Os Teimosos do Reino (Parte 2)
Continuação.
....de se despirem e ali mesmo com seus corpos nus, trocarem os fluidos do amor. A excitação era tamanha que ele a quis ali mesmo no meio do terreiro à beira da fogueira. Mas um lapso de prudência em meio àquela explosão voluptuosa de desejos o conteve e ele se lembrou de uma pequena casa onde se guardava as ferramentas do sítio. E nessa tapera, tendo uma simples esteira como leito, eles se amaram como se mais nada existisse à volta deles e apenas a lua cheia foi testemunha daquele ato sublime.
O dia já raiava quando ela acordou, estava recostada ao peito nu dele e pensou que o mundo pudesse acabar naquele dia e ainda assim estaria feliz. E pensou também que aquele momento poderia congelar-se no tempo e não acabar jamais, tal o contentamento que sentia. Ele também despertou e a viu deitada sobre seu peito e acariciou os cabelos dela.
Aquelas três semanas foram mágicas, os dois se encontravam todos os dias no sito, porem nunca falavam sobre a partida dela. Eles queriam viver intensamente aqueles momentos e não queriam perder um minuto sequer falando sobre despedida. Mas o inevitável dia da partida chegou. Eles se encontram no sitio e se amaram sem antes dizerem qualquer palavra. Não obstante sabiam que não tinham muito a dizer, pois tinham ciência de que aquele romance tinha um prazo determinado para acabar. Ele procurava palavras para dizer adeus e não encontrava. Ela tentava achar algo para falar, porém imaginar que jamais teria as carícias dele, a deixava um tanto atrapalhada. Mas enfim uma idéia lhe ocorreu à mente e ela com um rubor de alegria no rosto lhe perguntou: ”porque você não vai comigo para o Espírito Santo? Você pode conseguir um emprego lá ou pode ser músico, lá é uma capital tem mais oportunidades!” Ele, porém não se entusiasmou e disse que não seria possível, que tinha toda uma vida ali, tinha seus amigos, os Teimosos do Reino, que ele adorava. Não podia ir embora. Ela sabia no fundo que sua idéia era inviável, foi apenas um insit que passou em sua cabeça ao imaginar que não mais o veria, que teria de se afastar dele. Então se despediram num longo e apertado abraço até que ela se afastou enxugando as lágrimas e entregou-lhe uma carta e pediu que ele só a lesse quando ela já tivesse partido. Ele pegou o papel tentando esconder as lágrimas no rosto e pediu desculpas por não ter coragem de deixar tudo e ir com ela para o Espírito Santo. Ela disse que não eram necessárias desculpas, afinal ela entrara em sua vida há apenas três semanas, enquanto seus amigos e toda a sua vida ali no Vale do Sol existiam desde a sua infância. Ele agradeceu por ela o compreender e isso lhe aumentou a consciência da mulher que ela era e que ele estava perdendo. Mas Joaquim, entre outras características que possuía, era racional e sabia que aquela dor que sentia naquele momento logo passaria e tão logo ele esqueceria aquela mulher que mexeu com seus sentimentos como nenhuma outra o fez antes. Beijaram-se mais uma vez e ela partiu.
Na carta que deixou, Rosa falava do que sentiu ao estar com ele, dizia o que ele significou para ela, confessou que nunca havia sentido algo parecido e revelou um detalhe picante: disse que jamais fez um sexo tão bom como eles fizeram. Deixou também seus endereços físico e virtual, além de números de telefones, caso ele quisesse manter contato. E junto com a carta uma correntinha com um pingente: a metade de uma laranja.
Cinco meses se passaram desde aquele dia da despedida e o que ele pensou ser passageiro não passara. Não havia um dia sequer que ele não pensasse nela. Falavam-se sempre por correio eletrônico, mas, assim como apenas palavras não eram satisfatórias no início, agora as mensagens eletrônicas e telefonemas também não eram.
Era um domingo à tarde e fazia sol, ela andava pela orla no centro de Vitória próximo ao porto, quando seu celular tocou, o número era desconhecido. Ela atendeu e uma voz masculina no outro lado da linha disse: “vá até a praça do centro, tem uma surpresa para você lá”. Hesitou a princípio, mas foi. Na praça havia algumas pessoas, o que lhe deixou mais serena. Olhou em volta da praça e sentou-se num dos bancos e pôs-se a esperar pela tal surpresa. Alguns minutos depois ouviu uma voz atrás de si: “espero que goste da surpresa”. Ela reconheceu logo aquela voz. Virou-se e nem sequer contornou o banco; pisou no assento, subiu no encosto do banco e saltou em cima dele beijando-o. Abraçaram-se como que dissessem que nunca mais se afastariam um do outro.