Casando de novo.

Eu não acreditei quando o vi abrir o portão do jardim da casa. O vi pela janela do meu quarto. Passei a tarde em uma cadeira perto da janela. O dia de sol estava lindo. Mas minha saúde não me permitia sair e ficar no jardim como fazia quando criança.

Não acreditei nos meus olhos, me levantei e fui pro espelho. Me vesti da melhor forma possível. Penteei os cabelos. É verdade que não fiquei propriamente bonita. A doença me deixou muito magra e com olheiras fundas.

Mas me esforcei por descer as escadas. Nesses três dias que passei na casa do meu pai melhorei bastante. Ele tinha chamado os melhores médicos.

Quando enfim cheguei à sala eles dois já estavam brigando. “Vou levá-la de volta” “não, não vai.”

A briga parou quando me viram. Ambos agora se uniram para ralhar comigo por estar me esforçando tanto.

- De toda forma, disse ele, vou levá-la de volta.

- Já disse! De minha casa ela não sai. É minha filha!

- É minha esposa.

- Esposa. Você sequer cuida dela. Ela está fraca. Aqui eu chamo os melhores médicos. Você nunca foi homem para ela.

- papai, eu disse com alguma dificuldade, posso falar com ele... – como ele não saia – a sós?

Meu pai se retirou amaldiçoando o dia em me casei. Ele fez isso todos os dias nos últimos 5 anos. E muito mais, depois que a doença tomou conta de mim.

- você tem que voltar para casa – ele disse logo que meu pai saiu.

- Não vou. Aqui eu estou bem. E você enfim está livre de mim.

- livre...?

- Um estorvo. Eu sei que é isso que você acha.

Sentei-me, não conseguia mais me manter de pé.

- Nunca disse isso.

-Sei que é o que você pensa.

- Foi seu pai que colocou isso na sua cabeça. Se você um estorvo, o que eu estaria fazendo aqui?

- tentando agarrar a herança dela. – Meu pai falou vindo para a sala. Óbvio que tinha ouvido tudo. Postou-se atrás de mim. – Agora vá embora. Nunca cuidou direito da minha filha.

- Eu trabalhei nos últimos 2 anos pra fazer o melhor por ela.

- que por sinal não foi quase nada.

- E você o que fez? Viu sua filha doente. Nunca deu um centavo pra ela.

- Se eu desse dinheiro a ela, você que gastaria... com outras mulheres.

-E ainda foi até minha casa, envenenar a cabeça dela e fazê-la sumir. Eu enlouqueci nos últimos 3 dias.

Agora ele já estava gritando.

- Azar o seu. Na herança da minha filha você não encosta.

- Não quero seu dinheiro. Nós dois não precisamos.

Os dois estavam brigando como se eu não estivesse presente. Até que eu comecei a chorar. Desespero, mágoa. Não sei. acreditei nas palavras do meu pai, quando há três dias ele foi lá em casa. Me disse coisas horríveis. "um homem tem necessidades, filha, é triste, mas claro que você nesse estágio da doença não pode conviver com um homem. Logo ele vai procurar outras mulheres. Se é que não procura já agora." E eu recordei das horas em que ele ficava calado. Pouco conversava. chegava mais tarde um pouco do trabalho. Dizia que estava cansado, conversava um pouco e logo ia dormir.

Quando aceitei o convite do meu pai para voltar para a casa dele achei que estaria livrando alguém de um casamento forçado.

Mas agora vendo ele ali, brigando com meu pai, enfrentando-o por minha causa, porque me queria de volta. Não aguentei e comecei a chorar.

Ele se ajoelhou na minha frente e disse com a voz mais doce que já tinha ouvido:

- Vamos para casa Hanny, eu trabalho o dobro se for preciso. Eu vou conseguir pagar as mesmas coisas que ele paga para você. Eu vou fazer o melhor para curar você. Você vai ficar bem.

Me levantei com alguma dificuldade, disposta a ir embora. Não sabia onde estava com a cabeça quando aceitei voltar para a casa do meu pai.

- Se você for com ele Hanny, não vai ter sequer um tostão do meu dinheiro. – O aviso foi mais para ele que para mim. Mas eu que respondi.

- Até mais, papai.

Dei dois passos vacilantes. E o meu marido me colocou nos braços e foi como se eu estivesse casando de novo.

Karine Maria Lima
Enviado por Karine Maria Lima em 08/04/2011
Reeditado em 08/04/2011
Código do texto: T2897553
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