silêncio

Enquanto sentávamos no banco do carro no estacionamento observando o oceano, o feixe do farol como sendo a única forma de luz da qual dispúnhamos, os clarões dos raios iluminando o interior do carro e revelando as expressões em nossas faces, eu me sentia entorpecido. Ambos tentávamos desesperadamente manter uma conversa, um diálogo, freneticamente tentando preencher o silêncio cada vez que a conversa falhava, como se soubéssemos que o silêncio traria à tona a verdade. Em meio à conversa você parou, olhou para fora da janela, eu instantaneamente olhei também e vi milhões de flocos de neve escorregando pelo vidro e sumindo na paisagem. Não era apenas a neve caindo, era algo diferente. Talvez fosse porque estávamos em frente ao oceano, e eu jamais havia visto a neve de tão próximo da costa, talvez fosse porque estávamos dentro do carro, talvez fosse porque tudo parecia ter uma tonalidade amarelada, talvez fosse porque eu estava com você. Nós observamos silenciosamente a neve cair gentilmente no chão, beijando-o lentamente antes de descansar sobre ele, cobrindo cada pedaço de terra que ainda estava à mostra. Tudo estava tão quieto, tão silencioso. Silêncio. Mas o silêncio parecia tão barulhento, nossas palavras não ditas ricochetearam nas paredes do carro, eu quase pude ouvir seus pensamentos, porque eu sabia que você estava pensando exatamente o mesmo que eu. Nós permanecemos sentados, em silêncio, sem saber o que dizer agora que o silêncio havia decaído sobre nós, mas tendo tantas coisas a dizer que era difícil pensar em ficar quieto. Eu gostaria que você tivesse dito alguma coisa, qualquer coisa, enfim.