Tarde de Outono
Tarde de Outono
O crepúsculo manchava de laranja o céu e as nuvens seguiam em direção ao horizonte. O ar gélido percorria o lugar e acariciava com uma brisa o rosto do casal que aproveitava o fim de tarde ali.
Eles assistiam o precipitar silencioso das folhas das árvores, tocando gentilmente o solo. Ambos admiravam o submergir vagaroso daquela gigante estrela no horizonte.
O casal curtia um ao outro. O rapaz envolvia sua noiva entre seus braços, lhe aquecendo. Ela se espreguiçava entre eles, se aconchegando no troco dele, enquanto pousava sua cabeça sobre o peito. Naquela tarde fria, seus braços serviam de refugio para a garota, que se prendia intensamente a eles.
Aquele banco era o refúgio deles, dos problemas cotidianos, do trabalho, da cobrança, da pressão. Ali eles podiam se curtir sem interrupções. Podiam aproveitar a tarde toda a companhia um do outro. O pouco tempo que tinham para ficar juntos era bem gasto naquele lugar.
Eles assistiam o passar das pessoas ordinárias, pela praça. Davam-se conta de quanta beleza aquelas pessoas perdiam. Suas vidas corridas de cidade grande, limitando a vista para o natural. Sempre cobrados e estressados, não conseguem se quer reparar em detalhes que podem modificar todo seu dia, renovar suas esperanças, seus desejos, as tornando frias e infelizes.
A garota olhou para seu amante, com um olhar carente.
Ele sabia do desejo de sua noiva. Em silêncio ele levou seus lábios de encontro aos dela, podia sentir o calor de sua respiração atingir a maçã do rosto, e a pulsação acelerada de sua amada aumentar rapidamente. Pressionando-a contra seu peito, ele a beijou apaixonadamente, fazendo-a perder o fôlego.
Ela olhou surpresa para seu noivo.
--O que aconteceu?
Ele riu modestamente.
--Nada em particular.
Ela o olhou, desconfiada.
Ele riu novamente enquanto acariciava o rosto dela com o dorso da mão.
--Só percebi que acabei de ficar mais apaixonado por você hoje. – respondeu ele lançando um olhar sereno para ela.
A garota corou seu rosto. Meio desconcertada, ela sorriu.
--Engraçado senti o mesmo neste exato momento.
Ele tocou delicadamente os encaracolados cabelos de sua mulher, fazendo seus dedos penetrarem entre os cachos. Fez-lhe um cafuné com as pontas dos dedos, enquanto aproximou-se sorrateiramente e lhe roubou outro beijo intenso.
Ela riu gostosamente.
--Bobo!
Tocando suas testas o casal se entre olhou por segundos, mas para eles parecia que o tempo havia parado.
O sol finalmente tinha desaparecido, o alaranjado do céu se transformado em estrelado e as luzes da praça se acenderam, interrompendo o momento dos dois.
--Nossa já é noite? – perguntou surpresa a garota.
Acenou positivamente com a cabeça o rapaz, mostrando desapontamento.
Ela lhe acariciou o rosto novamente, e deu-lhe um beijo de despedida.
O rapaz se mostrou conformado. Ergueu-se do banco enquanto dava a mão para a garota.
--Infelizmente, é hora de irmos meu amor!
A garota acatou ao pedido, aceitando a mão dele, que a envolveu como um laço. Ele a beijou novamente, e seguiram seu rumo deixando para traz apenas um banco vazio de praça e o vento gélido do outono.