Lembranças de junho
O expediente estava agitado. Gente pra lá e pra cá numa ciranda louca a procura de algo. Afinal, era 11 de junho, véspera do Dia dos Namorados e mais uma vez, muita gente deixara para comprar seus presentes na última hora.
Naquele dia em especial, chovia fino e fazia frio na Cidade Maravilhosa, e entre tantos rostos, um insistia em sorrir ainda que uma lágrima teimosa insistisse em lavar o rosto moreno. Ruth. Dona de um sorriso cativante e de uma simpatia singular. Não era por acaso que era a vendedora mais requisitada daquela loja de presentes. E assim como acontecia sempre em datas especiais, lá estava ela atendendo um, sugerindo a outro, sorrindo sempre em meio a melodia do comércio.
Num dos poucos momentos de solidão, logo depois de atender a um jovem rapaz que pedira sua opinião sobre o que comprar para a noiva que chegaria de viagem no dia seguinte, Ruth olhou para a mão direita, onde ainda havia a marca de uma aliança. Não se deu conta que naqueles poucos segundos voltou a um passado não muito distante, onde reencontrou Márcio. Simplesmente, Márcio. Nas lembranças os beijos, abraços, sonhos e projetos. Em devaneios, lembrou-se das juras de amor eterno. Márcio. "Por quê?", pensou. Viu-se de novo ouvindo o frio "Não quero mais" e a figura alta e magra se afastando definitivamente.
Num súbito, balançou a cabeça e se fez voltar ao presente. Afinal os meses se passaram e a vida insistia em continuar e mesmo num clima que trazia tantas lembranças, naquele hoje tais recordações já não machucavam tanto e Ruth, ainda, acreditava no amor.
Foi quando seu celular tocou:
- Alô
- Oi Ruth, tudo bem? É o Lucas, lembra-se?
- Ah! Sim. Lucas, me lembro. Tudo bem?
- Melhor agora, ouvindo sua voz.
- Sim... Claro...
- E então? confirmado nosso cinema no próximo domingo?
- Sim, tá confirmado!
- Ok. Que legal! as seis da tarde, tá bom?
- Sim, está ótimo.
- Até domingo
- Até.
Ruth desligou o telefone e mais uma vez sorriu.Decidira voltar a sonhar e viver um novo dia 12 de junho.