Conto - baseado nas tribos do Deserto...
Nas areias escaldantes do Deserto do Saara me criei. Minha tribo era Imashaghen - nos identificavam como nação Tamust. Uma cidade no sul da Líbia, numa região chamada "Fezzan". Eu falava Tamasheq entre outros dialetos e idiomas. Eu não fui árabe, fui Berbere. Nós éramos nômades, atravessávamos os desertos em caravana de camelos. Até hoje o meu tipo sanguíneo é A. Pertencia a uma casta muito antiga, pois as origens de minha família se perderam no tempo. Seguíamos a linha matriarcal e os nossos homens cobriam-se com o véu índigo, o Tamasheq , deixando somente os olhos amostra. O que até hoje, geração após geração, nos libertam dos maus espíritos; - além, de proteger-nos contra a inclemência do sol e, das rajadas de areia durante as nossas viagens em caravana. Sou conhecida como a Rosa Azul, a flor que pertence ao Deserto. Meu destino foi traçado pelas areias do tempo, um tempo que não é contado. O meu nascimento foi premeditado. Sou herdeira de um reino formado por castas que descendem da tradicional rainha guerreira Tin-Hinan e seu companheiro Takama. Pertenço a casta nobre, Imajeren. Nossos guerreiros portam a espada Takoba. Cujo formato lembra muito as espadas medievais das cruzadas. A lâmina larga de dois gumes tem um friso longitudinal e o punho é guarnecido por uma peça retangular, que lembra uma cruz. Nossa crença nos liberta. Cremos nos espíritos Kel Asuf e a divinização do Qur'an. Os "Homens Livres" (Imrad) que significa "povo das cabras". Hoje em dia criamos os dromedários. O nosso povo passou por muitas batalhas. Eu me lembro bem delas. E também me lembro dele, do meu guerreiro Tuareg. Nobre, montava um cavalo negro, crinas longas. Seus olhos refletiam o azul do céu (Bendito Seja). Eu adornava meu rosto com as cores vermelho, amarelo e azul, aprendi a dançar, éramos um povo muito alegre. No dia que eu o encontrei, estava caminhando pelas areias escaldantes. O silêncio só era quebrado com as batidas do meu coração. Quando nos vimos pela primeira vez, fizeram-se nuvens no céu. Eu procurava água. Geralmente eram os batedores d'água que se encarregavam disso. Mas em especial neste dia, resolvi seguir o meu coração. Ventava muito! Os tecidos sobre o meu corpo esvoaçavam. As areias quentes circundavam o meu ser em bailado. Ele surgiu.
(Bendito Seja) o meu ser amado. Ele se aproximou, tão devagar que parecia que as areias o arrastavam pra mim. Fiquei estática, ele só me fitava nos olhos, com os olhos da alma. Não eram mais dois corações a bater no deserto, o sincronismo era tanto, que Eu, Ele e o seu complemento, o sagrado cavalo, parte de sua alma sagrada, éramos um. E assim, Eu, Ele, O sagrado animal, as areias, as dunas, o céu acima de nossas cabeças entrelaçamos as nossas almas. Fundindo assim e reerguendo a nossa casta. Celebramos, encontramos juntos a água da vida. Tudo nos favorecia. Alegria, alegria. Até o fadado dia que os nossos destinos separaram. Reza a lenda que até hoje o Rei Tuareg busca por sua Rainha, a Rosa Azul que pertence somente a ele, o grande Deserto. Em sucessivas vidas, o tempo é o nosso aliado e uma vida após a outra sempre nos reencontramos. Temos muitos opositores, resguardamo-nos em orações. E assim seguimos a nossa trajetória de amor...