Ansiedade
Dedos trêmulos brincam com o cordão do casaco, é cedo. O café não desce, puro nervosismo.
Se olha no espelho pela quinta vez seguida, se preocupando em estar bem, estar bonita pra ela.
6 horas da manhã.
Entra no ônibus com a cabeça baixa, perdendo-se em pensamentos. Fone de ouvido tocando músicas que ela sequer ouve direito, o olhar perdido na janela.
Em meia hora, ela chega em meia hora!
Senta e espera, observando quem passa, quem chega e quem vai. Ela vem.
Olhares se procurando numa profusão de pessoas, desconhecidos íntimos. Cruzam-se, sente a estática presa no ar? A reação é a não-reação, a ausência de movimento, a incapacidade de juntar mais de duas letras para que se forme uma palavra, é surpresa. Um rádio em má sintonia, ouve-se o chiado contínuo do mundo. Televisão em preto e branco, só elas conseguem captar a nuance de cor nos lábios uma da outra, o sorriso.
Como uma cena de filme, tudo em slow motion, exceto elas.
Corre, abraça.
"- Melhor do que eu imaginava."
"- Tudo o que eu sempre quis."
Alívio.
Solta o ar há tempos preso nos pulmões, deixa que o coração bata agora intensamente.
"Pois é dela tudo o que sou." , pensa consigo mesma.