Relato de Orfeu a um rei anônimo
Senhor, tenho de lhe contar sobre tal perfeita forma que vi.
eu estava a sombra de uma árvore a tocar minha lira quando avistei
o seu semblante.
Ao longe, em meio a relva, ela olhava em minha direção.
a sua frente tinha uma tela e, as mãos, pincel e paleta.
e era tão perfeita aquela forma
sua pele morena, tão suave quanto os lírios que nos rodeavam,
reluzia como bronze. E o acastanhado dos seus olhos a refletir
o sol taciturno que nos iluminava
O, meu senhor, o som da minha lira ecoava
enquanto as ninfas dançavam e rodopiavam a minha volta,
mas incomparáveis aos movimentos contínuos e suaves
dela desviando o vento com seus golpes de pincel
naquela tela. O que pintava não sei.
mas nem as dríades e neríades, que me circulavam
seriam tão belas e delicadas quanto ela era.
O, meu rei, eu não acredito que tal forma possa ser mundana
ou possua alguma falha.
medo tive eu de me aproximar e perceber que se sumiria com o vento.
como um sonho...
por favor, meu senhor. tentei descrevê-la em notas
de minha musica, mas não creio, que um som mortal possa definir
o que seja deleitar os olhos naquela forma tão delicada
e sinto que sinado estou a procurar algo na terra
de todos os mares, que tenha o canto
definível daqueles movimentos
eu iria ate o inferno por ela
e no meio da ida
se preciso, daria a minha vida
para salvar a vida dela