Recomeço
O barulho das crianças incomodava Raquel há 20 minutos, mas insistia em ficar ali. Olhando a areia, como se pensasse em nada.
Apesar do sol forte o clima era agradável na principal praia da ilha. Caminhou um pouco pelo cais que avançava sobre o mar, continuava preocupada.
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Luis acordou um pouco tonto e culpou a si mesmo pela noite anterior, pesada, repassando os desencontros com ela. Por mais que bebesse água, sobrava o amargo da ressaca. Gostava de Raquel, apesar de tudo, do início difícil, das brigas por nada.
Não podia ter ido embora daquela forma, nenhum dos dois, mas a conhecia desde sempre, a viagem aconteceria de qualquer forma e aquele olhar, no dia da partida, não denunciava uma mudança de ideia
.Enquanto o mal- estar, aos poucos, o deixava, se concentrou em uma notícia sobre o exército mexicano.
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Notícia reprisada no jornal da tarde sem que Raquel pudesse ouvir, pois só pôde correr para atender o telefone que ouvia tocar desde o corredor.
Tentou se distrair com uma amiga que falava do novo apartamento na rua central, e por alguns minutos, até relaxou. No fundo, não sabia a consequencia de tanto tempo afastada. Teria forças para recomeçar, independente da noite que se aproximava.
Mais tranquila, ligou o rádio e deitou.
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Àquela hora costumava chover um pouco, principalmente em janeiro, mas olhou para fora e viu o asfalto seco. Não seria bom ficar em casa. Luis caminhou até o restaurante ali perto, onde pudesse, agora sim, com mais frieza. Pensar no que dizer a Raquel. Embora não fosse sua culpa( nem dela , talvez), o que fazer quando a distância fisica traz a emocional?
O almoço a sua frente não era igual ao da foto, preferiu ignorar, faltava pouco tempo e alguns pingos já caíam, escorrendo pelo vidro.
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Poucos ocupavam o interior do “Hermanos”, recém-inaugurado, mas desde já, ponto de encontro de políticos, casais, estudantes.....
O grupo à esquerda pedia a sétima cerveja, enquanto falavam sobre as eleições marcadas para dali a 3 dias e nem notaram quem Luis esbarrara em um deles procurando a mesa em que costumava ficar com ela.
Não saberia dizer quanto tempo esperou até que ela chegasse e nem importava diante do tempo em que estavam separados.
Ele falou primeiro
-Como foi a viagem?
-Demorada
-Bom te ver de novo
-Eu tinha que conhecer o outro lado, não foi só trabalho
-Pensei que não ia mais te ver e nunca me acostumei
-Chega de despedidas
-Chega de falar disso..... pede nossa cerveja.
Ambos sorriram, enquanto o grupo à esquerda deixava o bar, também felizes. Irmãos não deviam se separar.