Sentimentos sem lugar
Atravessei a rua na hora errada. Veio você na contra-mão, só deu uma “esbarradinha”, mas girei 180 graus...ou seriam 360?
Estava fatigada, uma parte de mim queria o novo. A outra estampava o medo dele. De cabeça quente me atirei, o “quê” mais racional em mim pifou, foi tirado de tempo.
Quem diria que um tímido elogio, desprovido de pretensões, fizesse você estender sua cauda em leque, exibindo-a ao mais distraído ser.
Você, taxado por todos, não se importa com a opinião alheia. Vive a vida no seu remelexo, cadenciando as sensações. Perceber que o que há de mais poético em mim foi despertado, aguça o desejo.
A ponta de poliglota, o suspiro de quem escuta Chico. Seu ar de contador de histórias, criticando opiniões manifestadas por cabeças vazias, buscando um instrumento capaz de fazer a massa cinzenta “pegar no tranco”, encanta. A inteligência é afrodisíaca. Bom português é o mínimo que se espera de uma pessoa estudada.
Carrega as marcas de uma vida, o colo de um rosto adormecido. Carimba no lar resquícios de sensações experimentadas, que não devem ser esquecidas. Não posso ouvir sobre a Espanha, paparazzis e conhecer famosos, sem captar o riso frouxo. E não consigo me afastar sem descobrir mais de você, o que de mais profundo tem guardado, o que te move, o que te enche de alegria.
Como diz a música, “Pavão misterioso, pássaro formoso, tudo é mistério, nesse teu voar...ai, se eu corresse assim, tantos céus assim, muita história eu tinha pra contar...” Curiosidade do dia: o pavão precisa correr uma determinada distância, sendo que seu vôo é muito desajeitado e ruidoso.
Eu te quis, e tive, ainda que temporariamente. Te levei pra ver o mar, a lua piscou. Botei os outros de cabelo em pé, junto com você. Me vi de cabelos em pé. Me distraía a cada olhar, não disfarçava nem pros de passagem.
Não digo que é amor, mas um encanto sedutor.
Contra-regra. Contra a regra.
Talvez superestimado. Talvez subestimado. Tento arrancar o que de mais culto há em mim, pra quê? Não sei porque essa minha tentativa de trabalhar as palavras...pra quê tanto dizer? Se não sei o que quero, devo me calar?
Você tem de aprender a dizer não...quiçá eu não seja a primeira lição.
Como pode uma pessoa mediana se atrair por extremos? Como pode existirem dois extremos e ainda um equilíbrio?
Domar certos impulsos ainda agüento, mas não o de falar-lhe, de soltar a mesma trilha sonora, de imaginar possíveis formas de conquista...
O mundo diz não, não, não...não somos extremos que se completam, e sim que se repelem...mas não é isso que queremos enxergar...
Na tentativa de dizer que de alguma forma tem um pouco de você em mim, que poderia existir mais, que preciso da garantia de que o “se permitir” poderia durar uma semana, ou um ano, mas que ainda assim valeria à pena...obtive êxito?
A loucura do “não era pra ser” mas “poderia dar certo” me assola. Abrir mão, lançar mão...eita contradição angustiante. Mas o seu andar desajeitado...a reciprocidade daqueles segundos de troca de olhares...
Deus escreveu a sua história...e nela os humanos aparecem...não para fazer mal...mas pra acrescentar...se ainda não acrescentei...não sou humana? Devo me humanizar? O risco é calculável?