TERAPIA DA SAUDADE.
Apanhou lápis,papel e inspiração, tinha uma enorme bagagem de
saudades camuflada que abafava seu peito arfante e quase a sufocava.
Não, não era justo calar a alma que queria gritar e desabafar, quem sabe até desaguar a tristeza contida em uma espécie de barragem interna que parecia querer se vazar.
Ah, não ia calar a mente, as mãos e o papel, seu instrumento de protesto contra o que a fazia soluçar, engasgada de lágrimas de recordações do que jamais passaria de suave ou forte saudade.
Começou a grafitar a folha em branco e pouco a pouco via surgir traços, descompassos, laços que a unia a todos os tempos verbais de uma só vez.
O passado de volta ao presente que quando chega já é futuro, a remeteu quase via sedex 10 ao tempo distante e paradoxalmente logo ali ao alcançe da mente que trazia em meio as recordações o som da voz, a alegria da risada livre, o calor do abraço e as lágrimas de tristeza no momento da partida.
Mas voltou a seu melhor psicanalista: o papel. Conversou, confessou e novamente chorou, sofreu, sorriu, amor, foi feliz/infeliz, amou/desamou e aprendeu que nunca se esquece o passado sem se levar dele as marcas,as dores/alegrias ...
... Nunca se esquece o passado que volta á cada nova viagem
ao fundo da alma.
Voltou ao papel e seguiu fazendo um rascunho de sua própria vida, se reinventou e seguiu manchando a alva folha, molhada com lágrimas. Terapia da saudade.
Márcia Barcelos.