Quero Explodir Paris

Eu não podia obrigá-lo a me amar. Agora tenho certeza disso porque já se esgotaram todas as minhas tentativas de trazê-lo para mim. E ele não veio. Pior, foi embora e agora, provavelmente, está sobrevoando algum país do oeste da Europa e logo estará em Paris. Logo terá um encontro com a maldita noiva na cidade luz, noiva que só chamo de maldita porque ele mesmo a chamou assim... “Maldita”, e na noite seguinte disse – com milhares de explicações e lágrimas – que teria que viajar, que não podia fazer nada de diferente que era obrigado... Eu tento, mas não consigo acreditar naquele amor que ele me jurou por tantas vezes, quase toda noite nesse mesmo quarto de hotel. Se me amasse não teria ido e só, fim, não há outra alternativa. Comigo foi diferente, na verdade ainda é. Eu ainda o amo, amo desesperadamente e estou aqui outra vez, no mesmo hotel, no mesmo quarto, bebendo há umas quatro horas... porque isso, esse lugar me faz ter certeza de que foi tudo realmente verdade, pelo menos aqueles momentos eu preciso ter certeza de que foram reais, preciso ter certeza de que ele estava mesmo aqui... comigo, porque depois de algumas horas da partida ele começa a desaparecer de algum modo, é inevitável.

Ele deixou um número de telefone e um endereço, rasguei-os na mesma hora, não tenho interesse em ficar com fragmentos esporádicos de uma pessoa que está em outro continente, sou realista e sei que um oceano de distância altera muita coisa. E o que fazer depois de terminar a ligação? O que ele iria fazer? Ficar com a noiva, possivelmente, já eu tenho certeza que estaria estilhaçado por dentro.

Tudo o que tenho são algumas fotos nossas, porém já derramei um pouco do uísque sobre elas e o isqueiro vai me ajudar a acabar com todas e quando o fogo terminar de consumi-las eu vou deixar esse quarto e esquecer esse assunto definitivamente.

Estou aqui há quatro horas, sei que estou quase bêbado e já chorei até meus olhos começarem a queimar. Basta! Ele se foi e eu não vou sofrer para sempre... As fotos já estão queimando, acabei com as duas garrafas que trouxe e agora vou embora, vou atravessar aquela porta e nunca mais voltarei aqui, farei o máximo para esquecer e vou tentar minimizar a dor.

Faz pouco tempo mas já sinto muitas saudades, tenho vontade de explodir Paris, ele e a maldita, mas sei que vou ficar aqui e... talvez fique tudo bem logo.

Olavo Ataide
Enviado por Olavo Ataide em 17/03/2011
Reeditado em 18/03/2011
Código do texto: T2853778
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