Mal havia completado dezoito anos quando ficou apaixonada por um homem sexagenário. Embora bem-apessoado, a diferença de idade era expressiva e fadada a inviabilizar esse caso amoroso. Tudo conspirava contra, mas, contrariando as expectativas, aproximara-se cada vez mais, mesmo que no início ele relutasse levar avante essa possibilidade.
Uma “gatinha” para ninguém botar defeito: loira, alta, olhos claros, um corpo sensual e uma voz maviosa que mais parecia o canto de um anjo. Areia demais para o seu caminhão, como diziam os amigos mais chegados. No que concordava plenamente, mas estava por demais atraído para resistir aos seus encantos. Bem que tentara em diversas oportunidades, atendendo aos seus instintos que o avisavam dos riscos que corria nesse relacionamento impensável.
O problema maior era que ela demonstrava não querer aceitar um possível rompimento, mesmo aconselhada sobre a loucura de ficar com um homem que poderia ser seu avô.
Mas, a tudo ouvia e retrucava, dizendo que nada importava, a não ser a sua felicidade, e que faria tudo para ficar ao lado desse amor por toda a vida. Que sabia que ainda era muito jovem, mas isso não a impediria de entregar-se ao homem que lhe despertará um sentimento nunca antes experimentado.
Conheceram-se num congresso médico, onde ela trabalhava como recepcionista, oportunidade em que os olhares se cruzaram e despertaram a chama do amor à primeira vista. E enquanto durou esse evento sempre conversavam nos intervalos.
Estava eletrizada com aquele homem alto, cabelos grisalhos e um olhar penetrante que ia dentro da sua alma. E também era um cavalheiro andante. O seu porte assemelhava-se a um guerreiro das cruzadas, pelo menos foi essa a impressão que ela teve.
Era viúvo e possuía três filhos casados. Muito erudito, falava quatro idiomas fluentemente, além de ser rico, detalhe que ela só veio tomar conhecimento tempos após, o que demonstrava que o seu interesse não era motivado por esse detalhe, como muitos poderiam erroneamente concluir. Simplesmente adorava estar ao seu lado, esquecendo por vezes das tarefas sob sua responsabilidade, fazendo que o supervisor chamasse a sua atenção em diversas oportunidades.
Ao final do congresso, ela o surpreendeu dizendo que queria viver uma vida plena ao seu lado, pois não suportava a ideia de ficar distante do homem que amava. E mesmo tendo sido questionada, disse que largaria tudo para acompanhá-lo, na certeza de que a sua vida não seria a mesma longe dele.
Ainda assim, ficou em suspenso essa decisão, a pedido do médico, alegando que precisava pensar a respeito devido à complexidade do assunto, e que, inclusive, ouviria a opinião da família antes de tomar uma decisão a respeito, já sabedor que aquela loucura nunca daria certo.
Mas, para não postergar a volta para casa, pediu que ela esperasse um pouco antes de qualquer decisão apressada.
Todavia, os acontecimentos se precipitaram, e passados alguns dias, ao atender à batida na porta de casa, deparou-se com ela segurando uma pequena bagagem e um sorriso mais lindo que já vira.
Mesmo desconcertado com essa surpresa, permitiu que entrasse e se acomodasse em sua ampla sala, onde conversaram por algum tempo.
Apesar de repreendida, deixou claro que a decisão havia sido tomada e que nada a mudaria. Estava decidida a permanecer ali se ele assim o desejasse. A sua família estava a par dessa atitude, e mesmo não concordando tinha cedido à sua vontade, desejando que fosse feliz, apesar dos pesares.
Como ela havia recebido uma bolsa de estudos para uma universidade na Alemanha, onde estudaria medicina, foi perguntado se a acompanharia quando isso ocorresse. Claro que seria impossível, devido a sua atividade profissional, a não ser por um pequeno período, já que poderia tirar férias por dois meses, aproximadamente.
A partir daí aconteceu o impensável: ficaram juntos e amaram-se até a exaustão, e nem ligavam quando recebiam olhares críticos dos transeuntes ao passarem de mãos dadas, alheios às maledicências, perdurando essa situação por mais algum tempo, até que ela precisou apresentar-se na universidade.
Viajaram na classe executiva e causaram um escândalo ao beijarem-se durante o voo. Ninguém acreditava que aquela linda menina estivesse apaixonada por um idoso. Houve um momento que a comissária chegou a pedir um pouco de recato. Mas não estavam nem aí, o que importava era o momento presente. O futuro? Viria ao seu tempo.
Permaneceu junto dela por pouco mais de um mês, tendo nesse período alugado um apartamento próximo da universidade para facilitar a locomoção da sua amada, comprando, inclusive, um pequeno veículo para que tivesse mais conforto em seus afazeres.
Foram dias de muitas alegrias a prazeres inolvidáveis. E, ao contrário do que acontecia no Brasil, na Alemanha ninguém ligava para a acentuada diferença de idade entre o casal, pelo menos não ficavam olhando quando passavam abraçados trocando pequenas caricias.
Quando chegou a hora de retorno, ela o acompanhou ao aeroporto vestida como se fosse uma adolescente, chamando a atenção dos homens que paravam para apreciá-la em seu andar cadenciado e cheio de sensualidade.
Algo maravilhoso e digno de ser lembrado para sempre. Uma mulher lindíssima. Nem acreditava que fosse sua.
Despediram-se com entusiasmo e muita paixão, tornando aquele momento doloroso para ambos, principalmente para ele que deixava a “diva” num país estranho e distante de seus braços. Mas precisava voltar ao batente, não poderia mais postergar, sob pena de perder os pacientes.
Durante um bom tempo trocaram emails regularmente e conversas na Internet utilizando a Webcam. No vídeo do monitor era mais exuberante ainda. Nossa! Às vezes, para provocá-lo, aparecia só de roupa íntima e sem a parte de cima, fazendo trejeitos de menininha sapeca, colocando o dedo nos lábios e simulando cara de choro. Haja coração para aguentar tanta sensualidade. Mas, que jeito?
Este sonho durou alguns meses, até que recebeu uma carta lacônica dando conta que ela encontrara um novo amor – um colega de universidade. Pedia desculpas pelo ocorrido, mas achava que devia ser sincera para que ele não alimentasse falsas expectativas. Que estava saindo do imóvel que alugara e mobiliara, deixando tudo para que desse o destino de sua conveniência. Ao final, pediu que não fosse enérgico demais em seu julgamento, pois haviam tido momentos inesquecíveis que permaneceriam para sempre.
Mas a “grande notícia” ficou para o final: informou que estava grávida dele e que gostaria que registrasse a criança em seu nome, para que o vínculo afetivo permanecesse, mesmo que não fossem mais marido e mulher. Reconhecia que fora intempestiva em sua paixão e pedia que a compreendesse e perdoasse.
Embora já esperasse por algo assim, sentiu uma forte dor no peito que pensou que estivesse enfartando. Foi difícil superar a decepção amorosa, mesmo sabendo antecipadamente que tudo conspirava para que não desse certo.
E quase entrou em depressão, não fosse o seu autocontrole emocional. Já havia passado por situações mais ou menos parecidas, o único diferencial era que acontecera com mulheres mais velhas.
O tempo passou, a dor foi cicatrizando e novas oportunidades amorosas aparecendo em sua vida, até que recebeu um telegrama da eterna amada convidando que a visitasse, pois estava com saudades. E mesmo surpreso com o convite, reconheceu que era uma boa oportunidade para revê-la.
Quando chegou ao aeroporto, sentiu-se um forasteiro em terra estranha, cercado de gente desconhecida e com hábitos bem diferentes dos que estava acostumado. Mesmo não sendo esta a primeira vez que por lá colocava os pés, não conseguia acostumar-se. O próprio ar tinha um cheiro diferente. Mas a sua presença naquele mundo estrangeiro era necessária para que atendesse a determinadas resoluções que tomara a respeito daquele relacionamento.
Lá estava ela à sua espera. Linda como sempre. Os cabelos cor de palha caídos sobre os ombros conferiam-lhe uma aparência exótica, mesmo morando na terra de Wagner, onde existem belas Valquírias. Mas ela se destacava de todas. Uma cena reconfortante para os seus olhos depois de um longo voo, onde a ansiedade foi a tônica dominante.
Viajar de avião era estressante, ainda mais por saber que ia ao encontro da menina-mulher que havia transformado a sua vida da noite para o dia, e que carregava no ventre o fruto do efêmero, porém inesquecível amor que tiveram.
Já no sétimo mês de gestação estava mais exuberante de quando a conhecera. E assim que ela o descobriu no meio dos passageiros que desembarcavam, abriu aquele sorriso magnífico, expondo uma alva dentição e o belo carisma que possuía, correndo a seguir imprudentemente em ao seu encontro, o que o deixou preocupado devido a sua condição. Mas alheia a esse detalhe, jogou-se em seus braços efusivamente, fazendo que quase perdesse o equilíbrio.
Beijou-o com carinho e estreitou o seu corpo ao dele, apesar da imensa barriga que ostentava.Certamente continuava a ser a quase adolescente que conhecera numa tarde memorável. E antes que se refizesse daquele abraço acolhedor, foi agarrado pelo braço e puxado em direção ao portão de saída do aeroporto, sendo necessário que pedisse calma, pois antes precisava recolher a bagagem na esteira rolante.
Mesmo morando com o novo namorado, ela fez questão que ficasse hospedado em sua casa. E não adiantou ele ponderar a respeito, dizendo que isso poderia gerar constrangimentos. Foi em vão. Mas percebeu que os jovens hoje em dia possuíam uma visão diferente. Foi recebido pelo rival com a maior cortesia, como se fosse um velho amigo da família, e em pouco tempo ficou mais relaxado.
Foram dias agradabilíssimos, contrariando todas as expectativas. Sentia como estivesse em casa e eles fossem os seus filhos. Nunca achou que pudesse pensar dessa maneira a respeito do relacionamento com ela e o atual namorado.
Por exclusiva iniciativa, assumiu o compromisso de custear as despesas de internação quando fosse dar a luz, além de enviar mensalmente determinada quantia para ajudar no orçamento doméstico enquanto estivesse estudando.
Ainda que ela rejeitasse inicialmente essa oferta, argumentando que o namorado assumiria as despesas que tivessem na vida a dois, ele fincou pé e fez prevalecer a sua vontade.
Quando pegou o avião de volta, os dois o levaram ao aeroporto e ficaram até o momento do embarque, ocasião em que ela o beijou nos lábios e disse docemente que ele lhe havia proporcionado momentos inesquecíveis que jamais seriam olvidados.
Comovido com essas palavras, assistiu as lágrimas descerem livremente pelo rosto da sua doce menina, apagando com isso as eventuais incertezas que ainda tivesse a respeito dos seus verdadeiros sentimentos. Mesmo que a diferença de idade houvesse sido fator determinante para o término daquele louco amor, ainda assim ficara a certeza que os momentos vivenciados jamais seriam esquecidos.
Decorridos dois meses, recebeu um telefonema dando conta do nascimento do filho, além do convite para que o visitasse assim que pudesse. Ficou algum tempo confuso com essa notícia alvissareira. E não querendo perder mais tempo, tão logo consultou a sua agenda arrumou as malas e pegou o primeiro voo disponível.
Lá chegando, foi apresentado ao seu herdeiro: lindo como a mãe. Pele alva como a luz divina e olhos azuis profundos de uma beleza indescritível. Não pode evitar e intensa emoção e chorou livremente ao segurar o fruto daquele precipitado amor. Lavou a alma, literalmente, permitindo que aflorasse a gama da emoção que vinha reprimindo há muito tempo.
Depois de efetuado o registro, permaneceu mais uma semana no apartamento que alugara, antes de entregá-lo a administradora, dando de presente os móveis e utensílios para a sua doce menina. Apesar dos pesares, ela merecia muito mais do que isso, pois lhe proporcionara momentos indescritíveis de puro êxtase.
Ela compareceu novamente ao seu embarque com o marido e o seu filho, e mesmo usando uma saia simples, por onde passava atraia os olhares masculinos pela sua classe e beleza estética, o que lhe provocou um leve queixume, que logo superou. Uma pena que a tivesse perdido para outro, mas precisava acostumar-se com essa ideia.
Hoje, vive das reminiscências desse amor que marcou profundamente a sua vida, e que deixou um fruto que irá eternizá-lo enquanto estiver perambulando pelos anos de vida que ainda lhe restam.
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