Relato de Orfeu a um rei anônimo

Senhor, tenho de lhe contar sobre tal perfeita forma que vi.

eu estava a sombra de uma árvore a tocar minha lira quando avistei

o seu semblante.

Ao longe, em meio a relva, ela olhava em minha direção.

a sua frente tinha uma tela e, as mãos, pincel e paleta.

e era tão perfeita aquela forma

sua pele morena, tão suave quanto os lírios que nos rodeavam,

reluzia como bronze. E o acastanhado dos seus olhos a refletir

o sol taciturno que nos iluminava

O, meu senhor, o som da minha lira ecoava

enquanto as ninfas dançavam e rodopiavam a minha volta,

mas incomparáveis aos movimentos contínuos e suaves

dela desviando o vento com seus golpes de pincel

naquela tela. O que pintava não sei.

mas nem as dríades e neríades, que me circulavam

seriam tão belas e delicadas quanto ela era.

O, meu rei, eu não acredito que tal forma possa ser mundana

ou possua alguma falha.

medo tive eu de me aproximar e perceber que se sumiria com o vento.

como um sonho...

por favor, meu senhor. tentei descrevê-la em notas

de minha musica, mas não creio, que um som mortal possa definir

o que seja deleitar os olhos naquela forma tão delicada

e sinto que sinado estou a procurar algo na terra

de todos os mares, que tenha o canto

definível daqueles movimentos

eu iria ate o inferno por ela

e no meio da ida

se preciso, daria a minha vida

para salvar a vida dela

Cadu Guerra
Enviado por Cadu Guerra em 21/03/2011
Reeditado em 22/03/2011
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