Assassinada por si mesmo

De manha ficava deitada até tarde. Não levantava pra nada. E a gente com fome esperando ela acordar. Eu andava rapido pela casa na esperanca de que o tempo fizesse igual. Não acontecia

Nada. O relógio, onipotente na parede, reinava. O sono exagerado dela, dava a minha vida, o valor que teria, durante muito tempo: ela era doente. Assim rezava os tempos e as caras que acompanhava nossa vida.

Todos a olhavam demorado e penoso. Tinha nela a proximidade de uma santo. Se perguntar se é pelos milagres, pelas obras de caridade. Não. A resposta é não. A resistência em calar. Sofrer e fazer do holofote armas e dividir com os outros os mistérios que roda toda enfermidade. Trazendo pra casa e seus seguidores,

sentimentos profundos de agonia, que enferma não só o doente, mas todo ar e todos os habitantes que compartilha o mesmo espaço e até mesmo, o coração sitemico que forma o centro de uma família.

Uma ou duas vezes no dia ela acordava, levantava, olho amarelo, preso nela como sua carne. Olhava Amarelando as paredes e o dia. Andava, andar lento e calculado, cada passo medido, cada olhar controlado. Ao quarto voltava, sem dizer nada. A única coisa que deixava era o rastro nas pessoas da casa.

O cansaço dividido. Relaxava agora. Tinha feito feito seu trabalho. Contagiou de amarelo o que era verde, braco ou preto. Todas as cores mudavam. À força, num ato calado e enefável. Estava satisfeita, nutrida, alimentada, pois o pardo noturno que carregava em seu coração, migrava como uma diferença de pressão,

Ou concentração, com queira fazer o raciocínio, para tantos outros. Que faziam do resto do dia um escova metafisica. Desespero pra limpar o resultado daquela andanças diárias..

Não bastava ter o mal, não bastava ter a dor. Não. O orgulho é mostra-lá, exibi-la como um trofeu, resultado de uma vida virtuosa, sadicamente virtuosa. Qualidades que amaldiçoavam resto mortal imperfeito. Carregando de culpa o mundo. Quando esse final. Amado final, não era conseguido, a força propulsora voltava pra tras, mais feroz, mais cruel. Ganhava força e assim a fabrica de monstros se moldava numa dança eterna e circular. De tanto a força voltar, ela morreu, assassinada por si mesmo.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 31/05/2011
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