UMA HISTÓRIA DE AMOR EM "SETEMBRO"

Setembro

O mês de setembro era um mês marcadamente ruim para José Carlos. Quando ele tinha dois anos de idade perdeu o seu pai, vitimado pelo coração, um dia após o seu aniversário.

Dois meses após o falecimento de seu pai, a sua mãe e a sua tia Carmem que também era sua madrinha, resolveram se mudar da cidade, a fim de tentarem vida melhor na capital. Flórida Paulista, cidade do interior do estado de São Paulo, já não servia mais para o anseio dela.

Mês de setembro, poucos dias antes de José Carlos completar 12 anos, faleceu a sua mãe que era diabética e há muito tempo sofria doente.

A sua tia Carmem o criou sozinha com muito esforço, mas também com muito carinho.

José Carlos cresceu, estudava economia, tinha uma loja de livros usados, popularmente chamada de sebo e de lá tirava o sustento para tudo, a sua tia não estava conseguindo mais trabalhar devido as doenças oriundas da diabetes que também tinha como a sua falecida mãe. Como um bom filho, ele agora era o homem que cuidava da casa e de todas as outras coisas da família.

Acabara de completar 22 anos, chegara do hospital visitando a sua tia, madrinha

e também mãe que se encontrava lá doente e internada. Toca o telefone,

novamente uma notícia muito ruim, aviso do hospital de onde tinha voltado

de que sua tia acabara de falecer.

Transtornado José Carlos começou a brigar com Deus.... Deus! Deus! Por que me persegue tanto?

Por que me deixa acontecer tantas coisas ruins assim e sempre no mês de setembro? Por que meu Deus?

Refeito do choque, se lembrou que a sua tia sempre pedira a ele

que quando falecesse, fosse enterrada em sua cidade natal, Flórida Paulista.

Ele juntou as suas economias e fez o desejo dela. Amava muito essa mulher

que além de tia, madrinha ainda fez perfeitamente para ele o papel de mãe.

Após o enterro, desconsolado, resolveu andar pelo cemitério para conhecê-lo

e também a fim de se distrair.

Olhando os túmulos, parava, conferia os nomes, as datas de nascimento e falecimento, fotos...Ele se interessava em olhar as fotos e imaginar a história daquela pessoa

quando viva. Quando passava perto de certo túmulo, ele o chamou a sua atenção.

Sobre este túmulo, um gato miava irritantemente.

Ele se dirigiu ao túmulo, o gato correu assustado. Ele então, olhou para a placa no túmulo e conferiu nome, data de nascimento e falecimento, mas ao olhar a foto da pessoa falecida, ele teve um misto de espanto e fascinação. Era uma moça que havia falecido pelos seus cálculos com 19 anos, a foto estava velha, mas dava para notar que a ela tinha sido uma moça muito bonita.

Certamente hoje teria idade para ser a sua avó. Mas, o olhar daquela moça na foto o marcou. Algo naquele o olhar o encantou. Tanto que ele retornou outras vezes ao cemitério somente para rever aquela foto naquele túmulo.

Ao sair do cemitério, resolveu conhecer a cidade que ainda não conhecia,

havia se mudado dela quando ainda tinha 2 anos de idade. Gostou muito da cidade

e resolveu sem uma explicação plausível vender o seu comércio na capital, paralisou

os seus estudos e se mudou para a cidade de Flórida Paulista.

Montou um comércio parecido com o que tinha na capital. Comprava e revendia livros,

a sua loja em pouco tempo ficou muito conhecida na cidade e prosperava.

Um ano após a sua mudança, no mês de setembro, José Carlos havia acabado de completar 23 anos, sentia que a sua sorte havia mudado, mas ainda havia nele certo receio ou até medo daquele mês que parecia ser cruel com ele.

Já era dia 22 de setembro e nada de mal havia acontecido com ele. Neste dia, comprou uma grande quantidade de livros de alguns clientes. Era seu costume, antes de revendê-los, conferi-los um a um, abrindo, folheando e anotando em um livro de sua contabilidade, os nomes e endereços dos antigos donos.

Ao pegar o primeiro livro que era da Zíbia Gasparetto (Um Amor de Verdade) e abri-lo, encontrou dentro uma foto que o deixou fascinado. Era a foto de uma moça que imediatamente ele associou com a moça da foto no túmulo naquele cemitério onde estava enterrada a sua amada tia. Ele simplesmente sorriu, dizendo consigo mesmo - estranha coincidência, mas impossível serem as mesmas, afinal a foto da moça que estava no livro paracia ser recente, mas que eram idênticas eram, inclusive aquele olhar marcante nas duas fotografias.

Olhando as suas anotações, conseguiu o endereço do antigo dono e para a residência dessa pessoa ele se dirigiu. Chegando lá tocou a campainha, passado algum tempo ninguém o atendeu, ele insistiu e novamente ninguém o atendeu. Ele se virou e quando deu alguns passos para ir embora, alguém o chamou:

- Moço, com quem você queria falar? Ele se voltou.... Ele a recolheceu imediatamente como a moça da foto, era aquele mesmo olhar....

O seu olhar ficou preso ao olhar da moça. Ambos ficaram paralisados, naquele instante

os dois criaram um momento mágico para ambos. Houve uma fusão de sonhos,

desejos e uma paixão logo surgiu, e eles se abraçaram sem conseguirem uma explicação para o que ocorria.

O desejo dos dois era continuar juntos.

O tempo parecia ter parado e abraçados por algum tempo assim ficaram.

Passado aquele momento de êxtase, José Carlos se apresentou e ela também se apresentou a ele dizendo se chamar Jaqueline, ter 19 anos e ser moradora daquela casa. Ele aproveitou para dizer a razão de sua visita, que era para devolver a foto dela

que ele havia encontrado em um livro e aproveitou também para relatar sobre

o ocorrido no cemitério. Jaqueline sorriu e lhe disse: é minha falecida avó, todos ainda dizem da enorme semelhança entre nós duas, inclusive o nome dela é igual ao meu....Jaqueline. Ambos sorriram.

Passado aquele momento mágico, os dois já se parecendo amigos antigos, ainda conversaram algum tempo e combinaram de se encontrarem no final de semana

que seria dia 30 de setembro.

Jaqueline disse a ele que queria que ambos fossem ao cemitério porque ela também

tinha algo que queria dizer a ele.

No dia combinado, ambos foram ao cemitério, chegando ao túmulo de sua avó, José Carlos olhando a foto dela no túmulo sorriu e disse: se ela não tivesse falecido, com certeza eu diria que vocês eram gêmeas, tamanha a semelhança entre vocês.

Jaqueline explicou para ele a história de sua avó.

- Ela teve um amor impossível, Joaquim, se apaixonara ainda bem jovem por ele, mas a sua família nunca quis tal namoro entre os dois e a obrigou a se casar jovem ainda com outro homem com quem teve dois filhos. Joaquim também se casou dois anos depois com outra mulher com quem teve um filho. Um dia ambos se encontraram e fizeram um pacto de morte e se suicidaram em um dia de setembro.

José Carlos ficou espantando, mas também maravilhado com aquela história de amor, parecida com a história de Romeu e Julieta.

Jaqueline pegou nas mãos de José Carlos e disse a ele que o amado de sua avó tinha sido enterrado bem próximo ao túmulo de sua vó. Ela queria mostrar a ele algo. Ambos rumaram até lá.

A primeira coisa que José Carlos fez foi conferir o nome e se espantou...Ele tem o nome de meu avô! Mas quando ele olhou a foto de seu avô que nunca tinha visto antes - quase teve um desmaio. O seu avô se parecia demais com ele.

Jaqueline sorriu e disse: se ele estivesse vivo eu diria que vocês eram gêmeos.

Ambos sairam abraçados dali, sorrindo, felizes, como se fossem

antigos namorados. Até parecia que uma história de amor interrompida,

estava tendo a sua continuação.

Setembro, uma linda história de amor foi reservada pelo destino a um casal que parecia ser amar desde sempre.

Um lindo conto de "Setembro".

UmUm Conto de Antonio Pizarro

“O amor é a asa veloz que Deus deu à alma para que ela voe até o céu. "

Conto de Antonio Pizarro/Dom Galaz
Enviado por Dom Galaz em 13/05/2011
Reeditado em 18/09/2011
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