CHAPÉU PANÁMA E LÁGRIMAS...

É um homem forte ainda, talvez com seus 60/70 anos.Bem arrumado ao seu próprio estilo,chapéu Panáma,blazer de couro e um inseparável lenço que retira e recoloca no bolso,não saberia deste detalhe não fosse o fato/ato de usá-lo após cada lágrima sorrateira que enxuga.

Em uma fria e úmida noite de inverno sentado em um bar á beira - mar, bebia sua bebida, falava de sua vida, lamentava suas dores que por vezes procurava em vão camuflar em sorrisos.

Relatava indócil, indefeso, indomável e inconsolável que após 26 anos de casado a mulher da vida dele, aquela que parece que se escolhe a dedo para ser eterna amada/amante e mãe de seus filhos,se foi, ás vésperas do Natal ( o mês da esperança e da fé)!

Não resistira segundo ele mesmo, deu-lhe tudo material, inclusive na separação ( essa faca amolada que esmigalha a alma de quem ama),de absolutamente nada fez questão. Na verdade acredito que a esperança vive a espreita em qualquer situação.

Naquela noite fria e amiga, sorria com lágrimas umidecendo sua dor.

Respondia porquês, que na verdade nem ele sabia a resposta.Ainda teve que ouvir/digerir mais um golpe indefensável quando uma mulher meio sem noção da situação daquela pobre alma,perguntou cheia de si em sua terrível indiscrição: " houve traição?"

Antônio, ou talvez João, quem sabe Carlos ou Abel,não faz diferença o nome agora, meio atônito só acenou com a cabeça que não e se perdeu ainda mais em si mesmo.

Levou 48 horas de sorrisos e lágrimas, dançou e se lamentou á miúde do amor que partiu precocemente ( aliás quando um amor se vai/esvai sempre é precoce para quem fica tentando se reerguer).

O fato é que como soube em sua abastança bebeu,comeu e muitas vezes sinalizou a mulher que ainda estava ao seu lado que ela poderia partir quando desejasse.

Ele tudo tinha afinal, riqueza, poder e a mulher amada.

Ele tudo perdeu afinal, não bastaram a riqueza e o poder, se foi a mulher amada.

Saiu do bar, entrou no carro do ano e seguiu por festas, danças,lágrimas , esperanças/desesperos,bebidas, comidas . Seguiu...

Muito tempo depois, a notícia que tive desse homem, talvez Carlos,Fernando ou Joaquim, como disse não importa, foi que após muitas noites de festa e extrema solidão, capotou com o carro e vivo, aproveitou para repensar na vida.

Mas a mulher amada... há muito já estava perdida.

De tanto mandá-la embora pela vida afora, um dia ela realmente se foi e para ele resta a saudade e uma certeza: nunca diga vá,para aquela que deseja que nunca se afaste de ti,pois um dia quem sabe quando, ela pode acatar e aí amigo, o remorso e a dor poderão servir apenas de companheiros na mesa do bar, enquanto a solidão aquece ou esfria a cama e a alma.

Obs. Esse conto é real, nomes fictícios,mas pude ver de perto que mesmo quem tudo tem, tudo perde apenas perdendo o que mais preza:o amor.

Márcia Barcelos.

23/05/2011.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 23/05/2011
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