NAQUELA PRAÇA

Mais uma vez, se via na praça do bairro distante onde tudo aconteceu. Foi alí, entre as arvores frutíferas, os brinquedos, o monumento e o vento frio de inverno que Ana e Luiz celebraram a aliança de amor.

O local também foi o palco de muitas juras firmadas e foi também alí que, numa noite, Ana recebeu uma ligação do seu "grande amor", pedindo urgência num encontro e, sem muitas explicações, ouviu dele que "era o fim".

Desde então, a vida de Ana passou por várias estações: depressão, desilusão, falta de amor próprio, fugas e um desejo constante de morrer.

Porém, naquela semana decidiu que enfrentaria o medo. E assim, passou a visitar a praça diariamente. Se permitiu viver cada lembrança, chorar por cada etapa e imaginar tudo o que poderia ter sido e não foi. Lembrou-se dos beijos, dos carinhos, do corpo de Luiz e finalmente ouviu as canções do tempo regadas pelas chuvas de vento anunciando a chegada de mais uma estrela.

Porém em especial nesta tarde, se sentia melhor. Triste, mas sentia-se viva. Viu-se no palco ainda como uma personagem atuante. Olhou em volta e viu pessoas. Imaginou também suas histórias.

Ouviu o som do vento. Aqueceu seu corpo com um abraço e chorou. Chorou muito.

Depois decidiu continuar e se foi para nunca mais voltar aquela praça.