A MOÇA DO VESTIDO VERDE
Ambígua como um paradoxo, essa moça é sem dúvidas, uma mulher de nuances. Um autêntico ser de natureza feminina com rosto e voz de menina, carregados por um corpo voluptuoso de mulher madura. Colo convidativo adornado por seios fartos, cuidadosamente depositados em lingerie adequado que lhes ressaltavam o redondo farto de sua anatomia, fazendo com que se passasse despercebido à ação da gravidade dos anos já percorridos. Pele negra de um tom mulato dourado que faz jus a miscigenação da sua brasileirice. Coxas grossas, macias como a sua pele que veste um corpo roliço cheio de curvas boas e de perfeito encaixe para mãos que as vierem percorrer. Rosto arredondado boca bem talhada, nariz delicado e uns olhos grandes e doces que deixam transparecer naquela moça a meninice que sobrevive aos anos.
E foi pensando no seu tom de pele e nas suas formas, que ela, conhecendo seu corpo e alma de mulher como ninguém mais, resolveu fazer um vestido verde para encantar aquele que estava por vir.
Mas por certo não seria um verde qualquer, ela pensava em um tom meio híbrido entre o amarelo e o verde que iria cair feito uma luva na cor da sua pele. Dotada de grande criatividade e bom senso estético, ela sabia muito bem lidar com os prós e contras da sua anatomia. E assim, sabia bem o que queria e que aquele vestido não poderia ser encontrado facilmente nas vitrines das lojas da cidade. Então, como em tantas outras vezes pôs-se a desenhar ela mesma o seu vestido verde e exclusivo.
Tinha em mente, um vestido de aparência pouco comum e ao mesmo tempo com um ar de simplicidade, que não revelasse o tempo que levou para que fosse elaborado. Como se costuma dizer no mundo da moda, certo ar de casualidade. Como sempre foi fã das divas dos áureos anos de Hollywood, o vestido deveria ter um ar retrô, com ombros e colo a mostra que revelasse o formato dos seus seios com generosidade suficiente apenas para despertar a imaginação de quem olhasse. Corpo justo e cintura muito bem marcada, dando a sensação e o efeito visual de um corset. A saia seria farta, com um macho frontal e outro na parte de trás, dando classe e imponência a sua postura. E para terminar, três pregas em cada lateral para realçar a sua cintura. Tudo em um tecido de puro algodão, adornado com linhas bem finas “ton sur ton”, formando uma trama de sutil xadrez que, se encarregaria de acrescentar um ar jovial de campestre inocência para contrastar com a sedução que o vestido sugeria. E assim, cuidadosamente de detalhe em detalhe foi sendo confeccionado aquele vestido, até que na véspera do derradeiro dia da chegada do seu amado, o vestido ficou pronto.
Na manhã seguinte, ela dirigiu-se logo cedo para o apartamento que ele alugou especialmente para que pudessem passar uma temporada a sós, longe do mundo, e viver um romance de dimensões tão hollywoodianas quanto o vestido verde que a moça iria usar.
Como eu ia dizendo... Ela foi logo cedo para o apartamento, queria que cada detalhe ficasse perfeito. A vista da janela do quarto do casal, por si só já garantia o sucesso. Uma paisagem de cartão postal, com o mar azul e a sinfonia das suas ondas ao quebrarem na areia, com direito a assistir o nascer do sol por trás do corcovado. Mas ela queria mais! Pois não acredita existir limites para o encantamento.
Ele chegaria ao aeroporto no final da tarde, trazendo consigo o vinho do jantar que ela desde cedo ficou ás voltas com os preparativos. Foi ao mercado comprar as coisas das quais ele gostava. Comprou toalhas novas para o banho e lençóis para a cama que arrumou com esmero... Mas o que mais me impressionou foram as rosas.
Logo cedo quando foi ao mercado, notou que próximo ao prédio onde ficava o apartamento, havia um quiosque onde um senhor vendia flores belíssimas... Especialmente as rosas vermelhas. Foi então, que depois de ter terminado a arrumação do apartamento e todos os preparativos para o jantar que ela mesma faria, ela voltou até o quiosque onde escolheu entre todas as rosas que lá havia as doze mais bonitas. Também aproveitou para comprar os incensos, com os quais iria aromatizar o ambiente completando a atmosfera de sensualidade aconchegante que queria imprimir ao ambiente. Uma atmosfera que dissesse sem palavras: Seja bem vindo, eu te amo!
Retornando ao apartamento, ela colocou as flores em um vaso com água fresca para que não perdessem o viço, e foi logo cuidando da segunda fase do seu plano. Ela havia comprado para ele, um lindo roupão cinza grafite atoalhado e bem macio, que embrulhou cuidadosamente em papel de seda branco aromatizado com o seu perfume, que também era de rosas... rosas inglesas, amarrando o embrulho com uma fita de seda azul, finalizado com um lindo laço onde colocou uma das rosas que havia comprado. Em uma caixa de papelão tesaurizada na cor prata escovada com tampa na cor azul, do mesmo tom da seda do laço do outro embrulho, ela arrumou delicadamente bombons que mandou fazer com as iniciais do seu amor gravadas a mão e em dourado sobre cada um deles. E como não poderia deixar de ser, essa embalagem também foi finalizada com um lindo laço de fita. Só que dessa vez, em toule prateado que serviu de encaixe para um cartão com uma dedicatória apaixonada e uma poesia que ela mesma escreveu.
Ambos os embrulhos foram estrategicamente depositados sobre a cama, que foi coberta por um tapete de pétalas de rosas que se estendeu até a porta de entrada. Os incensos foram acesos e tudo estava pronto...
Era chegado o momento de se preparar para o tão desejado encontro. Ela se dirigiu ao banheiro onde banhou-se como uma sacerdotisa que purifica o seu corpo para ser oferecida no altar aos deuses. Iniciou seu ritual com um sabonete neutro, retirando do seu corpo as impurezas. Depois esfoliou com um creme de abricó e água de coco por entre as pernas, seios, enfim... todo o seu corpo, suavizando a sua pele para o toque das mãos do seu homem. Logo após, envolveu seu corpo em um sabonete mousse de rosas, que preparou seu corpo para ser massageado com óleos aromáticos enquanto ainda úmido. E assim estava pronta para o vestido, sentindo-se mais mulher e mais fêmea do que nunca!
E lá estava sobre a cama, entre flores e presentes o seu vestido verde. Ao seu lado, um body todo em renda preta, com a transparência da sugestiva da sedução. A toalha que a envolvia, escorregou pelo seu corpo e caindo ao chão. Ela então pegou o body e foi vestindo lentamente foi deslizando pelas pernas, coxas... quadris, barriga... até chegar aos seios, que foram primorosamente acomodados naquele bojo rendado. Só então ela vestiu o vestido... Verde, simples, ambíguo, porém sugestivo. Que deixaria o seu amado na incerteza, que só se certificaria quando o vestido aos seus pés caísse desvendando o body preto.
Por fim, uma linda sandália deixando à mostra pés bem cuidados, com unhas bem feitas, pintadas com esmalte claro, transparente quase ingênuo, com uma pequenina flor branca no canto interno de cada grande dedo. E ela seguiu para o aeroporto...
... Ansiosa, feliz, num turbilhão de emoções afloradas na sua pele e exaladas no seu cheiro feminino. Que ao avistá-lo em contradição aos anseios ovacionados por seu útero de mulher, sorriu-lhe um sorriso doce e tímido de menina no primeiro encontro. Sorriso esse, que foi adornado ali no saguão do aeroporto Tom Jobim, entre chegadas e partidas, por um beijo de amor. um beijo... Cujo gosto conheço muito bem. Pois que ainda hoje, guardo comigo... O vestido.