casa para se dedicar a Nicole e não tem previsão de quando começará a trabalhar de novo. Ela é viúva. Seu marido faleceu quando ela estava grávida de dois meses em um acidente de carro. Ela sofreu muito, mas, agora ela está melhor. Ela está muito feliz com a idéia de amamentar Lucas. E seria mais uma alegria na vida dela e claro, se você permitir.

- Sim, mas tenho que falar com meu pai. Eu só tenho dezessete anos e não sou responsável nem por mim. Conversarei com ele hoje mesmo, mas, já que sua tia esta aqui gostaria que ela amamentasse Lucas. Estamos em um momento de crise aqui na pousada, pois com o frio não recebemos muitos hóspedes aqui, só os clientes a negócios, mais é um e outro e, eu estava comprando um leite especial para Lucas, mas é muito caro. Meu pai se fechou depois que mamãe morreu e eu que cuido de Lucas com ajuda de uma moça que vem limpar a pousada.

- Claro que sim, vamos lá então falar com a tia Melina.

Alejandro pegou na mão de Shophie com um sorriso na face e foi na frente guiando ela até o quarto de Lucas. Ela o seguiu, mesmo sabendo o caminho, mas estava gostando da proteção que sentia está recendo e verdadeira.

Após Melina amamentar Lucas, juntamente com Alejandro eles foram embora e Shophie prometeu conversar com o pai. E na manhã seguinte esperaria por Alejandro para dar-lhe a resposta. No fundo, Shophie sabia que o pai permitiria ambos não estava financeiramente bem, e Gerson amava muito Lucas. Todos os dias ele ia até o quarto de Lucas, o pegava no colo e ficava olhando para ele e conversando. Certo dia Shophie escutou o que ele dizia e ficou admirada.

E Gersom falava o seguinte:

- Tudo vai dar certo meu filho, vamos melhorar nossa situação e te darei uma boa criação. Não faltará nada para você. Eu sei sua irmã acha que sou rabugento, mas na verdade eu sinto muito falta de Nadir, ela era minha amada e Deus a levou. Meu coração está despedaçado e essa situação me deixa sem palavras. Mas, eu te amo muito e também Shophie.

Shophie escutou aquelas palavras e foi para seu quarto chorar. Bateu uma grande saudade da sua mãe, e ao escutar as palavras de seu pai ela percebera que ele ainda era o mesmo. Disse palavras horríveis para ela depois da morte da sua mãe, mas, ela sentia que eram da boca para fora pela situação do momento. Após aquele dia ela obteve a confirmação do que pensava. Seu pai a amava e só estava em um momento ruim, de dor.

Shofhie estava se preparando para falar com o pai. Era um sábado á noite e seu pai costumara ficar na varanda da pousada lendo. Ela foi até lá depois de deixar Lucas dormindo. Estava nervosa, mas criou coragem. Era pelo Lucas que ela tinha que ter coragem e seguir em frente.

- Pai? Queria conversar com você. Pode ser? – com os olhos imprevisíveis ela esperava a resposta. Seu pai deu um suspiro e respondeu.

- Claro Shophie, sente-se aqui. – Shophie sentou no banco onde seu pai estava sentado. – Fale. Estou ouvindo.

- Lembra daquele rapaz e aquela senhora que vieram aqui de manhã?

- Sim, o que têm eles?

- Bom, eu conheci Alejandro semana passada. Ele mora há pouco tempo aqui... – ela estava falando devagar para que seu pudesse entender. – Eles vieram me ajudar e queria saber se o senhor concorda.

Shophie explicou em detalhes e falava muito de Lucas. Com cautela a conversa fluiu, mas Shophie não podia enxergar a expressão no rosto do seu pai, ele ficou escutando-a e por uma fração de segundos ela pensara que ele não estava interessado em ouvi-la e por acaso estar lendo.

- Então papai, o que você acha. Eu sei que os dois são estranhos, mas Lucas precisa muito disso.

- Entendo. Mas... – ela franziu o cenho com a cabeça baixa após ouvir o “mas” de seu pai. – quero conversar com eles e saber que intenção eles têm.

- Brigada papai. Quando Lucas crescer ele saberá disso. Eu sei que você está anda triste e eu também estou. Agora mamãe está nos olhando lá de cima. Somos eu, você e Lucas, e essa é nossa família.

- É eu sei. Desculpa por áqüeas palavras, eu nem queria dizer aquilo, mas... – Shophie o interrompeu antes de sentir culpado.

- Não papai. Não diga isso, eu sabia que você estava com dor e sofrendo muito pela mamãe, na hora fiquei triste, mas depois eu entendi que era só aquele momento. Eu sei que você me ama. Mesmo eu não podendo enxergar eu sinto isso.

Momento de silêncio e um abraço caloroso selaram o momento. Tudo certo. Shophie estava feliz agora e foi dormir.

Na manha seguinte Alejandro estava na porta e Gerson atendeu o convidando para entrar, juntamente com Melina.

- Entrem, e aproveitem e tomem café conosco. – Disse Gerson amigavelmente. Shophie ainda estava lá em cima. E Alejandro estava ansioso para vê-la.

Depois de alguns minutos de conversa entre o anfitrião e os convidados. Todos estavam já á vontade, falando de suas vidas, mas Alejandro tomava muito cuidado para não alar de sua esposa e, no entanto, quem falou foi Melina.

- Sinto muito pela sua esposa. – ela falou docemente se maldade.

- Não sinta, ela está em um lugar melhor do que este que vivemos.

Com olhos arregalados, Alejandro olhava para Melina com se perguntasse “porque você perguntou isso?” e nesta hora Shophie descia as escadas com Lucas no colo. Ela estava acostumada a subir e descer aquelas escadas desde que era criança. E seu pai confiava muito nela quando pegava Lucas no colo. Alejandro se admirou mais uma vez com Shophie, vendo-a descer casa degrau com cautela e delicadeza.

- Bom dia. Alejandro e Melina. – acariciando Lucas e conversava com ele. - Olha quem está aqui amor, a titia Melina e Alejandro, vieram te visitar. – Lucas abriu a boca querendo sorrir, mais ainda era muito cedo. – Que neném mais lindo.

Shophie entregou Lucas para Melina amamentá-lo. E sentou-se na mesa para tomar café, ao lado de Alejandro, que estava sem jeito. Ele olhava Shophie, ela já sabia onde estava tudo na mesa. Seu pai costumava colocar tudo no mesmo lugar para que ela se sentisse independente e fora assim desde que era criança e seu pai a ensinou.

Seis meses se passaram e Lucas parou de mamar o leite materno de Melina e começou a se alimentar de verduras e frutas. Durante todo esse tempo ela se apegara muito a Lucas e a Shophie. Alejandro desenvolveu um sentimento bonito por Shophie, se tornaram amigos durante esse tempo e Shophie nunca percebera que Alejandro estava apaixonado por ela. Gerson já havia se acostumado a ver Melina todos os dias, às vezes ela passava as tardes na pousada. Ele gostava muito de sua companhia porque sentira muito só nos últimos tempos.

Já era Dezembro e o calor se espalhava pelos ares da cidade. O cheiro do verão e dos turistas já era visível, a pousada estava cheia. Era um meio de hospedagem de pequeno porte e familiar. Tinha apenas trinta leitos e que no verão lotava. Gerson então contratava as mesmas pessoas da sua comunidade para ajudar com os hóspedes. O grande atrativo eram as praias próximas e as lagoas.

Em uma tarde de sol a esquentar a areia da praia. Shophie foi convidada por Alejandro para dar um passeio na praia. Melina estava na pousada com Gerson o ajudando. Só tinha mais um quarto vago, a pousada estava lotada. Melina se prontificou a cuidar de Lucas junto com Nicole para Alejandro passear com Shophie. A pobre Shophie não sabia mais o que era dar um passeio. Devido á carga que tinha para cuidar de Lucas e não podia sair com ele na rua, ela tinha medo.

Ao encontrar uma grande pedra achatada, que mais parecia um banco, Alejandro pegou Shophie pelas mãos e a colocou sentada na pedra e logo se sentou ao lado dela. Shophie fechou as pálpebras e sentiu o vento em seu rosto, mas logo abriu os olhos. Ela ficava feliz por saber distinguir o dia da noite. O sol estava quente e ela via uma luz amarelada.

- Eu consigo ver uma luz amarelada. Deve ser o sol.

- Verdade? Então você sabe quando é de dia e noite?

- Sim. Isso é bom.

- Desculpa perguntar, mas... – ele detestava se intrometer na vida de alguém, mais havia uma curiosidade em relação aquela menina ao seu lado. – você... Nasceu assim?

- Sim, eu nasci cega. Nunca enxerguei mais que uma luz apenas. – ela fazia cara de tristeza.

- E como você consegue andar sozinha por essas ruas? Não tem medo?

- No começo eu tinha meu pai que andava comigo, mas, depois ele me soltava para caminhar com ele ao meu lado e, depois de um tempo comecei a sair sozinha. Tinha dias que eu chegava a casa com os joelhos machucados, mas com a ajuda dos meus sentidos eu recordava os caminhos e conseguia voltar. Às vezes os visinhos me ajudavam quando eu ficava perdida já sendo noite. Então era só escuridão. De dia era mais fácil, eu conseguia vez a luz do dia e as cores, meu pai me ajudava a distingui-las. Foi assim que aprendi.

- Você é muito guerreira menina. Admiro muito você por isso. – Alejandro passava as suas mãos em seu rosto e ela sorria.

- Brigada. A vida é assim mesmo, temos que nos contentar com o que somos e com o que temos. Eu sou feliz, mais seria mais, se pudesse ver.

- Você nunca tentou procurar um médico especialista?

- Sim, mais o valor da cirurgia era muito caro. Meu pai nunca pôde pagar. E eu dizia para ele que eu era feliz assim, e não precisava se preocupar comigo e depois ia para o quarto chorar para que ele não me visse daquele jeito.

- Você é tão... Tão... Maravilhosa, não consigo imaginar uma mulher com tanta qualidade quanto você. Aceita a vida do jeito que é. É muito difícil uma mulher aceita tudo assim, e você compreende a vida como se pudesse vê-la.

- Na verdade eu só aceito a vida assim porque de fato não posso enxergar. Acho que se eu conseguisse ver, não seria tão feliz como sou meu pai disse que tem muita coisa feia neste mundo e que só se conhece vendo. Eu só consigo sentir, ás vezes eu tenho sensações sobre as coisas.

Alejandro a olhava como um louco apaixonado. Não queria abusar da cegueira dela, mas estava louco para beijá-la e acariciar seu rosto e chamá-la de “meu amor” e dizer o quanto a amara. Essa vontade já brotava em seu coração desde que começou a freqüentar a pousada. Seu coração acelerava quando ouvia a voz de Shophie.

Ela ainda continuava a sentir o vento e pensara que Alejandro também fazia o mesmo, ou olhava a paisagem, coisa que ela não poderia apreciar. Alejandro pegou nas mãos de Shophie pedindo para ela se virar para ele. Ela se virou, sem encontrar maldade na intenção de Alejandro, também porque não podia ver a expressão no rosto dele.

Alejandro se aproximou de Shophie e ela imediatamente sentiu aquela fragrância suave e lembrou-se da primeira vez que a sentiu. Alejandro acariciou o rosto de Shophie e depois levou seus lábios ao encontro dos lábios dela bem devagar, de um jeito muito apaixonante. Alejandro começou a beijá-la, com cautela foi explorando a boca de Shophie e segurava os seus ombros com a mãe esquerda e a direita a sua nuca. Por uma fração de segundos ela se afastou e imediatamente Alejandro começou a colocar para fora tudo o que sentia e do amor imenso que guardava em seu coração por Shophie.

- Desculpa! Não tenho nenhuma intenção de abusar de você só porque você não pode ver, não mesmo. Eu... Eu amo você.

- Mas como? Como pode me amar? Não. Isso não posso ser eu não posso te oferecer nada, nada! – Shophie começou a se levantar e Alejandro levantou-se junto, segurando-a nos braços.

- Você tem medo de mim? O que é que você tem? Tem medo de descobrir que pode me amar também?

- Não. Não é isso, é que a gente se conhece há tão pouco tempo que... Que eu não sei o que sinto por você, sei que é um carinho imenso, mas não sei se é amor, aliás, eu não sei o que é amor.

- O seu beijo me disse outra coisa. Eu senti paixão e amor nele. Diga-me, você gostou?

- Eu... – ela não conseguia falar, nunca tinha sido beijada e nunca havia experimentado tal sensação calorosa e boa. Não sabia explicar a Alejandro o que estava sentindo. – não sei mesmo. Desculpe.

- Deixa eu te ajudar a descobri o que você sente? Por favor, me dê uma chance Shophie.

Alejandro pegou Shophie em seus braços e começou a beijá-la novamente e dessa vez Shophie não retrucou. Desejou ser beijada loucamente. Ela sentia que ele era uma boa pessoa, durante todo esse tempo que passou ao lado dele, descobriu muitas coisas em comum. Alejandro era muito dedicado e amoroso, sempre ficava ao lado de Shophie e às vezes trazia flores para ela. Shophie nunca percebera que ele estava apaixonado, devido à vários carinhos que ele gostava de trocar, como beijar suas mãos, tocar em seu rosto ou abraçá-la.

- Eu gosto muito de você Alejandro, mas vamos com calma. Você não pode esquecer que eu sou cega e não posso ter uma relação tão normal.

- Você nem deveria estar dizendo isso, eu sei muito bem o que eu quero e com quem eu quero ficar. Eu te amo muito meu amor. Só quero te fazer feliz, só isso. Desde que te vi você chamou minha atenção de um jeito que eu nem conseguia parar de te olhar.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Claro.

- Você já teve namorada? É que, você tem vinte e cinco anos e... – ela hesitou, mas Alejandro respondeu a cortando.

- Nunca tive namorada, mas conheci umas garotas no México, não conseguia firmar com nenhuma, não sentia vontade. Mas, com você é diferente, sinto vontade de tê-la todos os dias em meus braços, e até de...- ele pensara estar sendo precipitado, mas logo falou. – pedi você em casamento.

- Você realmente me ama? É amor que você sente? Já imaginou que terá que conviver com uma pessoa especial?

- Para mim você é especial.

- Você sabe do que estou falando.

- Eu não me importo e pára de falar disso. Eu te amo e é isso que importa. – Shophie sorria alegremente e apaixonadamente.

- Está bem Alejandro, vou deixar que o tempo diga o que é certo acontecer.

Alejandro a beijou docemente e ambos saíram de onde estavam rumando para a pousada, abraçados, feito dois apaixonados.

Belly Regina
Enviado por Belly Regina em 03/06/2011
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