A AMANTE

-Pensei que você não viesse hoje.

-Achei que estivesse no outro local.

-Não te falei que estaria neste bairro?

-Sim, mas este ponto estava mais à frente.

-Estava esperando há muito tempo?

-Dei duas voltas com o carro, estava quase indo embora.

-Não agüentei e liguei no seu celular.

-Já te falei que não gosto que me ligue.

-Sim, mas hoje foi necessário, é por causa destes desencontros que acontecem mal entendidos.

-Mas, por favor, não me ligue mais.

-Você me mata quando diz isso.

-Você sabe que eu não gosto, não sei porque insiste.

-Eu quero falar com você!

-Quando quiser falar comigo pode me ligar no trabalho.

-Não é a mesma coisa.

-Não me ligue mais, você já sabe dos meus problemas.

-É eu sei, eu liguei no seu celular e falei com ela.

-Não era pra ter falado com ela.

-Como não? Ela já foi falando que era a sua mulher que tinha um filho seu.

-Ela é louca.

-Mas ela estava bem perto do seu celular e atendeu.

-Por isso que eu não quero que você me ligue.

-Eu bem que tentei falar mais um pouquinho, mas ela pareceu sair xingando e desligou.

-Quando for assim desligue e não diga nada.

-Como não? Ela falou que era a sua mulher, mãe do seu filho, meu sangue ferveu, então apenas só depois questionou quem eu era, e então lhe respondi que era sua amante.

-Por isso não quero que você me ligue, ela foi operada, eu tenho que levar o Vi para ela ver, porque ela está toda enfaixada e não pode segurá-lo.As vezes o Vi também fica brincando com o celular, e numa dessas ela pode atender e acontecer isso.

-Ontem você havia me dito que eu tinha lhe causado um grande transtorno, o que houve?

-Não houve nada.

-Mas parece que ela te xingou.

-Depois ela caiu na real.

-Então não aconteceu nada?

-Nada.

-Eu me senti muito mal. Te ligo no domingo a noite porque estou com saudades, e descubro que você está na casa dela.

-Eu preciso de um lugar para trabalhar.

-Na casa dela?

-Uso o computador, a internet, você sabe que eu tenho problemas na minha casa.

-Então vocês fizeram as pazes?

-Prefiro não arranjar problemas.

-Eu fiquei muito mal, tentei ligar novamente mas para variar o telefone havia sido desligado. Liguei e contei tudo ao seu irmão.

-Não, não acredito...

-Ele me escutou, foi um pouco frio, ele diz que não tem muito contato com a sua família, que você é bem enrolado...

-Por isso...por isso é que eu não gosto que você me ligue, você não se controla!

-Você desligou o celular, sumiu e não falou mais comigo.

-Ela...ela é a mãe do meu filho, eu não quero problemas.

-Por isso agora você fica na casa dela?

-É só até ela se recuperar da cirurgia, ela é a mãe do meu filho, ela não precisa mais de mim.

-Mas e o acordo?

-O advogado só me enrolou.

-Então não vai mais pagar pensão?

-Ela não precisa mais de mim, se ela quiser ela pode me afastar do Vi.

-Mas ela não precisa da sua ajuda? Por causa do valor da cirurgia, das despesas com a criança?

-Ela agora ganha bem.

-No telemarkenting?

-Ela foi promovida, ganha uns 3.000.

-Nossa que mudança.

-É as coisas mudam.

-Mudou muito em pouco tempo.

-Por isso que estou enrolado.

-Mas e nós?

-Não dá, eu tenho um filho, esses problemas, minha vida está um inferno.

-Eu não sei o que fazer.

-Se não quiser não precisa ir, já sabe, não posso namorar você.

-Mas eu te desejo muito, se pudesse já estaria no seu colo.

-E então?

-No lugar de sempre?

-Sim é melhor.

-Então pode ir.

O carro já estava em frente.

Chegaram no lugar – barato e sujo- onde costumavam ir. Na portaria só ele entregou o documento porque ela havia esquecido. Ele estacionou o carro, saíram cada um de um lado, e em um raro gesto de carinho verdadeiro ele segurou a sua mão e subiram as escadas.

Rapidamente entraram e se deitaram na cama. Ela hesitou em completar a missão, já que haviam jurado ser a última vez. Mas os corpos uma vez mais não resistiram a presença um do outro e alcançaram o máximo que se pode exigir da carne.

Na meia luz do quarto simples, a tarde caía tão rápido quanto passavam aqueles momentos.

Em pouco mais de uma hora, se vestiram, ele mais rápido aguardava ela que fazia tudo devagar.

Conversaram amargamente, um pequeno gesto dela e ele havia perdido a confiança.

Saíram sem se dar as mãos. Desceram as escadas, ele de um lado para pagar, ela do outro para aguardar no carro. No caminho parou em uma farmácia e ele soltou com desprezo o remédio em suas mãos.

A deixou na mesma esquina em que seguiu direção para casa, onde naquela noite dormiu com a mulher.

Mariana Montejani
Enviado por Mariana Montejani em 24/04/2011
Reeditado em 27/06/2011
Código do texto: T2928710
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