La lluvia
“La lluvia hoy mojará mi ropa si no estás aquí
Si tú no estás me duelen más los años
Las heridas me hacen daños
Si no vuelvo a oír tu voz...” ♪
Caminhava sob a chuva, sem vontade alguma de voltar para casa. Fariam 6 anos de namoro, caso ele estivesse lá. Felizes, juntos, talvez noivos... Mas há dois anos ele havia desaparecido sem deixar nenhum rastro. E, desde 20 de fevereiro de 2009, a vida deixou de ter sentido para ela.
Já havia doído tanto que a ferida cicatrizara-se sozinha, sem incomodar como antes. Ao invés de chorar descontroladamente ao ver cada coisa que o lembrava, sorria. Deu centenas de sorrisos para esconder milhares de lágrimas.
Buscou dez, vinte, até quarenta razões para ele ter sumido naquele inverno, mas nenhuma tinha senso. Ele não fugiria com outra mulher, não, isso jamais. Acreditava que ele havia sido sequestrado por alguém que não pediria resgate ou que talvez ele quisesse um tempo só para ele. Porém dois anos era tempo demais.
Conheciam-se desde a infância, estudaram sempre juntos, por morarem em cidade pequena. Não se desgrudavam por um só segundo, desde quando eram apenas melhores amigos. Sabiam tudo que se passava com o outro, não havia segredos entre eles.
“If someone said three years from now you'd be long gone
I'd stand up and punch them out, cause they're all wrong
I know better, cause you said forever
And ever... Who knew...” ♪
Mais de 700 dias jogados fora pensando nele e em sua ausência. Eram incalculáveis as chances que ela havia perdido, por esperar uma volta repentina. A família já havia desistido de tentar reerguê-la. Pensavam que quando chegasse ao limite, pediria ajuda para sair daquela situação. Mas parecia que ela adorava acomodar-se ao fundo do poço com suas recordações e seus falsos sorrisos.
Tantas promessas feitas para que ele voltasse que nem ela se lembrava de todas. Lembrava-se apenas de sentir falta dele. Cada vez que fechava os olhos, via seus olhos verdes. Guardava na lembrança o último beijo que deram. Cada dia que passava era como se o sol não nascesse. Se ele não estava com ela, ela perdia a essência de ser. E aquele domingo chuvoso acentuava bem isso.
Também poderia ser diferente. Ela poderia ter descoberto uma traição, alguém poderia ter surgido na vida dele ou o amor poderia ter acabado. Ela preferiria que fosse assim, já que teria raiva dele, ao invés de sentir uma saudade incontrolável.
Sentou-se na guia da calçada, cabisbaixa, enquanto sentia a chuva se misturar a suas lágrimas. Fraquejou por não aguentar mais forçar sorrisos. Ele não tinha o direito de fazer aquilo, não com ela. Soluçava cansada de esperar e de inventar desculpas para não continuar sua vida, mesmo após todo esse tempo.
Ignorou quem se sentou ao seu lado, queria que fossem à merda todos os que riam de seu desespero. Um abraço caloroso a envolveu e o choro dele a despertou do transe. A feição era a mesma, exceto pela barba. O perfume ele havia trocado, mas não quis pensar em mais nada e o beijou. As lágrimas de ambos se misturavam aos sorrisos. Parecia até que não se viam há apenas algumas semanas.
“Um dia eu voltaria.” – Ele disse fitando-a.
“Eu nunca duvidei disso.” – Ela respondeu ternamente.
Enquanto a noite caía, aninharam-se nos braços um do outro. As perguntas, provavelmente, não seriam feitas. A felicidade não poderia ir embora outra vez.
“Nubes, viento, miedo, lluvia, noches grises ni una luna
Otro invierno de oscuridad
Tú me besas, tú me curas
Tu calor y tu ternura no lo dejan entrar...” ♪