FÉRIAS AO MAR
Todas as minhas férias são inesquecíveis. Em particular esta, ficou definitivamente em minha memória. Começa na casa em que herdei de meu pai, em frente para o mar. Distante de tudo e de todos. Muito bonita. Feita sob medida, para quem gosta da solidão.
Percorro vários quilômetros de carro. Seguindo em uma única direção, a aconchegante casa da solidão. Gosto muito de viajar, principalmente sozinha. Gosto também sentir, o vento bater nos meus cabelos, longos e pretos. Uma brisa suave. Uma estrada sem fim. De repente avisto o meu refúgio. Paro para admirar a paisagem. Deslumbrante. Majestoso. Uma casinha branca, lá no fundo. Um telhado marrom. A portinha da casa, pequena e da mesma cor. Características medievais. É maravilho esse lugar.
Estaciono o carro. Desço e caminho direto a porta. Entro, paro e contemplo. Observo que tudo está no mesmo lugar. Tudo está na mais perfeita ordem. Parece que foi ontem que deixei o meu refúgio. Enfim, respiro o ar de felicidade. A primeira coisa que faço é acender a lareira, como que para me aquecer do frio que está lá fora. Fico um pouco embaixo, como se todo detalhe fosse novo. Depois subo os degraus e vou direto para o quarto. Tudo continua exatamente como deixei. Na mais perfeita ordem. Desço os degraus e vou para a cozinha, pois estou faminta. Enquanto a comida esquenta, dirijo-me a lareira e fico a divagar, detendo-me nos quadros pendurados na parede. Recordação, bem viva dentro de mim, fico a me perguntar? Onde andará aquele pintor dos quadros. Do bosque ali registrado? Por onde andará? Sozinha, isolada de todos. Começo a divagar. Por um bom tempo, terei muita paz. Com certeza, mais uma férias inesquecível.
Ao redor da casa, está o pomar, onde são cultivadas, inúmeras frutas, legumes e verduras. Bem defronte a ela, uma estufa, com imensos roseirais. Por sinal, um delicioso perfume. Inebriando-me. Começo então, a sentir paz.
Não sei por quanto tempo fiquei em frente à lareira. Acho que pelo cansaço da viagem, adormeci. Tive um sonho lindo. Passeava entre os arbustos. Por sinal um passeio bem longo. Sinto-me cansada. Sento numa pedra e observo. De repente entre os arbustos um raio de luz, ofusca os meus olhos. Levanto devagar e dirijo à luz que sai do bosque. De costas, absorto em seus trabalhos, estava um rapaz loiro, a pintar, esta passagem que me pertencia, o meu lugar lindo. A principio fiquei brava, pois este Senhor que estava a pintar perturbava a tão sonhada paz, que eu tinha conquistado.
“Estava num passeio longo, o cansaço me dominava. Parei, sentei e fiquei a observar tudo, inclusive entre arbustos. De repente um raio de luz, ofuscou os meus olhos. Levantei-me e adentrei a luz, para verificar o acontecido. Vi então um rapaz loiro, de costas, absorto em seus trabalhos, pintando a natureza. Uma paisagem que me pertencia, o meu lugar lindo. A principio fiquei brava, pois esse Senhor estava a pintar a tão sonhada paz e perturbava que eu tinha conquistado ao longo dos anos.
- A principio, indaguei ao Pintor:
- Quem o tinha deixado entrar?
- O pintor não respondeu e nem tampouco me olhou:
- Continuou absorto nos seus trabalho, pintando, imerso e parecia que se encontrava sozinho, e era como se ninguém estivesse ao seu redor, só ele.
- Voltei então a indagar desta vez, bem de pertinho; Que fazes aqui Senhor?
- Ele estupefato, lentamente se virou. Olhou-me bem de perto, dizendo que achava o lugar aconchegante. Como também a porteira encontrava-se aberta. Pensou então, que o lugar era abandonado, sem dono. Resolvera entrar e se instalar. Pintar este lugar, que lhe traz paz e uma visão maravilhosa do pôr-do-sol. Que não tinha avistado nenhuma placa de sinalização, PROIBIDO ENTRADA.
- Então eu lhe falei, com aquele tom que me peculiar, de dona do lugar:
- Esta terra que o Senhor está pisando, pertence a mim. É uma propriedade privada. Então como estou lhe falando, era para o Senhor ter se informado de quem era e só assim, procurado pedir permissão para usar este lugar. Vá pegando então seu material de pintura e dê o fora. Porque este lugar me pertence e eu não permito que invada o meu espaço.
- O pintor respondeu:
- A Senhora não entende. Eu necessito desta tranqüilidade, pois estou absorto na natureza morta deste lugar, preciso pintá-la.
- Novamente eu ordenei: Se o Senhor não sair agora mesmo com seus apetrechos, eu vou chamar a policia, para expulsá-los daqui a força.
- O pintor resmungou: Bem que se vê, uma ignorante em razão da natureza morta e da beleza deste lugar. Uma pessoa sem coração. Resmungona e mandona.
- Desta vez, fiquei brava, ofendida e com toda a minha fúria, gritei: Seu pintorzinho de bosque. Isto não lhe dá o direito de ofender a dona da propriedade. Este é o último aviso. Saia já, imediatamente destas terras que me pertence. Eu vim em busca de paz. Isto é invasão de propriedade. Dá cadeia.
- O pintor continuou a resmungar, se distanciando e quase não dava para escutar, juntando seus pertences, tratou de dá o fora da propriedade.
- Indignada, aos berros comecei a chamar o pintorzinho do bosque. Dizendo que iria dar ordens expressas ao caseiro, para nunca mais o deixarele entrar. Porque achava um disparate, uma petulância da parte dele.
- Ele continuou a falar: A Senhora não vê que está cortando a inspiração de um pintor talentoso, tolhido os ideais e frustrando a careira de outros, que por ventura descubra este lugar.
- Em meu ataque de fúria, peguei seus quadros e joguei fora da cerca. Pisoteei alguns e quebrei os pinceis que fui encontrando.
- O pintorzinho de bosque, me segurou violentamente pelos braços, que por sinal muito forte. Não sei como um calor subiu e deparei com aqueles olhos azuis penetrantes e maravilhosos. Titubeei.
- Olha aqui, Senhora estes pincéis são caros e também minhas telas. Todas destruídas. A Senhora é uma louca. De repente um beijo com violência. Quando me largou, estava com as pernas bambas e quase desmaiando. Fiquei estupefata.
- Quando voltei ao meu estado normal, fiquei a gritar: - Volta aqui seu pintorzinho de bosque. Você me paga. Girei nos calcanhares e voltei pela estrada. Acordei.
Acordo sobressaltada e estou sentada defronte a lareira e sinto um calafrio. Penso cá com meus botões. Que sonho mais louco.
Subo as escadas e dirijo-me ao quarto. Tomo um banho para poder refrescar e poder colocar as idéias em dia. Olho para minha cama e as memórias voltam. Toda a casa é recordação. Agora com mais nitidez. O pintorzinho do bosque em minha casa, no ar, no bosque. Em todo lugar. Uma presença constante. Deito na cama, pensando em voltar a sonhar, ou quem sabe tornar realidade de novo. O sono vence.
Aos poucos fui me afeiçoando aquele pintor, tão solitário quanto eu. Descobrimos inclusive que éramos alérgicos a mesma substância e também a crustáceos. Amor a primeira vista? Não. Foi um batalhar a dois, dia-a-dia, uma troca de idéias e ideais. A casa toda é recordações... O assobio tão nosso conhecido me vem à memória. Sobressalto será que estou sonhando ou é realidade? Saio correndo em direção ao bosque. Começo fazendo caminhada.
Vou direto ao riozinho onde tem uma cachoeira ao pé da serra, percorrendo toda a extensão do nosso mundo. Um cantinho só nosso para relembrar. Como ficávamos a apreciar os peixinhos juntamente com os marrecos, no mergulho no lago, que se formava no final do rio. O nosso banho em meio aos beijos e afagos. Descobríamos sensações e particularidades; ora ouvíamos o cantar dos rouxinóis e o balançar das árvores, a brisa suave no nosso cabelo. O entardecer do sol refletindo o nosso amor. Apanhando maça no pomar, etc. Gargalhadas mil e muitos abraços. Continuo a lembrar... e vejo que tudo não passa de recordações. A realidade de recordações.
Desperto para realidade e recomeço as tarefas domésticas. Saio a cavalo, percorrendo toda extensão da fazenda que herdei. Lá no alto, avisto o administrador. Paro e desço do cavalo, para então se inteirar dos problemas passados e outros que acabei de presenciar. Inclusive alguns que pensei que estaria resolvido. O fato é que o Sr. Chico está na nossa família há anos, desde o tempo em que meu pai era vivo. Cumprimenta-me com aquele sorriso matreiro, cheio de boas vindas. Põe-me a par do ocorrido neste tempo em que deixei de ir para fazenda. Observo que tudo continua como antes.
Sigo de volta em direção a minha casinha branca. Lembranças voltam a todo instante a atormentar. Ao chegar, deparo-me com uma visão maravilhosa. Um belo quadro dependurado na varanda. Com um bilhete dizendo: “EU TE AMO – ESTOU NO BOSQUE ESPERANDO”.
Ah! Meu Deus. Um auto-retrato de Miguel e eu. O pintorzinho do bosque. Nos dois, no riacho, no nosso lago. Ah! Quase pulo de tanta alegria. Como Deus é bom. Fez-me retornar para a casinha branca. Como eu poderia imaginar que minha volta me traria esta felicidade. Reviver de novo o nosso amor. Um momento mágico das férias ao mar. Enquanto eu viver, jamais esquecerei esta felicidade. Aqueles olhos verdes; a pele bronzeada e o cabelo loiro desalinhado. Com toda a minha força, desabei numa corrida de volta ao bosque. Percorro toda a trilha tão nossa conhecida. Com uma certeza de que no nosso lugar, encontrarei o pintorzinho do bosque. Ele voltou. Agora a minha casinha, o bosque, o rio, o lago. Tudo será uma eterna magia. Nunca mais irei viver de recordações. Viverei agora um sonho a dois.
Afinal hoje eu sei que minha vida é:
“Cheia de desencontros, sossegada vivendo na saudade e tubulada por não operar na felicidade. Mais é uma vida com vontade é só verdade pois convive com quem se ama. Porque ela transcorre rotineira, originada de uma continuação de outra vida ou será no seu dia-a-dia. Estou enfim na realidade do passado, presente e futuro, obscuridade, tristeza e alegria. Vida só vida, vinda ou bem vinda. É uma vida !!! Outra vez ao lado do meu bem amado.
TARTAY/Abril-2011