Eu sentei ao lado do rio e ele me completou
O barulho da chave na porta parecia uma bateria de instrumentos. Tive a sensação de cair ao chão e voltar ao céu quando o vejo surgir na porta. Belo, radiante, o perfeito de sempre. O cabelo caindo na testa do jeitinho que gosto, teu profundo e sereno olhar fixos nos meus e seus lábios entreabertos como se fosse dizer algo. Neste primeiro momento não sei o que fazer. Estou esperando você pelo menos me convidar para entrar, mas creio que esteja mais sem reação do que eu. – Bom... Posso entrar? Pergunto timidamente. Você permanece mudo, mas libera um pouco de espaço. Cada cômodo deste apartamento é reconhecível. Cada detalhe enterrado profundamente em minhas memórias como um tesouro. Sigo diretamente para o sofá, sento e pego um travesseiro. Sabe-se lá o que vai acontecer, uma proteção ou conforto é bom ter em mãos. Você senta-se a uns centímetros de mim ainda sem falar nada. Isso me fez lembrar quando fui ao sítio do meu falecido avô e sentei ao lado do rio que tinha atrás do celeiro. A sensação dos pés sendo arrastados suavemente pela correnteza do rio e a forma como tudo naquele lugar me completava. Assim estou me sentindo agora, sentada ao teu lado e como tudo aqui me faz sentir completa novamente. Estou te olhando tanto que deve estar preocupado se tem uma mancha de ketchup no canto da sua boca. Igual aquela vez no Mc, você ficou com a boca toda suja e eu tinha que limpar tudo. – Então Gabriel...
Coisa simples para onde você foi?
– Como tudo isso foi acabar assim?
Olho para você tentando mostrar que esta pergunta não foi exatamente uma pergunta. Foi mais um desabafo, um murmúrio escapado dos meus pensamentos. Sem perceber, minhas mãos ficam a apertar o travesseiro. Que reação fora de hora. Respiro profundamente antes de retornar aos seus olhos e continuar a falar. – Não sei... Você responde. Parece estar procurando alguma coisa em suas memórias, o olhar perdido na janela sendo banhada pela chuva. – Eu também não sei... Estava indo tudo tão bem e do nada acabou. Não ouvi sequer um adeus naquela tarde. Você indo embora... Minha voz some. Minhas forças estão sobrecarregadas, estou lutando para que a primeira lágrima não caia. – Por favor, Luiza não chore. Sabe perfeitamente que odeio a ver chorar, ainda mais por mim. Durante estes dois anos de namoro fiz de tudo para que não a machucasse. Mas explicar o que houve para tudo terminar desta forma é difícil para mim... Sua voz some também. – Tão simples esta pergunta, para onde nosso amor foi? E tão difícil de entender o porquê dele ter ido. Nunca senti olhar tão fixamente teus olhos como agora. Parece que, se eu o desviar por um segundo o mundo pode acabar e não ter outra chance de dizer que o amo.
Continua.
O barulho da chave na porta parecia uma bateria de instrumentos. Tive a sensação de cair ao chão e voltar ao céu quando o vejo surgir na porta. Belo, radiante, o perfeito de sempre. O cabelo caindo na testa do jeitinho que gosto, teu profundo e sereno olhar fixos nos meus e seus lábios entreabertos como se fosse dizer algo. Neste primeiro momento não sei o que fazer. Estou esperando você pelo menos me convidar para entrar, mas creio que esteja mais sem reação do que eu. – Bom... Posso entrar? Pergunto timidamente. Você permanece mudo, mas libera um pouco de espaço. Cada cômodo deste apartamento é reconhecível. Cada detalhe enterrado profundamente em minhas memórias como um tesouro. Sigo diretamente para o sofá, sento e pego um travesseiro. Sabe-se lá o que vai acontecer, uma proteção ou conforto é bom ter em mãos. Você senta-se a uns centímetros de mim ainda sem falar nada. Isso me fez lembrar quando fui ao sítio do meu falecido avô e sentei ao lado do rio que tinha atrás do celeiro. A sensação dos pés sendo arrastados suavemente pela correnteza do rio e a forma como tudo naquele lugar me completava. Assim estou me sentindo agora, sentada ao teu lado e como tudo aqui me faz sentir completa novamente. Estou te olhando tanto que deve estar preocupado se tem uma mancha de ketchup no canto da sua boca. Igual aquela vez no Mc, você ficou com a boca toda suja e eu tinha que limpar tudo. – Então Gabriel...
Coisa simples para onde você foi?
– Como tudo isso foi acabar assim?
Olho para você tentando mostrar que esta pergunta não foi exatamente uma pergunta. Foi mais um desabafo, um murmúrio escapado dos meus pensamentos. Sem perceber, minhas mãos ficam a apertar o travesseiro. Que reação fora de hora. Respiro profundamente antes de retornar aos seus olhos e continuar a falar. – Não sei... Você responde. Parece estar procurando alguma coisa em suas memórias, o olhar perdido na janela sendo banhada pela chuva. – Eu também não sei... Estava indo tudo tão bem e do nada acabou. Não ouvi sequer um adeus naquela tarde. Você indo embora... Minha voz some. Minhas forças estão sobrecarregadas, estou lutando para que a primeira lágrima não caia. – Por favor, Luiza não chore. Sabe perfeitamente que odeio a ver chorar, ainda mais por mim. Durante estes dois anos de namoro fiz de tudo para que não a machucasse. Mas explicar o que houve para tudo terminar desta forma é difícil para mim... Sua voz some também. – Tão simples esta pergunta, para onde nosso amor foi? E tão difícil de entender o porquê dele ter ido. Nunca senti olhar tão fixamente teus olhos como agora. Parece que, se eu o desviar por um segundo o mundo pode acabar e não ter outra chance de dizer que o amo.
Continua.